Alguns setores de oposição propuseram a abstenção, ao passo que outros segmentos oposicionistas defenderam a ampla participação do eleitorado. Vale lembrar que a oposição havia se unificado em torno da Mesa Redonda de Unidade Democrática – MUD, articulação, que contou com o apoio dos Estados Unidos para a promoção de ações de rua que visavam desestabilizar o regime, e que esta iniciativa praticamente desapareceu após as vitórias do governo nas eleições para a Assembleia Nacional Constituinte e para os governos regionais.
Os governos dos Estados Unidos e de outros países como Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Guiana, Honduras, México, Panamá, Paraguai, Peru e Santa Lúcia anunciaram que não reconhecerão o resultado da eleição, alegando que a abstenção foi muito grande e que houve indução ao voto no governo. Os EUA declararam que irão impor novas sansões econômicas à Venezuela.
Esse movimento reflete uma clara reação dos Estados Unidos à consolidação da revolução bolivariana, construída sobre a base de conquistas sociais, participação popular e uma postura política de não submissão aos interesses norteamericanos. Em forte contraponto, China, Rússia e outras nações anunciaram o reconhecimento da vitória de Maduro e declararam que exigem respeito da comunidade internacional ao resultado da eleição.
Não há dúvidas quanto à lisura das eleições na Venezuela. Mesmo o Conselho de Peritos Eleitorais da América Latina (CEELA), entidade que reúne representantes de setores conservadores de diversos países da região, afirma que as eleições venezuelanas são as mais auditadas do mundo, e o Conselho Nacional Eleitoral garante que as condições de hoje são as mesmas das eleições parlamentares de 2015, vencidas pela oposição. Quanto à abstenção, vale também lembrar que o voto, na Venezuela, não é obrigatório, e que presidentes de importantes países foram eleitos com índices semelhantes, como Macron, da França, que obteve 32% dos votos com 42% de participação do eleitorado, Peña Nieto, do México, 31% dos votos e 63% de participação, Santos, da Colômbia, com 50,9% dos votos e 47% de participação, e Trump, dos Estados Unidos, que obteve 45% e 54%, respectivamente.
A vitória de Maduro nas eleições presidenciais vem na sequência direta das vitórias políticas recentes que seu governo obteve, no enfrentamento – pacífico – às ações oposicionistas, seja na expressiva participação popular na eleição da Assembleia Constituinte, seja nas vitórias logradas pelo governo nas últimas eleições regionais do país. As duas vitórias eleitorais e a vitória política geral do governo foram uma clara resposta da população venezuelana à oposição, que, vencedora das eleições parlamentares de 2015, usou o controle que detinha sobre a Assembleia Nacional para paralisar o governo e apoiar os movimentos que desejavam o bloqueio da Venezuela pelos Estados Unidos e seus aliados. Ironicamente, os movimentos oposicionistas, que haviam tentado boicotar o processo constituinte, haviam ido às ruas, no ano passado, utilizando-se de meios violentos, para pedir eleições antecipadas.
A população venezuelana se uniu em torno de Maduro em meio ao conflito interno e ao cerco externo, reconhecendo que a defesa das conquistas sociais dos governos bolivarianos era essencial e apoiando as iniciativas do governo para enfrentar as dificuldades de abastecimento como a criação dos Conselhos Locais de Abastecimento e Produção, que permitiram o maior controle direto dessas atividades pelos cidadãos.
Maduro recuperou a governabilidade do país. Há, no entanto, muitas dificuldades e desafios a enfrentar, como a imperiosa necessidade de incrementar-se a produção industrial e agrícola interna, o maior controle popular sobre as empresas públicas, o combate à corrupção e o enfrentamento aos grupos capitalistas, com destaque para os importadores – alguns dos quais apoiam o governo – que não têm interesse em aprofundar a democracia, com mais participação direta e mais organização da população –, e em substituir as importações. É imperioso, ainda, que seja estabelecido um amplo leque de parcerias internacionais para a defesa e a garantia do desenvolvimento político, econômico e social na Venezuela.
Nesse caminho, o governo conta com a nova Constituição. Se os enfrentamentos e mudanças necessárias forem empreendidos, crescerá, certamente, o apoio e a participação popular, o que poderá abrir caminho para a consolidação da Revolução Bolivariana e para o avanço no rumo da construção do Socialismo.
O Diário Liberdade acompanhou as eleições do domingo na Venezuela em seu canal no Youtube com análises e informações no programa Conexão Caracas, com o correspondente Caio Clímaco direto da capital venezuelana. Assista e se inscreva no canal para não perder os próximos programas: