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Diário Liberdade
Quinta, 22 Junho 2017 00:50 Última modificação em Domingo, 25 Junho 2017 12:35

Trump, o presidente gangster

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País: Estados Unidos / Institucional / Fonte: O Diário

[Fred Goldstein] A classe dominante é responsável por manter Trump no poder e por tudo o que de racista e reaccionário ele fizer. Trump é o seu representante como classe e as massas populares devem considerar os capitalistas responsáveis por todos os crimes que Trump cometer contra o povo.

A maior parte dos altos funcionários governamentais, eleitos ou nomeados, e de acordo com a sua função na sociedade capitalista, tem características de tipo gangster. Estes funcionários despendem a maior parte do seu tempo conspirando com os ricos para esquemas de espoliação ou outros ataques às massas populares. Ao contrário das máfias, porém, têm que conduzir os seus esquemas no quadro da política capitalista.

A máfia diferencia-se das instituições capitalistas no sentido em que na condução dos seus crimes não está constrangida pela legalidade. Antes pelo contrário, as actividades mafiosas funcionam fora dos limites da legalidade burguesa com o consentimento silencioso da classe dominante e das suas agências de defesa da lei. Além disso, os crimes mafiosos são de uma escala muito inferior aos crimes do Pentágono, CIA e FBI.

Dito isto, de entre os políticos burgueses com perfil de gangster, Donald Trump destaca-se dos restantes. É um bilionário do imobiliário cheio de mimo que tem procedido dando ordens aos seus funcionários, enganando empreiteiros e sufocando trabalhadores. Quando é apanhado numa asneira, mobiliza o seu exército de advogados para resolverem a questão.

Ganhou a presidência utilizando a sua carreira televisiva como trampolim e tirando partido da completa falência da liderança do Partido Democrático. Os seus estrategas de campanha tiraram também partido da instituição não-democrática Colégio Eleitoral para obterem uma vitória eleitoral ainda que perdendo no voto popular (Hillary Clinton, claro, era igualmente uma inimiga do povo, corrupta e militarista, controlada pela Wall Street.)

A Presidência como via para enriquecer (mais)

Trump não apenas recusou privar-se dos biliões em activos, como também procurou ganhar ainda mais a partir da sua posição na Casa Branca. Continua a pressionar os líderes estrangeiros e seus acompanhantes para ficarem no seu hotel em Washington. Aumentou a quota de membro do clube de golfe Mar-a-Lago de $100,000 para $200,000. Recusou mostrar a sua declaração de impostos para esconder os investimentos. Tem negócios na Turquia, no Azerbaijão e noutros locais à volta do mundo. Concebeu um plano de impostos pelo qual ele e os magnatas amigos beneficiam de centenas de milhões de dólares.

A filha, Ivanka Trump, divulgou e continua a divulgar a sua marca por todo o mundo. O genro e principal conselheiro (Jared Kushner) mantém um império imobiliário pessoal, “Embora o Sr. Kushner se tenha demitido em Janeiro da sua função de administrador principal das Companhias Kushner”, segundo o New York Times de 26 de Abril, “continua a ser o beneficiário de fundos proprietários de grandes negócios do imobiliário. A firma participou na última década em cerca de 7 mil milhões de dólares de aquisições, muitas delas apoiadas por parceiros estrangeiros cuja identidade não é revelada.”

Neste momento, é este bufão de direita fanfarrão e autoritário, que nada percebe do estado burguês e nenhuma inclinação mostra por aprender ou procurar conselho, que está formalmente à frente do imperialismo americano.

Quando Trump põe o capitalismo americano em sarilhos com os aliados imperialistas dos EUA na NATO, ou quando ameaça interesses das grandes empresas arengando sobre guerras comerciais com a República Popular da China (1300 milhões de população), com o Canadá e com o México (os dois maiores mercados comerciais dos grandes negócios americanos), ou quando não consegue que o Congresso Republicano atire 24 milhões de pessoas para fora do sistema de saúde, ou quando faz passar uma interdição de viagem antimuçulmana que provoca um contramovimento mundial, ou quando ameaça provocar uma revolta popular ao dizer que vai deportar 11 milhões de trabalhadores sem papéis, etc., etc., não há colaboradores, lacaios e advogados suficientes para conseguirem ajudá-lo a sair do lamaçal.

