Ao discutir a situação política, o Comitê Central confirmou que a situação internacional está se tornando mais complicada e perigosa, principalmente por causa da intensificação das contradições entre potências imperialistas, que ficaram mais acirradas em razão da grande crise econômica periódica de 2008 a 2010.
As experiências históricas indicam que o período de recessão econômica que sucede a crise, especialmente uma tão grande, é geralmente caracteriado por um aumento da agressão imperialista com a finalidade de superar os efeitos da crise rapidamente e às custas de outros.
No estágio atual, essas contradições entre potências imperialistas ficam mais claras no multifacetado confronto entre os centros do imperialismo tradicional e os “países emergentes”. E esse confronto pode chegar, em muitas áreas, a conflitos militares, como acontece no leste do Mediterrâneo e na Ucrânia e nos conflitos que estão ocorrendo em muitas partes da África e no Afeganistão, assim como a região do leste da Ásia está vivendo uma escalada de tensão e uma situação que pode explodir a qualquer momento.
O novo fator nessas conflitos militares é que esse tipo de confronto militar era anteriormente feito – como regra geral – por aliados regionais e seguidores dos centros imperialistas, mas no estágio atual vemos gradativamente a participação ascendentes dos Estados imperialistas diretamente nesses confrontos.
O imperialismo americano é considerado o poder mais agressivo a usar os métodos de colonização direta, lançando guerras coloniais no fim do século XX e começo do XXI, com os exemplos mais notáveis das guerras do Iraque e do Afeganistão e antes na Iugoslávia.
O imperialismo dos EUA também participou das agressões da OTAN na Líbia, deixando para seus aliados europeus a vanguarda dessa agressão. Também teve um papel chave na conspiração e nas ações agressoras contra a Síria e contra o Iêmen.
A política expansionista agressora do imperialismo dos EUA tem aumentado com a chegada do novo governo, que dissipou as ilusões de algumas mentes fechadas sobre a possibilidade de melhore relações com a esse governo. Tais ilusões baseavam-se em algumas declarações feitas pelo atual presidente durante sua campanha eleitoral. Mas as ações tomadas pelo novo governo demonstraram, não uma retirada da política de agressão, mas uma intensificação dela. O primeiro passo desse governo foi aumentar o orçamento militar americano, seguido pelo ataque militar contra uma base área síria, o que contradiz os mais simples conceitos da legislação internacional.
Ao mesmo tempo, existe uma intensificação muito perigosa da política dos EUA em relação à República Popular Democrática da Coreia. Está claro que essa ofensiva contra a Coreia do Norte tem como alvo o maior competidor do imperialismo americano, a República Popular da China. Não é uma coincidência que o ataque contra a Síria e a ofensiva contra a Coreia do Norte foram feitos durante a visita do presidente chinês aos EUA.
Cada vez mais são os interesses da coalizão monopolista mais reacionária e agressiva que dirigem as tendências do atual governo em relação à política externa.
Por causa desses fatores fundamentais, o mundo está vendo um aumento do tom e atos de agressão da atual administração do imperialismo americano que quer reduzir e alcançar posições do seus principais competidores no cenário internacional, particularmente China e Rússia. Isso também se reflete na tensão cada vez maior do leste do Mediterrâneo e leste Europeu (Ucrânia em particular) e no Oriente, e também na retomada da campanha no Irã, que vê o país como um importante fator para estabilizar sua hegemonia e como um ponto de início para sucessivas campanhas expansionistas.
Apesar dos esforços diplomáticos russos em procurar soluções conciliadoras com os centros imperialistas ocidentais, essas tentativas não levaram a resultados satisfatórios para a Rússia. Está claro para a autoridade russa que locais vitais em seu entorno estão hoje sob mira dos países ocidentais. Isso pode levar a sérias consequências para o status da Rússia no sistema internacional.
A intensificação das contradições no imperialismo vem acompanhada do aumento de outras contradições do capitalismo, que continua seu ataque aos movimentos de libertação nacional em todo o mundo. Um exemplo claro disso são países da América Latina, especialmente a Venezuela, que está em confronto direto com ataques do imperialismo e seus agentes locais. Também sofrem com esses ataques o leste do Mediterrâneo e as regiões do Mar Vermelho.
Além disso, os monopólios imperialistas continuam atacando os direitos do povo trabalhador nos países imperialistas, levando a um aumento de confrontos de classe em muitos deles. A rejeição popular da política monopolista está aumentando em muitos países da Europa ocidental e do sul da Europa, o que se evidencia pelas transformações políticas e movimentos de massas nesses países. Partidos reformistas, falsamente rotulados como “a nova esquerda”, tem um papel destrutivo em frustrar movimentos de massas antimonopolistas, assim como aconteceu na Grécia.
As eleições francesas também mostraram a grande influência do sionismo internacional para os rumos da política europeia, onde esses círculos novamente levaram um figura pouco conhecida à presidência com o objetivo de, de um lado, fortalecer as posições dos monopólios multinacionais, e, de outro, corroborar as posições do governo francês no embate com a Rússia. Tudo isso está sendo feito em um contexto que busca diminuir os efeitos desestabilizantes da União Europeia em seu lugar de segundo centro imperialista no mundo.
As crescentes contradições do imperialismo moderno ameaçam não só a independência e progresso dos povos, mas também a existência da humanidade, o que aumenta a necessidade de esforços para reforçarmos o fronte internacional anti-imperialista.
