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Quarta, 03 Agosto 2016 17:08

Direita tornar Marx e Engels racistas? Boçalidade da classe média, Carlos Moore e o ódio nos tempos de fascistização

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País: Brasil / Antifascismo e anti-racismo / Fonte: Inquietude Geral

No dia 31 de julho, adornado de adesivos que publicitavam o “Fora Temer, não ao golpe”, após o ato contra o golpe, alguns coxinhas, “mauricebas e patricebas” desmiolados, me abordaram na rua de forma bastante ofensiva e raivosa: “só pode ser um petista comunista”, “vai pra Cuba”, “Marx era racista, protonazista” gritava uma com ares de superioridade e mais um desfile de pérolas fundamentadas num senso comum vil, típico de imbecis sem cérebro que jamais leram algo de Marx, mas muita Veja.

Eis então que um desses elementos asqueroso estava distribuindo um “mosquito” que continha algumas “citações” de Marx, o qual fiz questão de pegar, li apesar do asco: diz, “As classes sociais e as raças fracas demais para conduzir as novas condições de vida devem deixar de existir. Elas devem perecer no holocausto (sic!) revolucionário”. O outro trecho, nauseabundo, tomado aleatoriamente afirma “que a escravidão é uma categoria econômica como qualquer outra... esclarecendo que se trata da escravidão direta, a dos negros do Suriname, no Brasil, nas regiões meridionais da América do Norte... Sendo que, comparado ao resto de nós um nigger (crioulo) é o que há de mais perto do reino animal, ele é, sem dúvida nenhuma, o representante mais adequado para este distrito”. Sem perder tempo e paciência deter-me-ei a comentar essas duas passagens atribuídas a Marx. Fato emblemático ilustra quão reacionária é a etapa por que passamos em termos de regime político. Nesse sentido, cabe nos fortalecer com a discussão ideológica bastante sólida.

OS FALSIFICADORES MOSTRAM SEUS DENTES

A primeira citação trata-se de uma grotesca falsificação, segundo a qual Marx teria proposto a exterminação das “classes sociais e raças fracas”. O artigo de Marx adulterado é o “Forced Emigration” (https://www.marxists.org/archive/marx/works/1853/03/04.htm): “A sociedade está passando por uma revolução silenciosa, à qual é obrigada a se submeter e que leva em conta as existências humanas que ela fragmenta tanto quanto um terremoto se importa com as casas que subverte. As classes e as raças, fracas demais para dominar as novas condições de vida, são obrigadas a ceder. Mas pode haver alguma coisa mais pueril, mais visão estreita, do que as visões daqueles economistas que acreditam com toda sinceridade que esse lastimável estado transitório não significa nada além de adaptar a sociedade às propensões aquisitivas dos capitalistas, tanto senhores de terra como senhores de dinheiro?” (grifos meus). A “revolução silenciosa” não era socialista ou comunista; era antes de tudo capitalista, que forçava as camadas sociais a se adaptarem às novas exigências econômicas. Os termos “holocausto revolucionário” e “raças fracas” são falsos, colocados maliciosamente na boca de Marx, haja vista que holocausto é um termo usualmente ligado aos massacres de judeus pelos nazistas na década de 40 do século passado!

A outra evidencia uma aberração ainda mais sacana por parte da direita, pois em cima de um argumento verdadeiro de Marx acrescenta palavras e conceitos jamais por ele defendidos! Na Carta de Karl Marx a Pavel Vasilyevich Annenkov (Paris, 28/12/1846), explica: “A liberdade e a escravidão constituem um antagonismo. Não há nenhuma necessidade para eu falar dos aspectos bons ou maus da liberdade. Quanto à escravidão, não há nenhuma necessidade para eu falar de seus aspectos maus. A única coisa que requer explanação é o lado bom da escravidão. Eu não me refiro à escravidão indireta, a escravidão do proletariado; eu refiro-me à escravidão direta, à escravidão dos pretos no Suriname, no Brasil, nas regiões do sul da América do Norte... A escravidão direta é tanto quanto o pivô em cima do qual nosso industrialismo dos dias de hoje faz girar a maquinaria, o crédito, etc. Sem escravidão não haveria nenhum algodão, sem algodão não haveria nenhuma indústria moderna. É a escravidão que tem dado valor às colônias, foram as colônias que criaram o comércio mundial, e o comércio mundial é a condição necessária para a indústria de máquina em grande escala... A escravidão é consequentemente uma categoria econômica de suprema importância. Sem escravidão, a América do Norte, a nação a mais progressista, ter-se-ia transformado em um país patriarcal... Mas abolir com a escravidão seria varrer a América para fora do mapa. Sendo uma categoria econômica, a escravidão existiu em todas as nações desde o começo do mundo. Tudo que as nações modernas conseguiram foi disfarçar a escravidão em casa e importá-la abertamente no Novo Mundo” (grifos meus) [https://www.marxists.org/portugues/marx/1846/12/28.htm]. Aqui, Marx com toda sua ironia e sarcasmo contra os economistas burgueses, os “filósofos e socialistas” franceses torpes como Proudhon (Filosofia da Miséria), em sua incapacidade de compreender os processos econômicos da humanidade, explana de forma sucinta os males que a escravatura causou ao mundo, sua preocupação, portanto é com aqueles que acham que a escravidão foi uma coisa boa tanto para a colônia como para a metrópole, contribuindo para “tirar o negro de sua condição primitivista”.