A classe dominante é ambivalente acerca de Trump e por boas razões. Por um lado, fica a salivar com o corte de impostos oferecido aos bilionários e às grandes empresas. Fica maravilhada com a campanha de desregulação que permite, entre outras coisas, às empresas do carvão envenenarem a água potável, a destruição das normas das emissões automóveis para dar uma ajuda aos barões da indústria e a eliminação de regulamentações ambientais para ajudar a grande indústria. E, claro, adoram as reduções de impostos para as empresas de seguros de saúde.

Por outro lado, fica frustrada porque esperava obter grandes reduções de impostos a partir da rejeição da Lei de Protecção e Cuidados do Paciente (usualmente designada “Obamacare” – N.T.) e queria deitar mão aos 880 mil milhões de dólares de cortes no Medicaid para os utilizar como financiamento para a redução de impostos dos ricos.

Contudo, tanto quanto espera aproveitar-se das reduções de impostos e das reversões regulatórias de Trump, também a classe dominante não deseja que ele lhe escangalhe o sistema. Assim, tomou medidas. Desde logo, cercou-o de generais e banqueiros da Wall Street na Casa Branca e no Governo.

Trump está encurralado no orçamento e ultrapassado no comércio (NAFTA)

Assim, deu-lhe recentemente uma surra nas negociações do orçamento. No último orçamento de 1,2 milhão de milhões, Trump saiu de mãos a abanar, apesar de toda a sua fanfarronice e arrogância.

Nas negociações, Trump foi ultrapassado pelos conhecidos representantes da classe dominante no Congresso em questões essenciais:

• A despesa interna subiu, em vez do corte de 18 mil milhões de dólares de cortes pedidos por Trump.
• Trump queria o orçamento dos Institutos Nacionais de Saúde desbastado em 1,2 mil milhões. Em vez disso, foi aumentado em 2 mil milhões.
• Trump pediu que o orçamento da Agência de Protecção Ambiental fosse reduzido de 33 porcento. Em vez disso, o corte foi de 1 porcento.
• O Plano de Paternidade continuará a ser financiado aos níveis actuais nos Estados que não votem a sua redução.
• Trump pediu 30 mil milhões de aumento da despesa militar. Conseguiu 12,5 mil milhões mais 2,5 mil milhões quando apresentar um plano para derrotar o grupo do Estado Islâmico.
• Não há dinheiro para o seu amado Muro-Fronteira, só para a segurança da fronteira com nova tecnologia e reparações. De facto, o financiamento da “segurança da fronteira” foi cortado e não há dinheiro para a força de deportação.
• Os subsídios de saúde para os pobres mantêm-se (o dinheiro vai para as companhias de seguros).

“No seguimento de um dia de intenso trabalho dos líderes do comércio e advogados que se reuniram para anular a discussão interna do projecto da Casa Branca, a administração Trump afirmou que já não considerava sair do Acordo de Comércio Livre Norte-Americano (NAFTA),” escreveu o Wall Street Journal de 27 de Abril. Trump foi forçado a ligar aos presidentes do México e do Canadá para lhes dizer que tinha desistido da rejeição. Emitiu depois um tweet dizendo que eram eles que lhe tinham ligado, em vez de admitir que o grande comércio e o agro-negócio o tinham obrigado a desistir.

Trump, a China e a Coreia do Norte

Washington encontra-se no meio de uma crise na Coreia. Precisa da cooperação do regime da Coreia do Sul para prosseguir a sua agenda beligerante, mas em vez disso, Trump escolheu a ocasião para dizer ao governo da Coreia do Sul que pretende rasgar o acordo de comércio com o país. É um “mau acordo” negociado pelo presidente Obama, segundo Trump. Na verdade, foi negociado com George W. Bush.

Para piorar as coisas, Trump informou o governo coreano que teria de pagar mil milhões de dólares pelo sistema antimíssil do Pentágono chamado Terminal High Altitude Area Defense (THAAD), apesar de um acordo existente segundo o qual são os EUA a pagar a sua instalação. O conselheiro da Defesa Nacional, General H.R. McMaster, teve de telefonar aos funcionários sul-coreanos a garantir-lhes que os EUA pagariam mesmo (WSJ de 30 de Abril)

Trump tem uma percepção excessiva do seu poder pessoal, para não dizer mais. Gaba-se de ter uma boa relação com o presidente Xi Jinping da República Popular da China (RPC). Gaba-se de ser devido aos seus telefonemas para Xi que a China vai ajudar o governo dos EUA a resolver os problemas com a desafiadora República Popular Democrática da Coreia (RPDC).

