O curso teve como fortalecer a organicidade interna dos coletivos de gênero dos estados do Nordeste, forjar quadros políticos de mulheres para o Movimento. E, além disso, criar um espaço de preparação para as lutas, como aponta Margarida Silva, dirigente do setor de gênero no estado.
“Esse espaço de formação tem como objetivo forjar companheiras em um processo organizativo de luta contra o patriarcado, contra o Capital, contra o agronegócio e contra o ataque aos nossos direitos, que serão alvos de nossa jornada de mulheres de 2017”, destaca.
Nesse sentido, foi uma semana de estudo, tendo temas como: Feminismo e luta de classes; Gênero e Feminismo: protagonismo feminino nos processos históricos; O legado feminista no Nordeste; O avanço do capitalismo no Nordeste e as violências contra a mulher; Desafios táticos e estratégicos da luta de classes e do Feminismo Camponês e Popular; e Desafios políticos e organizativos das Mulheres Sem Terra na construção da Reforma Agrária Popular.
Esses temas são apontados pelas mulheres Sem Terra como necessidade de entender a estrutura dessa sociedade capitalista-neoliberal-patriarcal-racista.
“Para garantirmos e fortalecermos a organicidade interna das mulheres como protagonista das lutas sociais, no modelo de produção, precisamos enfrentar temas específicos que trata diretamente das nossas vidas, como a violência contra as mulheres, que é estrutural ao desse sistema capitalista; o avanço do capitalismo no Nordeste, em que as primeiras atingidas somos nós, com os grandes projetos do Estado, a mudanças das relações sociais, além dos impactos do agrotóxicos, em que somos também nós, as primeiras a termos a nossa saúde violada”, afirma Silva.
Feminismo Camponês e Popular
O Feminismo Camponês e Popular é uma formulação política, organizativa e teórica, que as mulheres da Via Campesina Internacional vêm formulando e orientando seus processos organizativos, a partir das vidas concretas das mulheres sem terra, camponesas, indígenas, quilombolas, ribeirinhas, negras e da sua diversidade, suas histórias de lutas, da história do feminismo revolucionário e do marxismo.
Trata de pensar uma práxis política de superação da situação profunda das opressões e desigualdades de gênero, raça e classe, a um amplo projeto de transformação social internacional. Portanto, está vinculado diretamente aos processos de resistências, lutas e enfrentamentos, que as mulheres da Via Campesina têm travado no mundo.
“O feminismo e marxismo é base para a formação das mulheres Sem Terra, além de ser necessário para a construção da Reforma Agrária Popular, que tem como desafio a participação das mulheres organizadas em nossos assentamentos e acampamentos, nos processos de lutas e emancipação humana”, afirmou Francilene Caetano, dirigente do setor de dirigente no Ceará.
Jornada Nacional das Mulheres Sem Terra
Esse ano de 2017, a Jornada Nacional das Mulheres Sem Terra, tem como lema “Estamos todas despertas: contra o capital, e o agronegócio, nenhum direito a menos! ”, em referência ao legado histórico das mulheres de luta as revoluções e processos de lutas na América Latina, que têm sido alvo do capital internacional e em memória ao Centenário da Revolução Russa, que foi deflagrado pelas mulheres revolucionárias.
No Brasil, o ano passado, as mulheres foram as primeiras a resistirem ao golpe, com a Jornada das Mulheres da Via Campesina, Marcha das Margaridas e a Primavera Feminista, este ano, as mulheres do campo e da cidade, unificadas na Frente Brasil Popular e na Frente Povo Sem Medo, e vários outras iniciativas, pautam a luta contra a Reforma da Previdência Social, que será um dos maiores retrocessos a vida das mulheres, sobretudo do campo; e contra o governo ilegítimo de Michel Temer, em que todas suas medidas afrontam a dignidade humana das mulheres.