HISTORIOGRAFIA ANTICOMUNISTA A SERVIÇO DO GRANDE CAPITAL

O lado “racista” de Marx e Engels foi difundido como truísmo a partir do artigo de um notório pulha, Rodrigo Constantino – ex-articulista da revista esgoto Veja, jornal O Globo e Folha de S.Paulo, discípulo assumido do “astrólogo” anticomunista Olavo de Carvalho! Como fascistas não se interessam pela hermenêutica, copiam feito aloprados quaisquer bobagens que campeie o solo do marxismo. O trecho “sendo que, comparado ao resto de nós, um nigger (crioulo) é o que há de mais perto do reino animal, ele é, sem nenhuma dúvida, o representante mais adequado para este distrito” é de autoria exclusiva do senhor RC, cujo leitor da Veja e O Globo assimilou em seu ódio. O original para quem tiver estômago para ler está aqui:http://oglobo.globo.com/opiniao/imperialistas-arianos-racistas-11905014.

Corrobora com o fervor anticomunista a difusão historiográfica, por exemplo, de um Carlos Moore (O Marxismo e a questão racial, 2010), quem dedica sua vida a criticar o marxismo adotando uma pseudoneutralidade em suas concepções políticas, atribuindo a Marx defensor efervescente da supremacia branca, ou seja, de um suposto arianismo. Professa em última instância seu ódio de classe aos militantes marxistas, combate o socialismo através de juízos de valores e adjetivos superlativos e defende que o conjunto da obra de Marx é imutável e universalista ao extremo. Tem se destacado como árduo anticastrista (guzano) e como tal recebe aportes da CIA e do USAID em suas viagens pelo mundo. Em 2014, na UERJ teria insultado em sua honra vários militantes do PCB. Ao lado deste também aparece o livro do americano ex-comunista Nathaniel Weyl, intitulado “Karl Marx, Racist”(1979), notório verme apoiador do governo da minoria branca na África do Sul contra os “terroristas comunistas”, como se referia a Mandela.

MARX DESMISTIFICOU INCLINAÇÕES MORAIS INATAS

Na “Ideologia Alemã”, Marx em clara evolução de seu pensamento refuta completamente as ideias racistas que permeavam a Europa de meados do século XIX e as inclinações morais inatas são notadamente desmistificadas: “[…] somos forçados a começar constatando que toda a existência humana, portanto, de toda a história, é que os homens devem estar em condições de viver para poder ‘fazer história’. Mas para viver é preciso antes de tudo comer, beber e ter habitação, vestir-se e algumas coisas mais. O primeiro ato histórico é, portanto, a produção dos meios que permitam a satisfação destas necessidades, a produção da própria vida material, e de fato este é o ato histórico, uma condição fundamental de toda a humanidade”. Não obstante seus erros e limites, Marx e Engels eram produtos históricos de seu tempo. A ciência não é dona de uma verdade absoluta e irrefutável. O seu oposto seria uma religião... No capitulo 24 do Livro I do Capital, Marx usa termos fortes como “extermínio”, “escravização” e “soterramento” para demonstrar objetivamente a violência com que o capitalismo se expandiu para o mundo em sua origem a partir da Europa. Eurocentrista e pró-colonialista? Aceitar isso é assumir profunda ignorância em relação a Marx e seu parceiro Engels!

A direita esbulha não reluta, nem tem rubores em desferir golpes baixos no cabedal teórico-politico marxiano com ajuda de pseudointelectuais e da mídia corporativa, desconsidera sumamente a obra intelectual do grande gênio Marx em sua totalidade e entendida dentro do contexto temporal de seu pensamento! Fascistas temem os argumentos, por isso querem impor a “escola sem partido”, sem discussão...

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