Trump tentou falinhas mansas com a China e falar grosso com a RPDC. Mas, a verdade é que a liderança chinesa, especialmente os militares do Exército de Libertação Nacional (ELN), não podem ignorar os factos primordiais da crise na península da Coreia.

Num telefonema de 23 de Abril, o presidente Xi pediu a Trump para se conter na escalada de tensão da região, mesmo que a RDPC anuncie testes de mísseis ou armas nucleares. Xi fez um apelo a Trump para não ser olho-por-olho e encaminhar-se no sentido de negociações.

Claro que não concordamos com Xi sobre a RPDC dever ser pressionada para desistir da sua luta pela construção de um dissuasor nuclear. De qualquer modo, o presidente da RPC pediu a Trump para descomprimir.

Um dia depois, a 24 de Abril, os EUA implementaram o sistema antimíssil THAAD na Coreia do Sul, equipado com radar de elevada potência com um alcance para lá da RPDC até à China e podendo ser usado para espiar as forças armadas chinesas. A RPC sempre afirmou que esta acção desestabilizaria o equilíbrio estratégico na região a favor do imperialismo americano.

A liderança chinesa e o Exército de Libertação Nacional estão perfeitamente conscientes da ameaça. Não pode ser coincidência que no próprio dia da implementação do sistema a China tenha testado o lançamento do seu primeiro porta-aviões fabricado no país. O navio estará concluído em 2020.

“A China lançou o seu primeiro porta-aviões inteiramente construído pelos seus meios, numa demonstração da crescente sofisticação técnica das suas indústrias de defesa e da sua determinação em salvaguardar as suas reivindicações territoriais marítimas e as suas cruciais rotas comerciais. O porta-aviões de 50.000 toneladas foi rebocado da doca às 9 horas de quarta-feira.” (Washington Post, 26 de Abril).

No entanto, a mensagem implícita é a de que a China tem o seu poderio naval próprio, incluindo um porta-aviões de construção soviética inteiramente armado e funcional, que foi obtido da Ucrânia e remodelado. A China refreou a sua resposta a Trump e ao Pentágono não exibindo o porta-aviões armado, mas antes no seu lugar o incompleto. Contudo, a mensagem seguiu.

O que também é claro destes acontecimentos é que o imperialismo americano e o Pentágono são inimigos tanto da RDPC, como da RPC. O Pentágono saiu em vingança contra a RPDC porque este heróico país socialista aguentou-se sem medo contra Washington, de modo tão firme agora como durante a Guerra da Coreia em 1950-53, quando repeliu a poderosa máquina de guerra americana.

O imperialismo americano está também contra a RPC porque, apesar do aumento de capitalistas milionários e bilionários no país socialista, o Partido Comunista da China e o Exército de Libertação Nacional são ainda os guardiões das empresas estatais e da economia planificada, que são marcos característicos do socialismo.

Washington percebe que enquanto o imperialismo americano se afunda na estagnação económica e em crises militares e políticas pelo mundo, a China vai-se tornando progressivamente mais forte, tanto económica como militarmente. Tem aumentado a sua influência na Ásia, em África e na América Latina através de projectos de infra-estruturas que ajudam as antigas colónias a vencer o subdesenvolvimento imposto pelo imperialismo.

Numa altura em que o imperialismo dos EUA se encontra interna e externamente desequilibrado, a classe dominante capitalista precisa de vigiar o seu presidente-gangster do imobiliário, de maneira que não acrescente mais à instabilidade de Washington.

Apesar de todas as tentativas da classe dominante estabelecida para se distanciar de Trump, o governo capitalista é de facto o seu comité executivo. Karl Marx disse-o há muito tempo e tal ainda é verdade hoje em dia.

Há muita maneira para os patrões se verem livres dele, dada toda a ilegalidade do seu regime de enriquecimento familiar. Caso contrário, a classe dominante é responsável por manter Trump no poder e por tudo o que de racista e reaccionário ele fizer. Trump é o seu representante como classe e as massas populares devem considerar os capitalistas responsáveis por todos os crimes que cometer contra o povo.

Tradução: Jorge Vasconcelos

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