Mas os expoentes do "novo (des)governo” brasileiro, em matéria de diplomacia, tem se comportado como mastodontes de outra era no século XXI. O itamaraty virou uma casa da mãe Joana, onde todo mundo que pode mete a mão como quer, e a colher, sem perguntar nada a ninguém.
Diplomacia é coisa macia, como diz o nome. Mudanças bruscas, só em caso de guerra. Bom, os atuais ocupantes dos Palácios da Alvorada e do Itamaraty resolveram declarar guerra - ao bom senso. Vejamos alguns exemplos.
Sem mais nem menos perguntas nem consultas, o interventor José Serra decidiu reverter o voto brasileiro a favor da criação do Estado Palestino na Unesco. Motivo? Será uma reorientação, ou uma necessidade do interventor, que necessita sempre garantir seus votos na Sociedade Hebraica, na Marginal do Pinheiros?
Outra: comprou briga com um sem número de países sulamericanos, por puras razões ideológicas - logo ele, que promete uma gestão “sem ideologias” - num momento em que finamente o Brasil conseguira a unanimidade no continente quanto à sua reivindicação de um posto permanente no Conselho de Segurança da ONU. Sem este apoio, o posto não sairá. Não basta o beija-mão que o interventor quer fazer em relação a Washington, pois sem aquele apoio, Washington vai simplesmente olhar por cima e nem atentar para o “pedido”.
Mais uma: querendo desfilar tranquilo pelas ruas de Paris, pediu para a polícia francesa que retirasse manifestantes anti-golpe do trajeto que pretendia olimpicamente percorrer. Como a manifestação era legal, registrada, e não causava problemas, a polícia simplesmente ignorou o pedido. Mais um vexame que podia ter sido evitado, se o interventor tivesse algum desconfiômetro.
Nos últimos dias, o sinistro, opa, quero dizer, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, anunciou que o Brasil interromperá as negociações com a União Europeia sobre a recepção de refugiados sírios. Quer dizer, anos de negociações do Itamaraty, construindo uma respeitabilidade internacional, estão sendo jogados pela janela apara satisfazer o afã coxinha dos desgoverno Temer.
E ainda houve o desafio do interventor Serra contra a OMC, pondo em dúvida a sua relevância, quando o diretor da entidade é um diplomata brasileiro de alta qualificação no cenário internacional.
Coisas assim não podem acontecer na diplomacia. Dou exemplos, em matéria de grandes guinadas internacionais.
No Brasil: o ministro Azeredo da Silveira (no governo Geisel) catalisou a mudança da política brasileira na África, favorecendo os países emergentes pós-coloniais. Mas isto foi precedido por uma série de aproximações promovidas pelo ministro anterior, Gibson Barbosa, mais conservador, mas que começou a virada. Fora do Brasil: o reconhecimento de Cuba pelos EUA foi precedido por algum tempo de negociação secreta entre os dois países, mediada pelo Vaticano.
E assim por diante.
Os interventores, que estão transformando o Itamaraty numa espécie de trampolim ideológico, estão arrebentando a pontapés décadas de cuidadosa elaboração política de nossa diplomacia, que tem reconhecimento internacional quanto a sua qualificação profissional e competência. Além de estarem jogando fora um sem número de oportunidades futuras em função de uma visão ideologicamente anacrônica, partidária, submetendo a política externa brasileira aos ditames do conservadorismo político-partidário em ascensão.
A ver como o Itamaraty se comporta.