Os caminhoneiros não se amedrontaram, mantiveram e ampliaram a greve; em muitas cidades chegou a faltar combustível em 100% dos postos, novas categorias anunciaram que também estaria paralisando, como no caso estratégico dos petroleiros, e o governo foi levado a uma nova manobra: anunciar que aceitava as reivindicações dos grevistas, para tentar, mais uma vez com a ajuda da imprensa golpista, acabar com greve.
Mas até o momento que escrevemos esta coluna, seguem os bloqueios de estradas e abundam as declarações dos caminhoneiros e de alguma entidades de que mais uma vez o governo Temer mente: das 14 reivindicações dos grevistas, apenas três foram atendidas parcialmente e sem nenhuma credibilidade da sua permanência diante da total fragilidade do governo.
A situação está mostrando também o fracasso da manobra do governo e da maioria dos “sindicalistas” que procuravam controlar o movimento em apoiar uma medidas que transfere a conta da crise, uma vez mais para o povo brasileiro: o congresso nacional e o governo golpistas querem tirar recursos da Saúde, Educação e outros gastos sociais para subsidiar o lucro dos acionistas bilionários da Petrobrás. E tentaram enrolar os caminhoneiros; primeiro com a promessa de redução por 15 dias; agora, por 60 dias.
Há um impasse, mas milhares de trabalhadores rejeitam a manobra e passou por cima do apoio dado pelos que se pretendiam “líderes” da greve, alguns dos quais públicos apoiadores da intervenção militar.
Além da desmoralização geral do governo e de sua política de elevação diária dos combustíveis para favorecer os especuladores e os grandes monopólios do petróleo, a decretação de greve dos petroleiros, bem como a campanha da FUP (Federação Nacional dos Petroleiros) da CUT e de outros setores da classe operária denunciando a política entreguista e antinacional de destruição da Petrobrás e de expropriação do povo para favorecer o lucro dos agiotas-acionistas da empresa, aprofundaram a crise do regime político, amplamente repudiado pela população, que não consegue sequer se unificar em torno de um candidato para as eleições presidenciais e que se mantém pela aberta violação da Constituição Federal que, entre outras medidas, mantém como preso político o ex-presidente e maior liderança popular do País, Luiz Inácio Lula da Silva.
A greve só fez crescer a ampla rejeição ao regime golpista que está entregando o petróleo brasileiro em benefício das empresas petrolíferas estrangeiras e dos especuladores financeiros que detém mais de 70% das ações da empresa “estatal” brasileira e impuseram a política de aumentos diários, que já elevaram os preços dos combustíveis em mais de 68% em apenas dois anos após o golpe de estado que derrubou a presidenta Dilma Rousseff. Para efeito de comparação, assinale-se que em 14 anos de governos Lula e Dilma, os combustíveis foram reajustados em menos de 30%; o que justifica a gritaria dos magnatas de que o governo estava “quebrando” a Petrobrás e ajuda a entender o porque da campanha da imprensa e judiciário golpistas em torno do “petrolão” etc.
Os defensores da privatização total da Petrobrás reduziram o nível de refino do petróleo no País, para impulsionar a importação de seus derivados de outros países, principalmente dos EUA, gerando altos lucros para as empresas norte-americanas que ajudaram a patrocinar o golpe e onerando o povo brasileiro e, em particular, trabalhadores de setores mais diretamente afetados pelo aumento dos preços dos combustíveis, como é o caso dos caminhoneiros.
Além dos lucros dos capitalistas, o preço dos combustíveis tem embutido cerca de 47% de impostos. Dos bilhões arrecadados da população, quase 50% vão parar nos cofres dos banqueiros a pretexto de pagamento de juros e serviços de uma dívida fraudulenta.
Para o imperialismo e a direita golpista, a solução é “quebrar” o povo trabalhador (inclusive, na porrada se for preciso) para garantir o lucro de meia dúzia de capitalistas.
A idéia de alguns setores de a greve se tratava apenas de um locaute, de uma armação patronal em favor da redução do preço dos combustíveis foi deixada para trás pela realidade, mais dinâmica do que as apreciações superficiais e que precisa ser analisada de conjunto, do ponto de vista da luta de classes e dos interesses em conflito na situação e não apenas pelas aparências.
O regime golpista impulsiona o caos, a destruição da economia nacional, a entrega das riquezas nacionais para o imperialismo e um ataque brutal às condições de vida da imensa maioria do povo.
O governo Temer e a direita golpista não têm alternativa para essa situação que não seja tentar ludibriar os trabalhadores e transferir custos de um setor para outro e buscar tentar impor a repressão para fazer com que os trabalhadores aceitem essa situação. Por isso mesmo precisam manter Lula preso (nestes momentos se mostra a nulidade dos demais candidatos que procuram capturar os votos da esquerda).
Um setor da direita tentou – até agora sem sucesso – tirar proveito da situação para defender e impor uma maior repressão contra os trabalhadores, a começar pela repressão contra os próprios caminhoneiros, e para fazer campanha a favor da intervenção militar, ou seja, de que os militares golpistas que apoiaram e apóiam a política reacionária e pró-imperialista levada adiante pela direção da Petrobrás e pelo governo Temer, assumam diretamente o controle da situação, visivelmente descontrolada.
O próprio decreto do governo provocou uma crise entre os militares, por receio de que a ação destes contra a greve pudesse provocar uma crise nas próprias forças armadas.
A situação reforça a necessidade da classe operária e demais setores explorados intervirem firmemente na situação política.
É preciso se opor à repressão contra a greve, denunciar a propaganda golpista e, acima de tudo mobilizar, ganhar as ruas, tomar a iniciativa na luta contra o golpe e em defesa das reivindicações dos trabalhadores.
É preciso unificar essa luta com a luta contra o golpe, mostrar que o problema central é a permanência de um regime de submissão ao grande capital estrangeiro e “nacional”.
Em primeiro lugar cabe à CUT, a maior organização de trabalhadores do País, decretar a greve geral por tempo indeterminado, até que o governo atenda todas as reivindicações dos caminhoneiros e petroleiros e que o regime golpista seja derrotado.
Depois de muita luta, pela primeira vez se coloca a possibilidade de impor uma derrota de conjunto ao golpe e à sua política de entrega da economia nacional e de brutal ataque aos trabalhadores.
A situação também deixa ainda mais claro que a prisão de Lula é uma questão que vai além das eleições. Por isso, neste domingo, dia 27, milhares de militantes do PT e do PCO e ativistas dos movimentos de luta dos trabalhadores se mobilizaram em todo o País em atos e plenárias de lançamento da candidatura de Luís Inácio Lula da Silva à presidência da República e em defesa de sua imediata liberdade.
Estas luta devem ser unificadas na greve geral, pois como afirmamos inúmeras vezes, é nas ruas e não nas urnas que vamos derrotar o golpe.