“Eu entrei no movimento quando surgiu o Acampamento Abril Vermelho e foi um amigo, já falecido, que me fez o convite: ‘Maria, você tem muita vontade de sair da rua. Então vamos nos acampar no MST? Eu já estou acampado lá’. Então eu vim e quando cheguei aqui, gostei”, conta Maria.
Maria, que antes de acampar trabalhava vendendo cerveja, doces e salgados nas ruas de Juazeiro, sempre cultivou o sonho de ter um pedaço de chão para plantar e colher o seu sustento.
Ela relembra que toda sua infância foi num sítio. Porém, com a morte de seu pai, o pedaço de chão foi vendido e todos foram sobreviver na cidade.
“As primeiras coisas que me chamaram atenção, quando cheguei no acampamento, foi a alegria das pessoas, a mística, o trabalho coletivo e a possibilidade de plantar e colher”, explica.
Abril Vermelho
A área onde está localizado o acampamento foi ocupada no dia 15 de abril de 2012. Lá, moram cerca de 462 famílias que produzem: cebola, feijão, milho, tomate, pimentão, melão, mandioca, melancia, cenoura, abóbora, banana. As famílias também criam aves e animais de pequeno e grande porte.
Toda produção é comercializada no Mercado Produtor de Juazeiro e nas feiras da cidade e região.
O acampamento possui escola com mais de 100 crianças e adultos matriculados em três turnos diários, além de espaço para ciranda e para culturais da comunidade.
Em 2013, as famílias sofreram um despejo, porém em seguida, os trabalhadores reocuparam e, desde então, resistem as diversas ameaças.
A área ocupada de 800 hectares pertence a um projeto de irrigação da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) através do Ministério da Integração.
De acordo com a direção do MST na região, o projeto prevê o fortalecimento da produção agrícola dos pequenos e grandes produtores, porém estava abandonado.
Sobrevivência
Para Maria, o acampamento e a sua roça, onde está produzindo mandioca e banana, lhe garantem dignidade e emancipação econômica.
“Mesmo morando sozinha, eu não deixo de mão a minha plantação e os meus animais. Tudo que tenho foi conquistado com muito suor e luta. Hoje eu aprendi os valores da liberdade”.
“Estamos sofrendo, novamente, uma ameaça de despejo e nós aqui não vamos sair facilmente. Construímos raízes e sonhos. Temos certeza que a terra é pra quem nela trabalha e provamos isso na prática. No sertão temos grande dificuldade de água e aqui, com os perímetros, superamos essa dificuldade. Não é justo deixar toda essa água abandonada, enquanto muitas de nossas crianças sentem sede”, enfatiza.
Na última semana, os trabalhadores receberam a visita da polícia civil que acompanhou o dia a dia das famílias, afim de construir um laudo com parecer favorável ou não a liminar de despejo, que pode ser entregue a qualquer momento.
Enquanto isso, os trabalhadores permanecem acampados produzindo e resistindo, com suas ferramentas de trabalho em punho e gritos de ordem enfatizando a necessidade de se democratizar a terra no Brasil.