A decisão tomada pelo Senado de destituir Dilma Rousseff da Presidência da Republica configurou um golpe de estado parlamentar.
O impeachment foi aprovado por 61 votos contra 20.
O Senado durante o debate mais parecia o palco de uma comédia dramática de Molière do que o plenário da Camara Alta do Congresso. Dias antes, Renan Calheiros, o seu presidente, em resposta irada a uma senadora do PT, qualificou o plenário de «manicómio».
O discurso de defesa de Dilma foi corajoso; falou muito do seu passado, mas simulou ignorar a sua desastrosa governação.
Não houve surpresas. O veredicto fora definido com muita antecedência pela engrenagem montada pelas forças mais reacionárias do Brasil.
As acusações contra Dilma eram de uma fragilidade transparente. Não a responsabilizaram por envolvimento em crimes de corrupção. Foi acusada de utilizar ilegalmente fundos públicos (mas não em beneficio pessoal),de manipular o orçamento, e de violar normas fiscais.
É do domínio pública que sobre o atual presidente Michel Temer e sobre o presidente do Senado e dezenas de senadores e deputados pesam acusações gravíssimas de corrupção, muitos deles envolvidos no Lava Jato, mas paradoxalmente, no julgamento de Dilma desempenharam o papel de acusadores e não de réus.
Em toda a América Latina, o golpe parlamentar provocou uma vaga de indignação e uma chuva de protestos. Mas Washington reagiu com satisfação. As forças que derrubaram Dilma contam com a confiança de Obama e de Wall Street. O governo de Temer executará com docilidade uma política de total submissão ao imperialismo.
A deprimente farsa do julgamento de Dilma não contribuirá porém para melhorar a opinião do povo brasileiro sobre o seu governo. A imagem que dele fica para História é péssima.
Dilma Rousseff nos seus dois mandatos violou ostensivamente os compromissos assumidos com o seu eleitorado.
Contrariamente ao que afirma, a sua política teve um cariz neoliberal. Favoreceu o grande capital, cedeu desde o início a exigências do imperialismo americano, fez privatizações, promoveu alianças espúrias com partidos da direita, permaneceu passiva perante a corrupção galopante do PT.
A sua ministra da Agricultura Katia Abreu, aliada dos latifundiários, travou o avanço da Reforma Agraria, e Dilma assistiu passiva ao criminoso desmatamento da Amazónia.
A solidariedade de Lula somente a prejudicou. O ex-presidente, envolvido em negociatas sujas, está hoje atolado num mar de corrupção. Desprestigiado, presta no momento contas à Justiça.
Não há atenuantes para o golpe institucional que destituiu Dilma. Mas a gravidade da conspiração que a afastou da Presidência da República não tem o poder de apagar o óbvio: a herança devastadora da sua política.
OS EDITORES DE ODIÁRIO.INFO