O possível governo Temer, antes mesmo de assumir, já dá amostras de extrema debilidade e fraqueza. Para que a “receita neoliberal” do imperialismo avance é preciso um governo que reuna as condições necessárias para atacar as massas e conter a explosão social. Esse, certamente, não seria o governo Temer.
Nesta quinta-feira, dia 05 de maio, o ministro do STF, Teori Zavascki, afastou o Presidente da Câmara dos Deputados, o deputado evangélico e ultrarreacionário, Eduardo Cunha (PMDB). Essa ação representa o abatimento dos setores mais fracos da direita nacional. Até mesmo Temer foi enquadrado na Lei da Ficha Limpa, pelo Supremo Tribunal Federal, que o torna inelegível pelos próximos oito anos, mas isso não impede que ele assuma o governo caso Dilma sofrer o impeachment.
O Supremo Tribunal Federal é o mais restrito dos três poderes, no qual mandam apenas 11 ministros com mandato vitalício e não eleitos por ninguém. A mando do imperialismo, o STF passou a ser a principal instância de decisão do país e age por fora dos demais mecanismos institucionais, criando uma espécie de governo paralelo.
POR QUE O IMPERIALISMO ATACA OS FIGURÕES DA DIREITA?
A saída de Eduardo Cunha foi diretamente orquestrada pelo imperialismo. Esse, no entanto, é apenas um pequeno exemplo da configuração de governo que o imperialismo quer impor. No lugar de Cunha, subiu o vice-presidente da Câmara, o deputado Waldir Maranhão (PP-MA), que foi eleito com apoio do próprio Cunha. Maranhão é um dos 32 integrantes do PP (Partido Progressista) investigados na Operação Lava-Jato, controlada pela Polícia Federal, outro órgão que está nas mãos do imperialismo.
O Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, ameaça levar Lula e os ministros petistas para a cadeia na tentativa de forçar a cúpula do PT a se submeter aos interesses da direita. Em paralelo, em um dos dois pedidos ao STF de abertura de inquérito contra Aécio Neves (PSDB-MG), Janot solicitou também que a investigação se estenda ao Prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), com base na delação premiada do Senador Delcídio do Amaral.
O objetivo dessa campanha representa a eliminação dos elementos de desestabilização de um futuro governo, como pode ser visto claramente agora, com os órgãos controlados diretamente pelo imperialismo atacando os figurões da direita. Um governo encabeçado por esses elementos enfrentaria muita dificuldade para impor os “ajustes” necessários para o imperialismo.
Um governo fraco que comece a atacar os trabalhadores não teria chances de se sustentar. Para que ele avance em seus planos, seria necessário a ajuda da “frente popular”, encabeçada pelo PT, para conter as mobilizações populares. A outra alternativa seria partir rumo a um golpe militar para agir violentamente contra as massas e suas organizações.
O BRASIL NÃO É UMA EXCEÇÃO NA AMÉRICA LATINA
No Brasil, houve uma virada na situação política quando Lula foi levado preso pela Polícia Federal em março. Antes desse acontecimento, a direita atacava sistematicamente o governo do PT. Isso era visível na intensa campanha feita pela Rede Globo, pela Revista Veja que diariamente abriam uma campanha brutal contra Dilma e Lula.
Após a tentativa de prisão de Lula, as bases petistas entraram em movimento de forma espontânea. No entanto, no ato ocorrido horas depois na Quadra dos Bancários, Lula e toda a cúpula do PT “esfriaram” a radicalização das bases transferindo a combatividade da militância para o campo eleitoral e a defesa da vitória presidencial de Lula em 2018.
O Ato do dia 31 de março contra o golpismo mostrou a retomada da radicalização e a pressão exercida pelas bases contra a burocracia sindical e dos movimentos populares e em geral da “frente popular”. Em Brasília, Gilmar Mauro, da direção do MST, devido à pressão das bases, “guinou à esquerda”, ao menos no discurso. Falou contra o plano de “ajustes” e em defesa da reforma agrária e do socialismo. Com isso, Lula se viu obrigado a, novamente, direcionar toda as manifestações para o campo parlamentar. De enfrentamento com a direita, as manifestações se transformaram em “torcida organizada” para a contagem de votos dos parlamentares contra o impeachment.
A partir de então, a direita, em geral, reduziu a agressividade contra o PT. A Rede Globo começou a atacar também a direita. Isso ficou evidente após a imprensa burguesa divulgar a lista da Odebrecht envolvendo vários políticos da direita, inclusive Cunha. A pressão contra o PT, no entanto, continua, mas de forma cirúrgica.
Conforme a crise do regime político se acentua, a pressão da direita para mudar o sistema presidencialista pelo sistema parlamentarista no Brasil caminha no mesmo sentido. A proposta, que partiu do PSDB, tramita no Senado de maneira “silenciosa” há várias semanas. Na propaganda da Rede Globo e dos demais “PIGs” (partido da imprensa golpista), isso está transparecendo de maneira cada vez mais aberta.
