O caricaturista e escritor Eduardo del Río Rius, faleceu na madrugada desta terça-feira (08), aos 83 anos, em sua casa na cidade de Tepoztlán, no México. Rius era cartunista e chargista mexicano, foi um grande formador de consciências na sociedade mexicana.
Citlali del Río, filha de Rius, disse que ela e a sua mãe, Micaela, perderam-no fisicamente, mas que todo o trabalho do desenhista continua com elas e com todos aqueles que riram com as suas caricaturas e que leram seus livros.
No velório, estiveram presentes integrantes das frentes em defesa de Tepoztlán que lamentaram a morte do artista, um importante companheiro das lutas na cidade.O Movimento pela Paz com Justiça e Dignidade relembrou a participação de Rius na campanha "No más sangre", contra a violência e a insegurança no estado e no país, que é promovida desde 2011 no estado de Morelos, onde está localizada a cidade em que vivia o autor.
Durante homenagem em dezembro do ano passado, na Cidade do México, o cartunista, que estava diagnosticado como doente terminal de câncer, disse com o humor de sempre:
"[doente terminal] é alguém que vai morrer, então somos todos doentes terminais. Agora mesmo os médicos estão cuidando de mim e me garantiram que vou morrer com a saúde perfeita".
O humor, única vingança
Reconhecido pelo Prêmio Nacional de Jornalismo do México em 1987 e em 2010, Rius estava convencido de que o humor era uma área menosprezada pela filosofia.
O caricaturista via o humor como uma maneira de tornar mais leve a difícil realidade do México e dos mexicanos. "Sem humor, não sei onde esse povo vai parar. A única vingança que temos é rirmos de quem está nos prejudicando. Sem humor este povo já teria desaparecido, já seríamos outra estrela na gloriosa bandeira gringa" [em referência à bandeira dos Estados Unidos].
Rius nunca assumiu seu trabalho dentro da charge e da caricatura como uma revanche contra os poderosos, mas o enxergava como uma defesa daqueles que não têm voz.
"Procurei politizar, conscientizar aos leitores. Que tomem consciência do que é este país, de como estamos mal e do que podemos fazer para mudá-lo".
Entre os livros do autor publicados no Brasil, estão "Cuba para principiantes", de 1966, "Conheça Che Guevara" e "Conheça Marx", em coleção organizada pela Editora Proposta.
Despedida particular
Em sua autobiografía Mis confusiones: memorias desmemoriadas, ainda não traduzida para o português, Rius escreveu que travou "toda a luta que lhe cabia para conseguir que as coisas melhorassem no México e que não a abandonaria, pois se considerava um marxista-masoquista que não jogava a toalha".
Entre o amor e o humor transcorreu a longa e prolífica vida do cartunista nascido no dia 20 de junho de 1934, em Zamora, no estado de Michoacán, no México, ícone da caricatura política e da literatura política do México do século 20, que se manteve ativo até o último momento.
Postulava que "alguém se torna velho quando se sente velho, e eu ainda não me sinto um. Talvez porque continuo trabalhando. Se deixo de fazê-lo, caio na velhice e não vou perceber".
Rius é autor de mais de 110 livros, que tratam de religião até história, de economia a nutrição, de educação ao marxismo, de sexo à filosofia.
Um escritor mexicano já falecido, Carlos Monsiváis, afirmava que no México havia três instituições educativas: a Secretaria de Educação, a televisão e Rius.
"Dediquei toda a minha vida não a educar as pessoas, mas a criar um pouco de consciência. Os resultados cada um pode definir", dizia o desenhista.
‘‘Escrevo meus livros como um modo de aprender. Não tenho nada além de um diploma até a quinta série. Então, ao mesmo tempo que estou fazendo um livro para que as pessoas aprendam sobre determinado tema, eu também estou aprendendo".
A biografia de Rius, que começou sua carreira em 1954 na revista mexicana de humor "JáJá", o caracteriza como uma pessoa" "inquieta e trabalhadora", que percorreu diferentes disciplinas e saberes.
Cuba para principiantes foi o seu primeiro livro. Nele, aborda temas importantes a partir do humor e da caricatura com uma linguagem acessível e amena. Essa fórmula também foi aplicada nas suas famosas historietas Los Agachados e Los Supermachos, publicadas no final dos anos 60 [sem publicação no Brasil].
Rius foi colaborador das revistas mais importantes do México e de jornais de circulação nacional, entre eles, o La Jornada.
Grande crítico do sistema político, do imperialismo, do consumismo e da religião, Rius gostava de dizer com sarcasmo que tinha um pacto com o diabo, o que permitiu que desenhasse por mais de seis décadas e "tornasse ateus" todos aqueles que estavam ao seu alcance.
Progressista, tinha a convicção de que era necessário "ressuscitar a esquerda" mais uma vez, ainda que afirmasse que já não podiam contar com ele, que mudar o país era algo que pertencia às novas gerações.
Edição: Camila Rodrigues da Silva | Tradução: Luiza Mançano