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Domingo, 09 Outubro 2016 15:12 Última modificação em Quinta, 13 Outubro 2016 13:54

Machismo e banalização do estupro

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País: Brasil / Mulher e LGBT / Fonte: A Verdade

Pesquisa encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública expôs, mais uma vez, o quanto a cultura do estupro está banalizada na sociedade brasileira. Segundo o levantamento, um em cada três brasileiros culpa a mulher por sofrer estupro. Dos 3.625 entrevistados, 30% concordaram com a frase “A mulher que usa roupas provocativas não pode reclamar se for estuprada”.

No Brasil, cerca 50 mil mulheres são estupradas por ano. Especialistas estimam que apenas 10% dos casos sejam registrados, o que indicaria que os números podem chegar a 500 mil estupros anualmente. A pesquisa revelou ainda que 85% das mulheres têm medo de sofrer um estupro. No Nordeste este índice aumenta para 90%. Em 70% dos casos de estupro registrados, o agressor é conhecido da vítima.

De acordo com o SUS, em 70% dos casos de estupro a vítima é uma criança ou adolescente. A maioria dos casos de violência sexual nas ruas ocorre contra mulheres em deslocamento para o trabalho. As mulheres negras são as que mais sofrem com este tipo de violência.

Muitas vezes, a mulher que sofre esta violência tem vergonha, medo e profunda dificuldade de falar, denunciar, pedir ajuda. Quando consegue ter condições de denunciar é muito mal assistida pelos aparatos de segurança do Estado, ocorrendo uma culpabilização, sendo questionada sobre sua roupa, seu comportamento, local onde estava etc., como se isso justificasse a violência sofrida.

Para 50% dos entrevistados, a Polícia Militar não está preparada para atender mulheres vítimas de violência. Nove em cada dez reclamações feitas à Ouvidoria da Secretaria de Políticas para as Mulheres são queixas contra o serviço de atendimento da PM, a assistência prestada em delegacias de polícia tradicionais e, inclusive, nas especializadas no combate à violência contra a mulher.

O que faz os brasileiros pensarem assim?

Vivemos em uma sociedade capitalista e patriarcal, sob uma ideologia que estimula o machismo. Assim, em nossa sociedade a mulher é encarada como um objeto. Ela é tida como propriedade do homem, seja ele pai, irmão, namorado, marido ou patrão.

Esse pensamento faz com que os homens sejam formados, desde pequenos, para controlar as mulheres, colocá-las cumprindo o papel de responsáveis pela casa e pelos filhos e sempre à disposição para satisfazer os desejos do homem, inclusive sexuais. Enquanto objeto, ela é sempre culpada de seduzir os homens.

No Brasil, a cultura do estupro pode até não ser evidente, mas está implícita nas músicas, filmes, novelas, piadas, propagandas, etc. Quem nunca viu alguém vibrar quando uma vilã de novela apanha do mocinho? Ou cantar um sucesso que descreve a mulher como um objeto? A ideologia machista é tão enraizada que faz com que inclusive mulheres reproduzam tamanho absurdo.

Estupro não tem a ver com sexo (ou desejo), e sim com poder

O estupro acontece no mundo há milhares de anos. No Brasil, era amplamente praticado contra índias e negras escravizadas, e também na época da ditadura militar. Segundo Amelinha Teles, militante comunista torturada no DOI-Codi/SP, “na ditadura brasileira o estupro era usado como arma de guerra”.

Isso mostra que estupro não é sexo. Sexo é a relação consensual entre dois adultos, que sabem exatamente o que estão fazendo, sem haver qualquer coerção para isso. Estupro, por outro lado, não tem como fim o prazer sexual. É um crime de poder, uma forma de controle social, em que a submissão do outro é o que importa.

A educação tem um papel muito importante para a desconstrução desta ideologia e do machismo. Se homens não nascem estupradores, mas se tornam, também podemos formar homens novos. Para isso é preciso unir a luta contra o machismo à luta por uma outra sociedade, em que não haja exploração do homem pelo homem, nem da mulher pelo homem, a sociedade socialista.

Por isso, é fundamental a luta das mulheres. E essa luta tem que ser cada vez mais organizada e unificada. Lutar contra o machismo é lutar pela vida das mulheres, por respeito e dignidade.

Gabriela Gonçalves, Movimento de Mulheres Olga Benario

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