O GOVERNO QUE O IMPERIALISMO BUSCA IMPOR NA AMÉRICA LATINA
A ala do imperialismo representada pela direita tradicional, encabeçada pela Administração Obama, busca impor governos ao estilo de Maurício Macri, da Argentina. O modelo de governo “macrista” é o da “coalizão nacional” baseado no apoio da ala direita do kirchnerismo, principalmente dos governadores, e de outros setores do peronismo, como o liderado pelo ex-candidato presidencial Sérgio Massa, além de parte da burocracia sindical, como a ligado à central sindical CGT liderada por Moyano, do setor dos transportes.
A pressão imposta pela Administração Obama pretende fortalecer a nova direita “neoliberal”, em detrimento dos setores de cunho nacionalista que perderam o fôlego devido à perda de recursos para colocar em pé os programas de controle social. Macri, por exemplo, somente passou a impor a parte mais pesada do plano de “ajustes fiscais”, que seria o pagamento aos fundos abutres, a emissão de títulos da dívida pública em grande escala e a aplicação de terríveis “tarifaços” (aumentos das tarifas públicas), quando conseguiu uma maioria parlamentar com ajuda dos acordos com o peronismo e o kirchnerismo.
Essa política da direita tradicional imperialista fica ainda mais clara quando avaliamos a campanha para as eleições que acontecerão neste ano nos Estados Unidos. A família Bush declarou publicamente que não apoiará Donald Trump como candidato do Partido Republicano, mas apoiará a candidata do Partido Democrata, Hillary Clinton. Isso deixa claro que há um agrupamento por trás da política representada pela Administração Obama. Os setores majoritários da burguesia monopolista têm receio de apoiar políticas abertamente de extrema-direita, nesse momento.
O imperialismo tem se visto enfraquecido devido o esforço brutal para salvar os monopólios da bancarrota após o colapso de 2008. Políticas muito mais duras que possam avançar na direção do golpe militar poderiam desestabilizar países como o Brasil que tem uma forte influência na região e no mundo.
MÉXICO: PONTA DE LANÇA DO IMPERIALISMO
O modelo de governo imposto pela Administração Obama está enraizado em países como o México e a Colômbia. No México, por exemplo, há dois anos e meio atrás, foi imposto o governo de Peña Nieto (Partido Revolucionário Institucional) de maneira ultra fraudulenta. A fraude foi tão grande que gerou o movimento “Yo Soy 132”.
Peña Nieto conseguiu montar um governo de “coalizão” com a direita agrupada no PAN (Partido de Ação Nacional) e que incluía o PRD (Partido da Revolução Democrática), o partido do eterno fraudado candidato a presidente Lopes Obrador, que é uma dissidência à esquerda do PRI. Com essa aliança montada, Peña Nieto conseguiu leva-la a outros patamares para fechar acordos com outros partidos e manter a unidade dentro do PRI, incluindo o grosso da burocracia sindical, controlando todos os principais sindicatos do país a partir da CTM (Central dos Trabalhadores Mexicanos).
O objetivo dessa “coalizão” era aplicar o plano de “ajustes fiscais”, a começar pela reforma trabalhista. Isso porque os Estados Unidos tinham movimentado para o México uma parte importante das manufaturas, inclusive da China, pois na China os salários tinham aumentado exponencialmente passando de U$ 30, na década de 1980, para mais de U$ 300 nas principais cidades. No México, o salário, após a reforma trabalhista, foi rebaixado.
O próximo passo dos “ajustes fiscais” foi a tentativa de Peña Nieto de privatizar o setor da educação. Isso gerou verdadeiras revoltas da categoria, que foram muito fortes em dois Estados importantes, Guerrero e Oaxaca, e que acabaram derrotando a tentativa.
O sucesso maior dos “ajustes” de Peña Nieto foi a privatização da empresa nacional de petróleo, a PEMEX, que vinha de um processo grande de sucateamento, entregando por completo o petróleo aos monopólios. No entanto, essa política entrou em crise após a PEMEX passar a dar prejuízos e não lucros, como havia prometido Peña Nieto.
Neste momento, a política prioritária do imperialismo para o México, e toda a América Latina, consiste em integrar ainda mais o país com os Estados Unidos ligando a região à Aliança Trans-Pacífico (TPP) e futuramente à Aliança Trans-Atlântica. O objetivo é facilitar o controle das riquezas da região pelos monopólios e debilitar os mecanismos de controle, embora fracos, reduzindo a já convalidada soberania dos países latino-americanos.
CHILE: O COLAPSO DA “NOVA ONDA NEOLIBERAL”
Uma situação um tanto sui generis, no mesmo sentido que o México, também pode ser vista no governo de Sebastián Piñera no Chile. Piñera era o acionista principal da Lan Chile (a empresa de aviação) e um reconhecido apoiador do regime de Pinochet. Os ataques neoliberais do governo Piñera geraram gigantescas manifestações estudantis, muitas delas radicalizadas no movimento secundarista e universitário. Realizaram-se grandes greves nos portos, no setor madeireiro e houve enfrentamentos com os indígenas Mapuches. Sebastián Piñera chegou ao final de seu governo com a “língua de fora” e acabou sendo substituído por um novo governo da Concertación, encabeçado por Michele Bachelet.
O aspecto sui generis da política no Chile se dá porque os governos da Concertación, desde quando Lagos foi presidente, mantiveram em pé o grosso da política econômica implanta por Pinochet.
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