O caderno, prelúdio do exílio e se calhar profecia, paira sobre o mundo que nos centrifuga. Agitar a vida enquanto a vida nos sacode. A voragem, o trabalho e o desfase. O atrever-se. Em terra de cegos, o que tem um olho é rei: ver a floresta que as árvores tapam. Ver a floresta por última vez.
As aranhas nom comem borralha, nem as pessoas se nutrem de recordos. A comida, o dinheiro, o trabalho. A ordem estabelecida e a vontade de a subverter. O monstro que mora no fundo do poço que guarda a chave da vida.
A imagem ideal da chave é indissociável do ecoar dos rugidos do monstro no fundo da alma. Da própria alma. O pensamento de Cibrán O Castizo, a Negra Sombra, o abismo. Ficar com as costas contra a parede do túnel enquanto o trem se aproxima. O terror e a vontade de nos arrebolarmos à via.
Nom-lugares, nom-pessoas, manequins. Autovias e centros comerciais. O sorriso congelado do boneco. Opor a morte a essa felicidade estática na que lateja o monstro mudo. O atrever-se. Ir pouco a pouco olhando-o de esguelho. Empunhar a morte para aguilhoar a epiderme do monstro.
Houvo um tempo em que a poesia era história e a história poesia. Hoje é o caso, porque estamos na Antiguidade do amanhá. Algum dia haveremos saber quem somos. Entretanto, o espelho devolve-nos o escarro.
Os cadernos están á venda nos centros sociais Escárnio e Maldizer e a Casa do Peixe e na livraria Chan da Pólvora todos estes lugares em Compostela.
A seguinte apresentação será na Fundaçom Artábria o 2 de Junho pola tarde.