Adélio Bispo de Oliveira, principal suspeito de ter desferido uma facada no deputado federal, teria confessado o crime, cometido “a mando de Deus”. Ele foi detido ontem e poderá ser condenado sob a Lei de Segurança Nacional.
Os candidatos à presidência, de direita e de esquerda, prestaram solidariedade a Bolsonaro. Entretanto, nas redes sociais, internautas têm questionado a veracidade do acontecido. Existem alegações das mais diversas, como a falta de sangue no corpo do candidato ou na faca – o que levou a muitos desconfiarem de que teria sido uma encenação. Além disso, Adélio aparentemente não sofreu qualquer violência física, mesmo em meio a dezenas de seguidores de extrema-direita, famosos por sua agressividade contra qualquer um que critique ou contrarie os posicionamentos de Bolsonaro.
No dia anterior, veículos de comunicação noticiaram uma reunião do candidato do PSL com João Roberto Marinho (um dos três irmãos que comandam o Grupo Globo). Tal encontro, somado ao noticiário favorável acerca de Bolsonaro (até há poucos meses eram comuns matérias negativas na imprensa sobre ele) tem levado a considerar que o também capitão do exército brasileiro teria sido escolhido como o candidato favorito da Globo, um dos principais agentes do Estado brasileiro, até porque o tradicional candidato da maior rede de mídia do Brasil, Geraldo Alckmin (PSDB), não vem decolando nas pesquisas e tem sido, de maneira surpreendente, alvo de denúncias de corrupção.
O autor do suposto crime, conforme amplamente divulgado na mídia e confirmado pelo PSOL, foi filiado a tal partido entre 2007 e 2014, o que tem rendido uma onda de acusações contra a esquerda por, supostamente, ter organizado o atentado. Além disso, imagens montadas e notícias falsas têm circulado nas redes sociais tentando ligar Adélio ao PT, a organização de esquerda mais satanizada pela direita (dentre políticos, ativistas, meios de comunicação, Ministério Público e Judiciário).
Levando em consideração a história do século XX e o suspeito incidente em Juiz de Fora, vêm à mente o famoso incêndio do Reichstag, o parlamento alemão, ocorrido em 1933, logo após a subida de Adolf Hitler ao poder. A ação (de possível autoria dos próprios nazistas) serviu para incriminar os comunistas e esmagar toda a esquerda, sendo o primeiro grupo social a sofrer torturas, assassinatos e prisão em campos de concentração na Alemanha nazista.
“O jogo retórico para forçar ligações que não existem está em curso”, disse à Carta Capital o filósofo Vladimir Safatle. “A narrativa está criada. A esquerda, de uma forma ou de outra, seria a responsável, embora seja muito bom lembrar que ela tem sido a principal vítima durante todo esse processo e nunca respondeu. Foi alvo de provocações do próprio Bolsonaro.”
No começo do ano, quando o ex-presidente Lula realizava uma caravana no Sul do país, ônibus da caravana foram alvejados a tiros, disparados por extremistas de direita e comemorados por Bolsonaro. Militantes sofreram ferimentos graves, além de outros terem sido agredidos no mesmo contexto.
Ativistas que realizavam vigília no acampamento Marisa Letícia, em frente à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde Lula está preso, também sofreram disparos de armas de fogo. Muitos outros episódios de violência da direita fascista, seguidora de Bolsonaro, ocorreram somente este ano. Nenhum deles recebeu destaque na mídia, ao contrário de incidentes em que a esquerda foi tachada de “vilã” e criminalizada fortemente pelos mesmos meios de comunicação e eleitores de extrema-direita.
O candidato a vice de Bolsonaro, general Hamilton Mourão, defensor do regime militar (1964-1985), culpou o PT pelo suposto atentado e ameaçou: “se querem usar a violência, os profissionais da violência somos nós.” Por sua vez, o presidente do PSL, Gustavo Bebbiano, fez uma ameaça ainda maior: “A guerra está declarada.”