O imperialismo norte-americano está por trás do golpe de Estado parlamentar no Brasil. Devido à queda das taxas de lucro dos monopólios, o imperialismo vem aumentando a espoliação sobre os povos do mundo por meio de pesadíssimos planos de “ajustes fiscais” para que estes paguem pelo ônus da crise capitalista mundial aberta, principalmente, depois de 2008.
A Operação Lava-Jato, durante o governo Dilma, tinha como função política derrubar o PT e pôr em seu lugar um governo que pudesse avançar no sentido de aprofundar o plano de “ajustes”. Para que isso fosse possível e a Lava-Jato ganhasse força, foi criado todo um cenário onde a direita nacional passou a arregimentar uma parcela da classe média e a leva-la para a rua contra o governo. Nesse teatro de fantoches, o “mercado” mexeu-se com seus jogos especulativos na bolsa e no câmbio para acirrar a crise. Os mecanismos de repressão e inteligência dos Estados Unidos, como a NSA e a CIA, auxiliaram na pavimentação do caminho para a derrubada do governo e contribuíram abertamente nas investigações da Lava-Jato usando como instrumento o juiz Sérgio Moro e “seus amigos”.
Não por acaso, Liliana Ayalde embaixadora dos Estados Unidos, chegou ao Brasil em agosto de 2013. Ela foi uma das responsáveis por articular o golpe parlamentar contra o ex-presidente Fernando Lugo, do Paraguai, entre 2008 e 2011, saindo de cena um pouco antes do golpe ter sido consumado. Em um telegrama ao Departamento de Estado, em 2009, vazado por Wikileaks, ela disse:. ”Temos sido cuidadosos em expressar nosso apoio público às instituições democráticas do Paraguai – não a Lugo pessoalmente”. E em outro, mais tarde: “nossa influência aqui é muito maior que as nossas pegadas”.
A LAVA-JATO CONTRA “TODOS”?
Não há dúvida de que o imperialismo norte-americano foi o responsável por organizar o golpe de Estado no país. No entanto, depor Dilma e colocar em seu lugar um governo peemedebista foi a melhor opção possível do imperialismo dentro da conjuntura política. O governo Temer vem se mostrando cada vez mais incapaz em aprofundar o plano de “ajustes”. Sob pressão imperialista até Dilma teve que aplicar uma parcela do receituário “neoliberal” e criar o arcabouço jurídico e político para que Temer desse o desfecho. Mas a fragilidade desse governo não permite que ele avance muito nesse sentido.
O imperialismo já sabe que com o governo Temer não poderá impor o “ajuste” na profundidade que os monopólios precisam. Por isso, lança mão de outras cartas para estabilizar o regime político burguês em frangalhos e sustentar os lucros dos monopólios. A permanência das investigações da Operação Lava-Jato e o aprofundamento da campanha da imprensa burguesa, setor ligado à extrema-direita norte-americana, contra figurões da direita, neste sentido, tem como objetivo tirar do caminho não apenas o PT, mas também o PMDB e uma parcela significativa do Congresso, principalmente o “baixo clero” que devido seus interesses políticos regionais podem atrapalhar, em maior ou menor grau, o aprofundamento da aplicação do plano de “ajustes”.
Conforme a crise capitalista mundial avança, o regime político burguês entra em bancarrota e completa degeneração. A política do imperialismo, neste sentido, é reconfigurar o cenário político nacional e tirar o PMDB do centro de estabilização do regime político. Durante anos, ele tentou fazer isso, principalmente a partir de 1988 quando impulsionou a criação do PSDB e incentivou que os setores da direita nacional se organizassem detrás dele. No entanto, o papel do PMDB para a “governabilidade” e a fluência do regime ainda continuam muito marcantes. E a isso o imperialismo quer dar um basta.
O PAPEL DO PMDB NA PROGRESSÃO DO GOLPE
A Lava-Jato, que estava direcionada contra o PT, agora está sendo direcionado contra o PMDB e tem como objetivo fazer uma limpa geral no Congresso, inclusive em setores do Psdb que aplicam a mesma política do PMDB, como Aécio Neves. O objetivo dessa ação é fortalecer a carta bonapartista para recrudescer o regime político o que somente pode se desenvolver na direção de um golpe militar, no futuro. No centro do problema da aplicação do “ajuste” está como evitar a desestabilização do regime e o crescimento das tendências revolucionárias. Um regime mais abertamente bonapartista, encabeçado por um Sérgio Moro, corre o risco de incendiar o país. Nesse sentido, ele somente poderia se sustentar com a maior “direitização” do regime que passa, fundamentalmente, por uma maior intervenção dos militares na direção de um regime de terror aberto. Mas existe o risco do golpe ser derrotado e o Brasil tornar-se uma nova “Venezuela 2002”.
Hoje a política que aparece como mais provável é a implantação uma espécie de regime semi-parlamentarista no país. Essa parece como a política que é buscada pelo PT, pelos próprios componentes do governo Temer, que inclui setores do Psdb, e até pelo imperialismo que, neste momento, teria muita dificuldade para impor uma figura da extrema-direita do perfil de Sérgio Moro, por exemplo.
O PMDB representa forças políticas regionais. Ele não foi o cérebro do golpe, mas foi usado como instrumento para o mesmo, pelo imperialismo e pelos setores de extrema-direita nacional. A principal alternativa, na atual conjuntura política, desses poderes regionais continuarem desempenhando um papel no regime e evitar que sejam tratorados pela Lava-Jato é implantando o semi-parlamentarismo.
No cenário do fortalecimento da carta bonapartista, o que pode acontecer com esses setores seria que uma boa parte deles, principalmente os envolvidos com mecanismos de corrupção e mais chegados aos esquemas da cúpula do PMDB e outros, sejam afastados pela Lava-Jato. Uma outra parte pode ser “reciclada” para servir como base de um regime de força, como, por exemplo, os elementos evangélicos e outros ligados diretamente à extrema-direita norte-americana. Há o risco para esses setores do “baixo clero” em saber quem será afastado e quem não, pois o que não deve se perder de vista é que, por causa da crise, o imperialismo precisa se livrar do PMDB. Se trata de um partido político muito caro, contraditório e enfraquecido politicamente. Ele precisa de um regime político que consiga aplicar realmente o “ajuste” com força e conter as massas.