Em entrevista exclusiva à Prensa Latina, o ministro boliviano de Defesa, Reymi Ferreira, anunciou que esse centro com nível de especialização será inaugurado pelo presidente Evo Morales no Dia da Bandeira, com convidados da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (ALBA).
Para este acontecimento, explicou Ferreira, foram convidados ministros de Defesa e comandantes das Forças Armadas dos países da ALBA, com o interesse de que esta escola assuma os objetivos da Aliança e esteja aberta a receber oficiais e civis de países amigos.
A Escola Anti-imperialista, explicou, é uma iniciativa que nasce da necessidade de contra-arrestar a formação, doutrina e ideologia inculcada a oficiais latino-americanos pela Escola das Américas, uma cultura da morte que via inimigos externos e internos.
Infelizmente, agregou Ferreira, essa cultura chegava a considerar o povo um inimigo, como demonstram os vários massacres na Bolívia, a exemplo de Catavi, San Juan, Todos Santos, a de 1971, a de El Alto em 2003, Villa Tunari e a guerra da água em Cochabamba, entre outras.
Contra essa escola da guerra, da repressão e da morte, disse, há uma escola da vida, do compromisso nacional. Esse centro aponta a isso, com uma visão doutrinária que busca descolonizar a influência externa sobre nossas instituições militares.
Influência, explicou, que veio inicialmente da Europa e dos Estados Unidos e que têm instrumentado as Forças Armadas para proteger, sustentar e manter privilégios econômicos de potências estrangeiras, aliadas a grupos internos, seus sócios menores.
O ministro boliviano de Defesa destacou que os verdadeiros inimigos neste país nunca foram os sindicatos ou camponeses, que eram reprimidos e massacrados, mas aqueles que estiveram por trás do roubo de nosso território.
Listou, por exemplo, por trás da invasão chilena de 1879, estava o imperialismo inglês em busca de salitre e do guano, tão necessário naquela época para a indústria militar.
Por trás do roubo do Acre no norte em 1902-1903, estavam interesses de empresas imperiais inglesas, que influenciaram o conflito para a secessão, divisão e finalmente anexação desses territórios bolivianos ao Brasil, explicou o também politólogo e acadêmico.
Na guerra de El Chaco (1932-1935), agregou, os interesses de duas empresas rivais de petróleo, uma do Paraguai e outra da Bolívia, foram os propulsores de uma guerra sem sentido, fratricida, com mais de 100 mil mortos de ambos bandos.
O império sempre tem estado por trás de nossas divisões territoriais, mas também atrás de nossos recursos naturais: os minérios, o petróleo, o gás, enfatizou Ferreira.
Ficam então muito claros, enfatizou, os fatores contrários à nação e ao povo. É contra eles que as Forças Armadas devem se constituir em baluarte da defesa da soberania do território, de seus recursos naturais e do desenvolvimento de nosso país.
Acreditamos firmemente que nunca mais vamos ver um tanque ir à rua matar o povo, o que antes era comum e se considerava como um dever militar, disse e enfatizou a vontade de mudar doutrina da morte, deixada pela Escola das Américas, pela [doutrina] de proteger a vida.
Queríamos, disse, que o modelo de nossos oficiais sejam os militares German Busch, primeiro presidente anti-imperialista; Gualberto Villarroel, que abriu as portas à participação de camponeses; Juan José Torres e Hugo Ovando Candia, que nacionalizou o petróleo em 1969.
Esse é o objetivo desta escola, comentou, que tem o nome de Juan José Torres, quem expulsou os chamados "Corpos de Paz" em 1970-1971; nacionalizou várias minas, entre elas Mina Matilde; e apoiou um pacto com os trabalhadores e os universitários.
E apesar de Torres vir da instituição militar que combateu a guerrilha de Ernesto Che Guevara, foi quem libertou seus sobreviventes e os presos da guerrilha em Ñancahuazú e Teoponte, em um ato de reconciliação histórica, concluiu Ferreira.