Por meio de um comunicado assinado pelo Ministério de Relações Exteriores, o governo venezuelano declarou sua “profunda preocupação” pelo que chamou de “tentativa de introduzir fatores externos com capacidade nuclear em nossa Região” e lembrou que a política da OTAN é a guerra e a violência no mundo.
Na última sexta-feira (23), o presidente colombiano Juan Manuel Santos anunciou que recebeu uma carta da OTAN na qual a organização aceita o pedido de seu país, solicitado há quase dez anos, de iniciar conversas para participar de um “convênio de cooperação”. Trata-se do acordo de maior grau que a Aliança Atlântica pode fazer com um país que não é seu membro. “Me encheu de alegria e satisfação” a aceitação da OTAN, declarou Santos.
O acordo, se for confirmado nas negociações, servirá para tratar de temas de segurança, afirmou o general colombiano Juan Pablo Rodríguez. “Esse tratato de cooperação inclui especialmente temas relacionados à segurança, temas de intercâmbio de experiências na luta contra os diferentes agentes geradores de violência, contra o crime transnacional.”
Juan Manuel Santos dedicou a carta da OTAN aos militares e policiais de seu país, destacando que é um reconhecimento de que estão agora nos “padrões mais altos do mundo” e com um nível de excelência que os permite “falar de igual para igual com os melhores exércitos do mundo”.
Rodríguez ainda escreveu em sua conta no Twitter que tal convênio de cooperação permitirá à Colômbia “receber apoios em [assuntos de] ciberdefesa e cibersegurança” tanto para lutar contra “o crime transnacional e o terrorismo” como também contra o narcotráfico.
O governo venezuelano rebateu afirmando no comunicado que tal anúncio contradiz a promessa de Santos feita em 2010 ao ex-presidente Hugo Chávez de não fazer aliança militar com a OTAN e que tal convênio “viola acordos bilaterais e regionais que a Colômbia faz parte”, como a UNASUL (União das Nações Sul-Americanas) e a CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), através dos quais a América Latina e o Caribe foram declarados Zonas de Paz. Além disso, argumenta a Venezuela, esse anúncio “desvirtua os princípios de Bandung” que deram origem ao Movimento dos Países Não-Alinhados, o qual “proíbe expressamente seus Estados Membros formarem parte de alianças militares”.
Em 2013 a Colômbia já havia participado de uma reunião da aliança militar ocidental como único convidado latino-americano. Apesar de mostrar disposição de ingressar a Colômbia na OTAN, Santos foi rejeitado naquela ocasião.
A Colômbia é o principal aliado dos Estados Unidos, principal país da OTAN, na América do Sul. Em seu território, possui bases militares estadunidenses e tradicionalmente faz acordos de cooperação com os EUA no sub-continente. Nos últimos anos, esses acordos, como o do suposto combate ao narcotráfico, foram denunciados por outros governos da região, especialmente o da Venezuela, como uma forma de interferência na soberania dos países sul-americanos.
Ainda no comunicado desta segunda-feira, o governo venezuelano afirmou que recorrerá a “todas as instâncias diplomáticas e políticas a seu alcance, para impedir que organizações bélicas com pernicioso expediente de guerra e violência no mundo perturbem a paz de nossa Região”.
“O Governo bolivariano da Venezuela, em nome da união e da integração da Pátria Grande, exorta o Governo da Colômbia a não criar elementos de desestabilização e guerra na América do Sul e pede para que atenda o chamado histórico de paz e unidade de nossos Libertadores.”
“Não à OTAN na América do Sul! Não à guerra!”, completa o comunicado.