"Diziam 'tem que morrer, esse chavista, tem que morrer por chavista'. Todos estavam encapuzados. Todos tinham paus, pedras, bombas. Um deles dizia 'mata ele, mata ele', até que me lancou a bomba (coquetel molotov) e eu saí dando pulos tentando apagar o fogo com o chão. Corri e me perseguiram, a polícia (do município de Chacao) estava perto e não se meteu. Os únicos que se meteram foram os bombeiros, pediam que não me matassem", relatou Ramírez, que enquanto caminhava perto de uma mobilização opositora, foi atacado por estes indivíduos que durante as últimas semanas mantém em estado de sítio este bairro da cidade.
Os grupos radicais são apoiados pelos porta-vozes agitadores da autodenominada Mesa da Unidade (MUD), que apresenta características comuns com os movimentos fascistas surgidos em distintos momentos da história.
O fascismo é uma doutrina política e social surgida na Europa após a primeira guerra mundial, que implanta um domínio absoluto do Estado e suas ações por parte da elite econômica apropriada do grande capital, e sua ideologia totalitária se impõe através de expressões de ódio visceral e rechaço à diversidade de ideias.
Este tipo de ações é muito parecido ao que realiza a dirigência opositora ligada à oligarquia venezuelana que defende a ideologia do capital, o neoliberalismo e a diminuição da participação do Estado na economia nacional, em benefício da elite econômica empresarial, nacional e transnacional, por cima dos interesses da maioria trabalhadora e do bem-estar social.
Uma das características do fascismo é o rechaço absoluto ao marco democrático para a tomada do poder político, com o uso da violência como braço executor fundamentando no anticomunismo.
Durante as últimas semanas tem sido frequentes os chamados destes líderes a "resistir" mediante a geração de focos violentos precedidos pelos chamados "trancaços" ou "manifestação pacífica" impostos pela força ao resto da cidadania para provocar uma interrupção inconstitucional do governo legítimo.
"Cada dia na rua é um dia menos de Nicolás Maduro no poder, sigamos até vencer a ditadura"; "seguiremos na rua até conseguir a liberdade", são algumas das mensagens que enviou o deputado Freddy Guevara, dirigente nacional do partido de extrema-direita Vontade Popular (VP), principal porta-voz da coligação opositora.
O resto dos dirigentes da direita mantém uma linha violenta, como o governador de Miranda, Henrique Capriles, que durante a concentração opositora do dia 20 de maio lançou um discurso agressivo com insultos contra o presidente Maduro.
"Vamos, até que o povo aguente. Se temos que deixar o couro, deixaremos", gritou Capriles de forma exacerbada aos seguidores e "grupos de choque" presentes na concentração. O resultado foi mais uma das jornadas de vandalismo na capital desde abril.
Desta forma a dirigência radical da oposição venezuelana, negando de forma absoluta a vontade da maioria de venezuelanos que elegeram o presidente da República, Nicolás Maduro, constrói uma narrativa que justifica a violência como forma de fazer política.
Já nos meios de comunicação comerciais se impõe a narrativa épica de jovens venezuelanos que "resistem" em batalha contra um regime totalitário e para isso utiliza as imagens promovidas por este grupo de encapuzados que, com um nacionalismo exacerbado, usam a bandeira, escudo nacional e inclusive a Constituição —que seus dirigentes anularam durante o golpe de Estado de 11 de abril de 2002— dentro de suas expressões fascistas.
Enquanto a Polícia Nacional Bolivariana e Guarda Nacional Bolivariana contém estas turbas violentas com o uso exclusivo de bombas de gás lacrimogêneo e água (métodos avalados pelos parâmetros internacionais) para dissipar os grupos violentos que destroçam bens públicos e privados, impedem o livre trânsito da cidadadania, sequestram urbanizações e comunidades, e durante as últimas manifestações realizam linchamentos contra aqueles que mostram uma visão política diferente.