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Diário Liberdade
Domingo, 05 Fevereiro 2017 18:32 Última modificação em Sábado, 11 Fevereiro 2017 09:57

Essa parvoíce da linguagem Destaque

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/ Mulher e LGBT / Fonte: Feminismo na Galiza

Um idioma é a cosmovisom dumha comunidade de falantes. Cada idioma apreende-nos umha certa conceiçom do mundo e com ela transmite-se parte do pensamento, do jeito de agir e sentir que tem umha sociedade.

Ao mesmo tempo a língua actua no interior da pessoa, servindo de veículo de articulaçom do pensamento conformando o que chamamos funçom de identidade.

A medida que apreendemos umha língua imo-nos informando do mundo que nos rodeia e a conceiçom da realidade que nos transmite vai condicionar as nossas formas de pensar, ser e estar.

Umha realidade social conformada polo patriarcado manifesta umha discriminaçom de género que se reflicte numha conceiçom do mundo androcéntrica; o ser humano masculino considera-se como centro do universo e fai equivaler o masculino ao humano em geral.

Esta ordenaçom da sociedade patriarcal transmite-se por umha linguagem também androcéntrica, onde o masculino (e estamos a falar quando o género gramatical se refere a homes e mulheres) tem duas valências: considera-se genérico, integrador, universalizador e, ao mesmo tempo, específico, só para os seres humanos de sexo masculino; polo tanto a utilizaçom quantitativa e qualitativa é enorme, configurando-se na “norma”. O feminino só se vai utilizar como termo específico para referir-se ás mulheres, significa a excepçom, o residual, o outro, o que nom tem categoria abondo para abranger a toda a humanidade.

Esta posiçom assimétrica dá muití­ssimo rendemento ao patriarcado assentando as suas bases: hierarquizaçom do masculino sobre o feminino, confusom muito propi­cia entre o masculino e o humano e ocultamento e silenciamento do feminino.

No estudo da adquisiçom da linguagem nos seres humanos nota-se em falta saber como actua na formaçom da personalidade das nenas esta categorizaçom da língua. Há umha aprendizagem que tenhem que fazer muito aginha e da que os nenos nom se tenhem por qué preocupar: quando o masculino é genérico e as engloba também a elas e quando é específico e as exclue? Que confusom mental, que especie de esquizofrenia dá-se nas nenas tendo que apreender a diferenciar isto? Que vantages tenhem os nenos, desde tam cedo, sendo o paradigma de tudo, veiculizado também pola linguagem?

Numha sociedade hierarquizada por géneros, o masculino, utilizado como universalizador remite inconscientemente no pensamento a um referente masculino específico, ser humano do sexo masculino, ocultando o feminino e impregnando o pensamento das pessoas da inferioridade que supom este género (os homes, os trabalhadores, os vizinhos, os dirigentes, os estudosos…)

A utilizaçom do masculino como universalizador vem sendo, deste jeito, umha agressom mais do patriarcado, mas ante as protestas feministas lembra-se-nos que devemos sentir-nos incluídas nesse masculino integrador tam correcto gramaticalmente e que o mundo nom vai mudar por empregar o feminino e o masculino tam contrário á economia da linguagem.

Que dirí­amos se nos apresentassem ante outros povos como pessoas espanholas? Nós, rapidamente pontolizariamos que somos galegas, ante o qual poderiam responder-nos que A Galiza já está incluí­da na Espanha. Consideraríamos isto como um silenciamento, como umha agressom ante o que somos. Explicaríamos que é umha imposiçom histórica e que, aí­nda que legalmente seja assim, nom concordamos com isso e estamos a luitar para que mude.

As mulheres vemo-nos abocadas a utilizar o masculino aí­nda quando só haja um integrante masculino dentro do grupo de falantes e, se nom é assí­m, aginha se escuitam protestas ou rectificaçons. “Estamos todos?” “Quem é o director do centro” as mulheres temos a obriga de considerar normais estes enunciados, mas experimentade a emprega-los em feminino. A utilizaçom do feminino como genérico causa risa, mas o que há que analisar é que nestes casos nom é a suposta “incorrecta utilizaçom gramatical” o irrisório, senom a inclusom de alguém de género masculino dentro do que se considera socialmente um grupo inferior: ser mulher é rebaixar a categoria. Assim é certo que a mudança da lí­ngua nom vai mudar o mundo. Somos bem conscientes de que nom é tam fácil, mas sim é obrigar-nos a mudar os esquemas mentais, descubrir onde está a discriminaçom oculta e buscar alternativas.

Os caminhos nom estám fechados, dam-se numerosas alternativas na fala e na escrita: reduplicaçons, “abertas e abertos”; termos mais genéricos, “os seres humanos”, “a vizinhança”; a utilizaÃçom de “pessoa” mais a qualificaçom a continuaçom, “as pessoas trabalhadoras”; a utilizaçom do feminimo como genérico ante grupos mistos para chamar a atençom sobre o problema, a utilizaçom do feminino primeiro nas enumeraçons “companheiras e companheiros” (nas enumeraçons começa-se polos termos mais importantes, seria, logo, umha medida de acçom positiva); a proposta de que isto se faga por orde alfabética, “amiga e amigo” mas “assessor e assessora”… Poderiamos seguir falando de soluçons lingüisticas porque tudo isto ainda está fervendo na pota e nada é definitivo. Complicado? na medida que precisamos pensar, sim; mas o que cumpre é ter vontade. A língua é algo vivo e maravilhoso que tem dentro da sua própria estrutura infinitas possibilidades e a imaginaçom nom nos falta para criar um outro mundo nom patriarcal.

Pim Patinho Penya[Publicado, em Julho de 2002, em DELIBERADAMENTE revista das MNG]

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