Muitos ainda chegaram a se confundir quando o general Hamilton Mourão deu declarações abertas defendendo o golpe militar, colocando-o como um líder da ala direita. O desenvolvimento dos acontecimentos mostraram que Mourão, embora seja um representante inclusive de uma ala extrema-direita do Exército, é minoritário no interior das Forças Armadas. Revelou-se que Etchegoyen em sua posição de chefe do sistema de inteligência no governo é na realidade o principal representante de uma ala mais direitista, e que na realidade, como os fatos vêm mostrando, é a ala que dá as cartas nas Forças Armadas.
Os que defendem a ideia de que há duas alas, dizem isso para defender a tese de que não se deveria criticar o Exército pois de alguma maneira isso favoreceria a ala direita. As críticas deveriam ser voltadas a atacar Michel Temer, mostrando que os militares na realidade estariam apenas cumprindo ordens, de maneira a fortalecer a suposta ala “legalista”. Nada poderia estar mais equivocado.
Em primeiro lugar, o desenvolvimento da situação e os fatos recentes indicam não ser correta a ideia de que Villas Bôas seria um representante de uma ala “legalista”. Na melhor das hipóteses, Villas Bôas é um homem de declarações mais amenas, que servem em última instância mais para confundir o panorama político. Mas mesmo do ponto de vista de suas declarações, Villas Bôas vem mostrando que não é um representante de uma suposta – se é que exista – ala “legalista”. É dele, comandante do Exército, a declaração de que os militares no Rio de janeiro deveriam ter carta branca para fazerem o que for necessário sem que no futuro haja uma “comissão da verdade”. Esta está muito longe de ser uma declaração legalista, muito menos de uma ala “esquerda”.
Se em algum momento tivesse sido correto dizer que Villas Bôas representou uma ala dita legalista, suas declarações revelam que esta ala já se entregou totalmente para a ala golpista, ela fala o que a direita quer.
Portanto, só há duas possibilidades: ou não existe essa ala ou ela é completamente refém da ala golpista. Outro dado é que Villas Bôas, desde as primeiras declarações de Mourão, nunca abriu a boca para criticar as declarações mais golpistas e direitistas que saiam das Forças Armadas, pelo contrário, fazia questão de elogiar seus amigos.
De qualquer modo, se existe uma ala legalista nas Forças Armadas – é possível que exista e não é Villas Bôas – ela está esmagada. É preciso criticar duramente a ação do Exército justamente para desmoralizar e desmascarar o que está sendo feito. Só há um setor do exército que discorda do golpe militar, esse setor só terá condições de se fortalecer se a outra ala for derrotada. Por isso, é preciso atacar a política dos militares de conjunto, que significa atacar a política da ala direita que nesse momento domina inclusive o governo golpista.