Se o plenário, transcorridos 180 dias, aprovar o impeachment por maioria qualificada de dois terços (54 votos), Dilma, acusada de crime contra a República, será definitivamente destituída e privada de direitos políticos durante oito anos.
Entretanto, o vice Michel Temer assume interinamente a Presidência.
O debate no Senado entrou pela manhãa de hoje numa maratona inédita. Foi, tal como o da Câmara de Deputados, uma exibição deprimente de cretinismo parlamentar.
Sobre Renan Calheiros, o presidente, pesam acusações graves de corrupção. Dezenas de senadores estão alias envolvidos no escândalo do Lava Jato.
Michel Temer, faminto de poder, já começou a formar o seu Ministério. O seu currículo é tão sombrio como o de Calheiros. Alguns dos ministros indigitados têm também contas a prestar à Justiça.
A imagem que esse apodrecido mundo político projeta contribui para desacreditar aquilo a que a desproposito ainda chamam a democracia brasileira. (artigo do embaixador Celso Amorim, hoje publicado pelo diario.info).
Obviamente, no Brasil consumou-se um golpe de estado parlamentar apoiado pelo grande capital e pelas forças mais reacionárias do país, e recebido com simpatia pelos EUA.
A divisão da sociedade brasileira é no momento transparente. Nas ruas sucedem-se manifestações contra o golpe e outras que o apoiam.
A maioria dos intelectuais e o PCB-Partido Comunista Brasileiro condenam o processo golpista; o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra-MST repudia o afastamento de Dilma. A participação de Lula nos acontecimentos foi totalmente negativa. O ex-presidente, desprestigiado, tem também o seu nome envolvido no Lava Jato.
A única certeza é o aprofundamento da gravíssima crise que o Brasil atravessa, com desenvolvimentos imprevisíveis.
A saída positiva seria de esquerda, como afirma o PCB. Mas as massas não estão preparadas para derrotar o sistema. Faltam condições subjetivas. O nível da consciência política dos trabalhadores brasileiros é ainda insuficiente para que eles possam enfrentar vitoriosamente a engrenagem do poder.