Novamente no sábado, os chefes dos respectivos conselhos nacionais de segurança do Irã e da Rússia, almirante Ali Shamkhani e Nikolai Patrushev conversaram por telefone, sobre a Síria. Shamkhani sugeriu, baseado em inteligência disponível em Teerã, que o ataque químico em Idlib dia 4 de abril foi executado "por terceiros, para criar um pretexto para levar a efeito um ataque militar (dos EUA) contra a Síria."
Em termos gerais, Moscou e Teerã manifestaram idêntica demanda de que se faça investigação independente do ataque químico em Idlib para estabelecer e fixar a culpabilidade. Ambas as capitais condenaram em termos incisivos o ataque norte-americano como ato "de agressão" e violação da Carta da ONU e da lei internacional.
Abaixo reproduzo o texto da declaração do Kremlin, de hoje:
- Por iniciativa dos iranianos, fez-se hoje uma conversa por telefone entre Vladimir Putin e o presidente da República Islâmica do Irã Hassan Rouhani (...). [Os presidentes] trocaram ideias sobre as respectivas visões da situação na Síria.
- Os dois lados destacaram a inadmissibilidade das ações agressivas pelos EUA contra o estado soberano, que viola a lei internacional. Putin e Rouhani demandam investigação objetiva, imparcial de todas as circunstâncias do incidente que envolveu armas químicas dia 4 de abril, na província de Idlib.
- Os dois dirigentes destacaram especialmente os aspectos chaves da cooperação bilateral na esfera do contraterrorismo, e a prontidão para aprofundar essa cooperação, quando necessário para assegurar a estabilidade no Oriente Médio.
- Os presidentes também chamaram a atenção para a importância de se manter íntima cooperação nos campos político e diplomático para alcançar acordos que ponham fim ao conflito armado na Síria.
A declaração fala de intensificarem-se as operações russo-iranianas na Síria. A intenção pode ser acelerar a libertação de áreas que ainda estão sob controle do ISIS e de grupos afiliados à Al-Qaeda. Importante: a província de Idlib, que tem fronteira com a Turquia, é uma dessas áreas prioritárias. Os grupos extremistas ativos em Idlib ainda contam com o apoio da Turquia; e alguns deles sempre foram, tradicionalmente, prepostos da CIA norte-americana.
Em segundo lugar, é mais do que provável que se organizem discussões sobre como contra-atacar qualquer futuro ataque dos EUA na Síria. A mídia iraniana ligada ao Corpo de Guardas da Revolução Islâmica do Irã comentava hoje uma declaração emitida pela chamada "Sala de Operações Conjuntas" de Síria-Irã-Rússia – que coordena as estratégias militares na Síria. A declaração alertava que quaisquer futuras agressões pelos norte-americanos receberá "resposta letal": "Responderemos com força a qualquer agressão; Rússia e Irã jamais permitirão que os EUA dominem o mundo."
Significativamente, as mais recentes declarações iranianas referiam-se à cooperação estratégica entre Irã, Síria, Rússia e a "frente da resistência". A declaração do Kremlin hoje falava explicitamente de uma mútua "prontidão" de russos e iranianos para "aprofundar a cooperação com vistas a assegurar a estabilidade no Oriente Médio." Consideradas todas essas declarações oficiais, a cooperação militar russo-iraniana na Síria pode assumir novas dimensões, como estratégia regional coordenada.