EDITORIAL: Galiza e Portugal, irmãos separados?
Dois estados separados por uma fronteira frágil e por preconceitos fortes – assim se poderia definir a situação das relações entre Portugal e a Galiza. Alguns portugueses e galegos têm procurado dissipar essa indiferença. Manuel Rodrigues Lapa autodefiniu-se como «galego do Sul» e outros intelectuais, como Castelao, Calero. Lindley Cintra, Ernesto da Cal, têm procurado estabelecer as relações que deveriam unir dois estados que deveriam comportar-se como irmãos e não como vizinhos que se cumprimentam formalmente. Tudo o que é importante nos liga; ninharias, preconceitos e interesses políticos nos separam. Portugal começou por ser um condado do reino da Galiza, nascidos de um tronco comum. Em poucas linhas, eis a história da Galiza, um estado submetido ao centralismo de Madrid e não uma «região» de Espanha, como nos querem fazer crer.
O reino da Galiza, dependeu de jure até já entrado o século IX do reino das Astúrias (ou de Leão). Quando Afonso II, o Casto, divide o território pelos três filhos – Garcia I, de Leão, Fruela II, das Astúrias e Ordonho II, da Galiza, a Galiza é referida como reino independente de facto. No entanto foi dependendo politicamente de outros reinos – de Leão. Até 1230 e de Castela, até 1516, quando os reis «católicos», conquistada Granada, começam a dar aos seus reinos o nome de Espanha.
A Galiza começa a ser aculturada por Castela e o idioma galaico-português é progressivamente transformado em dialecto do castelhano. Politicamente, a Galiza deixa de existir.
Mas o idioma sobrevive. A Sul, Portugal, desde o século XII, adopta-o, usa-o, desenvolve-o. E hoje, o galego-português vai a caminho dos 300 milhões de falantes e, com uma margem de progressão enorme (sobretudo em Angola e Moçambique), podendo mesmo, em poucas décadas, ultrapassar o castelhano.
Apoiar a luta dos galegos pela dignificação da nossa língua comum, é uma das lutas prioritárias do nosso blogue.