Os investidores estão em polvorosa com o iminente colapso da economia argentina. A imprensa hegemônica já não consegue esconder a decepção com o presidente que representava a grande esperança da direita no continente. E o povo argentino se prepara para as famosas barricadas que em 2001 fizeram Fernando de La Rúa correr pela porta dos fundos da Casa Rosada. Este episódio, conhecido como “Que se vayan todos”, é o cenário mais próximo da Argentina de Macri: recessão, inflação disparada, desemprego, informalidade, perda do poder de compra do salário mínimo e, por fim, nova rendição ao FMI.
Nesta semana, Macri pediu liberação antecipada de recursos “stand-by” da linha de crédito de US$50 bilhões que ele havia solicitado em junho ao FMI. A ação mostrou inconsistência na política econômica e abalou a confiança dos investidores que agora já não sabem se este empréstimo será suficiente para dar conta da crise.
Só neste ano a moeda argentina já perdeu mais de 45% de seu valor, ao mesmo tempo a inflação disparou e atingiu 31,2%. O Banco Central aumentou as taxas de juros para 45% ao ano e vendeu mais de US$13 bilhões em reservas. O pesadelo econômico obrigou Macri a fazer um pronunciamento em rede nacional na noite desta quarta-feira (29) para tentar acalmar os ânimos: “esta decisão visa eliminar qualquer incerteza” disse. Mas não convenceu. Os investidores estão inseguros e os trabalhadores prometem uma greve geral de 24 horas no dia 25 de setembro.
Segundo Macri, este pedido adiantado de recursos tem o objetivo de garantir o programa estabelecido com o FMI. Mas para o mercado financeiro, demonstrou que o governo já não sabe mais se terá condições de pagar a dívida. “Ao longo da semana vimos novas demonstrações de falta de confiança nos mercados, especialmente com nossa capacidade de financiamento em 2019”, disse o presidente durante o pronunciamento.
Ao atender o pedido da Argentina, a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, também se mostrou hesitante com relação à capacidade do país em manter o acordo. De acordo com ela, o Fundo vai “repensar o programa financeiro” com o país que representa a terceira maior economia da América Latina.
Ao tentar apagar o incêndio, Macri prometeu “acompanhar o apoio do FMI com todo o esforço fiscal necessário”. No entanto, este apelo ao Fundo, unido à recessão e alta da inflação vai desacelerar projetos de obra públicas o que impacta diretamente no cenário econômico de forma negativa. No começo do ano o governo anunciava um crescimento de 3%, agora o ministro da Economia, Nicolás Dujovne, já admite que o país vai, na verdade, retroceder 1%.
Se até poucos meses atrás a reeleição de Macri era vista como certa, hoje o cenário mudou e o campo progressista ganha novo fôlego para entrar com força na disputa de 2019. Uma vez que, após a crise de 2001, foi só com a chegada de Néstor Kirchner à presidência em 2003 que o país voltou a ter estabilidade econômica. Durante os 12 anos de kirchnerismo, a Argentina não recorreu ao FMI nenhuma vez e ainda conseguiu negociar o pagamento dos Fundos Abutres. Conquista esta que Macri abriu mão ao assumir a Casa Rosada, em 2016.
Ao dar uma guinada totalmente à direita, Macri prometeu investimentos externos que nunca chegaram; ao invés de gerar empregos afundou o país na maior onda de demissões da história recente e comprometeu a eficiência de serviços públicos principalmente nas áreas de Saúde e Educação.
Professores e estudantes estão em greve há mais de um mês, os sindicatos estão articulados para o maior paro nacional dos últimos tempos, os investidores pressionam de outro lado. Macri, que desmontou o Estado para apostar todas as suas fichas no mercado ficou a ver navios, porque o mercado não ama ninguém.