Desde logo porque, dado o peso político e económico do país, isso significaria o começo de uma viragem no curso seguido pela América Latina nas últimas décadas (Venezuela, Bolívia, Equador, mas também Chile, Argentina, Uruguai), nada favorável aos interesses norte-americanos.
Depois porque o Brasil pertence ao grupo de países designado por BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul), uma espécie de “não alinhados” da actualidade que causa dores de cabeça aos imperialismos dominantes. Os acordos comerciais entre os cinco, com o sentido de se privilegiarem como parceiros estratégicos, correm à margem dos interesses não apenas dos EUA, mas também da UE e do Japão. Nomeadamente no caso do petróleo brasileiro, os negócios têm sido feitos em prejuízo das petrolíferas norte-americanas.
Mas, mais do que isso, a criação pelos BRICS do Novo Banco de Desenvolvimento — fundado em Julho de 2014 e em funções desde Julho de 2015, com um capital inicial de 100 mil milhões de dólares — é uma ameaça directa à hegemonia do FMI e do Banco Mundial e, portanto, também uma ameaça ao domínio do dólar como moeda mundial.
A derrota de Aécio Neves (o candidato preferido pelo grande capital brasileiro e pelos EUA) nas últimas presidenciais brasileiras, em 2014, foi portando um revés para os propósitos norte-americanos. Tudo indica que se Neves ganhasse, o governo brasileiro seria recheado com homens da confiança de Washington. Com efeito, o seu principal assessor económico — que viria naturalmente a ser ministro da Fazenda (Finanças) — era Armínio Neto, com dupla nacionalidade norte-americana e brasileira, amigo e ex-sócio do especulador George Soros. E o principal conselheiro — apontado para ministro das Relações Exteriores — era Rubens Barbosa, ex-embaixador em Washington e actual director da ASG em São Paulo. A ASG é um grupo de consultores de Madeleine Albright, ex-Secretária de Estado norte-americana com Bill Clinton, e líder do “Conselho sobre Relações Exteriores”, o principal grupo de “reflexão” dos Estados Unidos, e ainda presidente do “Instituto Democrático Nacional para Assuntos Internacionais” (NDI), uma ONG financiada pelo governo dos Estados Unidos, que promove as chamadas “revoluções coloridas”. (*)
Como se diz nos enredos policiais: não faltam ao suspeito motivos e meios para cometer o crime.
(*) Dados do artigo “EUA já agem para derrubar Dilma Rousseff”, de F. William Engdahl publicado em 2014 na revista norte-americana NEO – New Eastern Outlook e republicado em revistas brasileiras.