A greve geral: os enquadramentos e a aula de (não) jornalismo
Como a mídia burguesa noticiou as outras greves gerais no Brasil
Foi o maior evento nacional desde o impeachment que derrubou Dilma Rousseff – um golpe de Estado.
O Brasil inteiro parou. De Norte a Sul, de Leste a Oeste, nas capitais e no interior dos estados os braços se cruzaram e as máquinas pararam.
A maioria absoluta dos transportes não operou. O comércio fechou e as ruas ficaram vazias até o meio da tarde. As que não estavam vazias, ou tinham pouco movimento ou receberam manifestações.
A partir do meio da tarde, as principais cidades – São Paulo e Rio de Janeiro – foram palco de gigantescas manifestações do proletariado e da juventude, reunindo dezenas de milhares de pessoas.
O dia, do começo ao fim, pertenceu a um só sujeito: a classe trabalhadora.
A maior greve geral da história do país deixou o governo golpista e toda a classe capitalista com o coração (para sermos educados) na mão.
A maior prova da eficiência desta extraordinária mobilização foi a cobertura ridícula praticada pelos grandes veículos de imprensa.
Convocada há um mês, a greve geral só foi citada no dia em que ocorreu. Nenhuma palavra no telejornal até a sexta-feira. Os impressos e os sites burgueses até que noticiaram os preparativos, mas de maneira negativa e desqualificatória, tentando desacreditar o movimento.
O cúmulo da manipulação veio do maior império das comunicações do Brasil. A Rede Globo se calou, para que a greve tivesse pouca aderência. Dessa forma, pela enésima vez, descumpriu seu suposto papel de informar o público sobre os principais acontecimentos do país.
Algumas pessoas que foram trabalhar no dia da greve não sabiam nem o que estava acontecendo, sem ônibus nem metrô, justamente porque a grande mídia escondeu esse fato.
Finalmente, no grande dia, a cobertura iniciou dentro da sede paulista da Globo. De acordo com relatos, ordens superiores impuseram a censura ao termo “greve geral” aos jornalistas.
De fato, durante o dia inteiro o noticiário televisivo da Rede Globo (incluindo o canal a cabo Globo News) evitou usar essa expressão. Seus repórteres e apresentadores falavam em “protestos”, “manifestações” como quaisquer outros.
Como sempre ocorre com toda mobilização popular, o discurso da Globo desprestigiou e tentou minimizar os efeitos da greve, inclusive mentindo para a população, ao dizer que a situação no País era de quase normalidade.
O foco, para variar, foi no “incômodo” a “quem queria trabalhar” e na falsa violência dos grevistas. O que houve, pelo contrário, foi mais uma amostra da completa selvageria das forças repressivas do Estado.
As imagens quase não mostraram o verdadeiro tamanho das concentrações de massa, o colorido e o vermelho em destaque em muitas aglomerações pelo Brasil.
Ressalve-se que não foi somente a Globo que fez uma cobertura manipulada da greve geral. A Band News TV, por exemplo, disse em seu noticiário que o movimento se resumiu em pequenos grupos fechando rodovias em alguns lugares do Brasil.
No falido Jornal Nacional, o mais assistido da televisão brasileira mas com cada vez menos audiência, foram dedicados alguns minutos à histórica greve. Falou-se praticamente só nos “confrontos” com a polícia em “protestos” e “paralisações” no Nordeste e no Sul do País.
Uma coisa curiosa, no entanto, foi o destaque dado no JN sobre a própria cobertura da Globo durante o dia. A emissora tentou passar a impressão de que deu importância à mobilização nacional massiva do povo trabalhador, embora não tenha feito nada disso.
Mas a Globo sabe que está perdendo cada vez mais credibilidade e está sentindo o peso das críticas e questionamentos das massas, que cada vez mais percebem o papel da Globo no golpe de Estado e ba manutenção da ordem burguesa, na ampliação do sistema de exploração.
Seu entreguismo e devoção à barbárie imperialista já não enganam mais as massas.
Entretanto, a Globo ainda é um dos pilares do Estado burguês e do governo golpista. Sua ligação com o poder é extremamente intrínseca e é a maior e mais corrupta empresa privada do País.
A Globo é o sustentáculo propagandístico da burguesia e do imperialismo no Brasil. É a tropa de choque ideológica dos patrões.
O sucesso da sublevação popular, que apenas se iniciou nesta sexta-feira com a greve geral, dependerá de como as classes populares irão lidar com os mecanismos de exploração do povo.
A classe trabalhadora falou de igual para igual com o patronato. Mostrou sua força. E deverá começar a impor sua vontade, a vontade da maioria, sobre os interesses da minoria parasita que controla o Brasil.
No ano passado, durante o amplo movimento grevista na França, os trabalhadores exigiram que os jornais dessem espaço às suas reivindicações. Os jornais, que como aqui, também são monopólio da burguesia, se recusaram a mostram um mínimo de democracia e censuraram a expressão popular. O que os trabalhadores franceses fizeram? Impediram a circulação dos principais jornais do país.
No Brasil, a mídia exerce um poder ditatorial. Portanto, deve ser combatida como um regime autoritário inimigo do povo.
Com o crescimento do movimento de indignação da classe trabalhadora, é natural que haja ocupações de fábricas, de latifúndios e de prédios públicos, como já começou a ocorrer.
As instalações dos principais meios de comunicação também devem ser ocupadas, especialmente os prédios da Rede Globo no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Esse monopólio da família mais rica do País não quer, e não vai, dar voz aos trabalhadores. Os trabalhadores devem impor a vontade da maioria e aplicar o que até mesmo a Constituição estabelece: transformar a comunicação em um serviço para a sociedade, controlada pelo povo para comunicar sobre os principais acontecimentos que interessam ao público. Denunciar o governo golpista, as contrarreformas, exigir a queda do regime e convocar o povo a mais uma greve geral até que sua vontade seja atendida.