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Segunda, 11 Novembro 2019 02:18 Última modificação em Segunda, 11 Novembro 2019 02:32

O golpe na Bolívia: cinco liçons

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País: Bolívia / Direitos nacionais e imperialismo / Fonte: REDH

[Atilio Borón, traduçom do Diário Liberdade] A tragédia boliviana ensina com eloquência várias liçons que os nossos povos e as forças sociais e políticas populares devem aprender e gravar nas suas consciências para sempre.

Aqui, umha breve enumeraçom, de urgência, e como prelúdio a um tratamento mais detalhado no futuro.

Primeiro, que por mais que se administre de modo exemplar a economia como fijo o governo de Evo, se garanta crescimento, redistribuiçom, fluxo de investimentos e se melhorem todos os indicadores macro e microeconómicos, a direita e o imperialismo jamais vam aceitar um governo que nom se ponha ao serviço dos seus interesses.

Segundo, há que estudar os manuais publicados por diversas agências dos EUA e os seus porta-vozes disfarçados de académicos ou jornalistas, para poder perceber a tempo os sinais da ofensiva. Esses escritos invariavelmente ressaltam a necessidade de destroçar a reputaçom do líder popular, o que na gíria especializada se chama assassinato da personagem (“character assasination”) qualificando-o de ladrom, corrupto, ditador ou ignorante. Esta é a tarefa confiada a comunicadores sociais, autoproclamados como “jornalistas independentes”, que a favor do seu controlo quase monopólico dos meios perfuram o cérebro da populaçom com tais difamaçons, acompanhadas, no caso que nos ocupa, por mensagens de ódio dirigidos contra os povos originários e os pobres de modo geral.

Terceiro, cumprido o anterior chega o turno da dirigencia política e as elites económicas reclamando “umha mudança”, pôr fim à “ditadura” de Evo que, como escrevesse há poucos dias o infame Vargas Llosa, aquele é um “demagogo que quer eternizar-se no poder”. Suponho que estará a brindar com champagne em Madrid ao ver as imagens das hordas fascistas saquearem, incendiar, encadear jornalistas a um poste, rapar umha mulher presidente da cámara municipal e a pintar de vermelho e destruir as atas da passada eleiçom para cumprir com o mandato de Mario e libertar a Bolívia de um maligno demagogo. Menciono o seu caso porque foi e é o imoral represenante deste ataque vil, desta felonia sem limites que cruzifica lideranças populares, destrói umha democracia e instala o reinado do terror a cargo de bandos de sicarios contratados para punir um povo digno que tivo a ousadia de querer ser livre.

Quarto: entram em cena as “forças de segurança”. Neste caso estamos a falar de instituiçons controladas por numerosas agências, militares e civis, do governo dos Estados Unidos. Estas treinam-nas, armam-nas, fazem exercícios conjuntos e educam-nas politicamente. Tivem ocasiom de o comprovar quando, por convite de Evo, inaugurei um curso sobre “Anti-imperialismo” para oficiais superiores das três armas. Nessa oportunidade fiquei abafado polo grau de penetraçom das mais reacionárias palavras de ordem norte-americanas herdadas da época da Guerra Fria e pola indissimulada irritaçom causada polo facto de um indígena ser presidente do seu país. O que figérom essas “forças de segurança” foi retirar-se de cena e deixar o campo livre para a descontrolada atuaçom das hordas fascistas -como as que atuárom na Ucránia, Líbia, Iraque, na Síria para derrocar, ou tratar do fazer neste último caso, a líderes que incomodavam o império- e desse modo intimidar a populaçom, a militáncia e as próprias figuras do governo. Ou seja, umha nova figura sociopolítica: golpismo militar “por omissom”, deixando os bandos reacionários, recrutados e financiados pola direita, imporem a sua lei. Umha vez que reina o terror e perante a indefensom do governo, a desvinculaçom era inevitável.

Quinto, a segurança e a ordem pública nom deveriam ter sido jamais confiadas na Bolívia a instituiçons como a polícia e o exército, colonizadas polo imperialismo e os seus lacaios da direita autóctone. Quando se lançou a ofensiva contra Evo, optou-se por umha política de apaziguamiento e de nom responder às provocaçons dos fascistas. Isto serviu para os encorajar e aumentar a aposta: primeiro, repetir segundo turno; depois, fraude e novas eleiçons; em seguida, eleiçons mas sem Evo (como no Brasil, sem Lula); mais tarde, renúncia de Evo; finalmente, perante a sua relutáncia a aceitar a chantagem, semear o terror com a cumplicidade de polícias e militares e forçar a Evo a renunciar. De manual, todo de manual. Aprenderemos estas liçons?

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