Por si só, independente do projeto e trajetória de traições das principais direções do movimento sindicato como a CUT – as quais durante os governos Lula e Dilma cumpriram o nefasto papel de engessar a ação organizada dos trabalhadores, atuando como correia de transmissão do Planalto e das mais reacionárias oligarquias regionais – as massas exploradas demonstraram uma grande disposição de se enfrentar com a claque de bandidos instaurados no Planalto e no judiciário. A estratégia petista de colaboração de classes enfraqueceu substancialmente o movimento operário. Evidentemente que o PT e a CUT têm imensa responsabilidade com a atual situação política. O primeiro promoveu o chamado “pacto oligárquico” com o que há de mais podre, fisiológico e reacionário exposto no tabuleiro da política nacional (clã dos Sarney, Renan Calheiros, Collor, Maluf, Igreja Universal, PMDB e por aí vai...), que impreterivelmente no despertar da época de crise se rebelou sem pestanejar em diáspora de ratos; a segunda atuou durante 14 anos como chapa branca e elemento de contenção de protestos e lutas, cujo governo petista chegou ao ponto de criminaliza-las como durante os eventos da Copa do Mundo de 2013-14 como sendo ação de terroristas. Em consequência, criou a “Lei Antiterrorismo” que vigora até hoje, com a qual a tucanalha se refestela e baixa a borracha.
A greve conseguiu paralisar setores estratégicos das grandes cidades, o transporte público. Não se faz greve geral sem que este setor seja paralisado à força. Bancos também foram fechados, o comércio funcionou a meia-boca. Escolas públicas e privadas fecharam suas portas. Houve vários bloqueios de estradas pelo interior. Calcula-se que mais de 35 milhões participaram da greve. Pelo conteúdo e pela caracterização social, foi bem diferente das manifestações de 2013 durante as quais a direita e os fascistas dominaram contra a esquerda e das de 2015 quando as palavras de ordem grassavam por “Help! Intervention Miltary Already” e “Somos milhões de Cunhas”. Desta vez, a classe média ficou em casa, ao invés de bater panela, “bateram os dentes”, apavorada... Após quase duas décadas, é a primeira vez que o proletariado saiu às ruas de forma organizada, limitada é verdade, mas cumprindo um papel fundamental no embate contra as forças retrógradas imperantes nas instituições brasileiras em repúdio às “reformas” da previdência e trabalhista. Aos poucos a luta de classes vai ganhando novamente as ruas se batendo com a corja golpista usurpadora do Planalto empossada e legitimada pelo STF incumbida de jogar o peso da crise sobre as costas dos explorados, promovendo uma gigantesca transferência de capital para os bolsos dos especuladores e banqueiros internacionais.
Claro, a burguesia, do outro lado da trincheira, estava preparada, chegando inclusive a invadir sedes de trabalhadores. Em São Paulo a PM invadiu o Sindicato dos Bancários de forma truculenta para intimidar o movimento paredista. A mídia mainstream jogava veneno nas mobilizações desde a véspera, defendendo a repressão contra os “vagabundos”, o que governos atenderam prontamente. A repressão foi extremamente violenta em todos os estados. A lumpen-burguesia hegemônica politicamente no país desfilou pérolas de idiotices, como o prefeito de São Paulo João Díria, segundo quem, “não se faz greve geral em dia de trabalho”; ou então o “ministro da justiça” Osmar Serraglio, que descabeladamente (ele é careca!!) afirmou à Globo serem as mobilizações “pífias”, “não existiram”! Ainda, o prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan, o tucano júnior, disse que quem participava da greve eram membros de “gangues criminosas”...
Assim, num país onde mais de 14 milhões de desempregados e outros milhões na informalidade encontram-se sem perspectivas de retornar ao trabalho, cujos postos de trabalho foram extintos, a adesão pode ser considerada bastante positiva, malgrado alguns setores da esquerda que consideraram “poucas categorias da produção industrial” participaram. Ora, é no mínimo uma cegueira ou mesmo estupidez tal consideração, típico de uma análise de paralaxe sectária... Não obstante, não podemos cair numa visão idílica das mobilizações, pois há de se romper com a perspectiva programática institucional de eleições já orientada pelas direções sindicais e várias organizações da esquerda. Esse é um direcionamento da luta para um beco sem saída, pois se trata de um acordo com os próprios golpistas senis que depuseram o governo do PT.
Contudo, o primeiro passo foi dado. Doravante, é necessário aprofundar as mobilizações em cada local de trabalho, escola ou comunidade, além é claro, organizar comitês de desempregados, rumo a uma greve geral de 48 horas, para colocar na berlinda a lumpen-burguesia golpista e sua (in)justiça plutocrática a serviço do capital financeiro internacional.