Em suas considerações sobre o desenvolvimento mais recente na região, o Comitê Central sente que as alianças regionais estão sendo feitas para servir à política imperialista e expansionista americana. Os Estados do Golfo Pérsico firmaram compromissos de aliança com o novo governo dos EUA. A reaproximação com esses países, especialmente com a Arábia Saudita, é uma das principais orientações da política externa do atual governo americano. Apesar das enormes dificuldades econômicas que os países do Golfo têm tido como resultado da baixa do preço do petróleo, grandes negócios estão sendo fechados com os EUA para compra de armas, o que pode reanimar a quase deprimida economia americana. O eixo do Golfo aparece na forma de uma aliança militar claramente ligada aos EUA e menos claramente a Israel, sob a bandeira de combater a suposta expansão iraniana. As ações agressoras desse eixo estão apontadas para duas direções: contra a Síria e contra o Iêmen. É preciso notar que o povo do Iêmen vai sofrer tanto quando o povo da Arábia Saudita.
Ao mesmo tempo, a agressão turca está se expandindo na direção da Síria, e o governo da Irmandade Muçulmana em Ancara não esconde suas ambições expansionistas, demandando que o Tratado de Lausanne seja reconsiderado. Apesar do aumento do poder da Irmandade na Turquia, seu status não está garantido, por causa das dificuldades econômicas e da resistência dos círculos laicos com grande influência na opinião pública, além da constante tensão vivida na região da Turquia reivindicada pelos curdos. Os círculos dominantes da Turquia têm tentado superar as dificuldades econômicas fazendo grandes negócios com a Rússia, particularmente nos campos de gás, petróleo e força nuclear, e reestabelecendo as exportações turcas para a Rússia.
O objetivo que coloca juntos o imperialismo americano e ocidental em geral, o sionismo internacional, regimes reacionários e agentes na região é desestabilizar o Irã, cuja orientação anti-imperialista é clara, e dividir a Síria depois que essas forças falharam em tomar o poder.
O Comitê Central considera que, durante o último período, a luta do povo sírio teve importantes conquistas no confronto com os inimigos do país. As mais importantes delas foram a completa liberação de Alepo e o notável avanço em alguns dos eixos norte e nordeste que o exército sírio conquistou. Também viradas positivas tiveram lugar em algumas regiões centrais. Palmira foi recapturada das mãos dos terroristas e alguns campos de petróleo e gás foram retomadas no centro-leste, o que nos dá um impacto positivo no abastecimento de combustíveis. Os rebeles também foram removidos, de várias maneiras, de áreas sensíveis dentro e em volta da capital. Assim, a imunidade de Damasco aumentou e uma grande parte do risco foi afastada. Esse fator fortalece a estabilidade nacional em geral, mesmo que simultaneamente as forças rebeldes sejam preparadas novamente e enviadas a áreas de importância para seus líderes.
Apesar disso, os poderes coloniais aumentaram suas agressões contra o exército sírio e seus aliados. As forças agressoras procuram aumentar as áreas de ocupação colonial na Síria e a presença dos militares dos EUA está aumentado na região nordeste. O ataque contra a base aérea síria (Shairat) no dia 7 de abril foi uma materialização dessas tendências claramente agressoras, ainda que o principal motivo desse ataque esteja ligado a fatores internos dos EUA. De qualquer maneira, o ato de agressão é uma demonstração do desejo americano em usar todas as táticas violentas contra a Síria. Mais recentemente, a presença das forças armadas britânicas e americanas se expandiu na região sudeste, ajudadas pelo seu agente tradicional, o regime da Jordânia.
A Turquia da Otan e suas forças marionetes agora ocupam importantes áreas a nordeste de Alepo. Dia após dia, passos estão sendo dados para estabelecer uma total influência turca no estado de Idlib.
Durante a reunião entre os presidentes russo e turco em Sochi no final de Abril, zonas de “baixa tensão” ou de “desagravamento” na Síria foram anunciadas.
Durante a conferência de imprensa em que esse anúncio foi feito, também houve a declaração de que não havia diferença entre os conceitos de “baixa tensão” e “áreas seguras”. Ficou claro, como colocado na própria conferência de imprensa, que o governo americano foi consultado sobre isso, e que por sua vez expressou sua aprovação ao acordo, embora sem unir-se a ele. Esse acordo foi subsequentemente elaborado na cidade de Astana no começo de Maio como um acordo tripartite entre Rússia, Irã e Turquia.
Ainda que sejam quatro as áreas de “baixa tensão”, as mais estrategicamente importantes no atual estágio são a do norte e do sul. O lado turco mostra que a área norte de “baixa tensão” já se encontra sob sua influência absoluta. Além disso, os poderes coloniais estão procurando fazer da zona de “baixa tensão” ao sul um ponto de entrada para aumentar a atividade expansionista agressiva de forças americanas e britânicas e de seu agente jordaniano.
Foi notável o fato de que a visita do ministro das relações exteriores russo a Washington, que se seguiu à declaração de Astana sobre as áreas de “baixa tensão”, não levou os EUA a entrar nesse quadro de consenso. Os americanos deixaram bastante claro que procuram impor suas áreas de influência por meio de operações militares e ocupação do leste da Síria sem consenso com outras potências internacionais.
As potências internacionais colonialistas e sionistas estão conspirando para dividir a síria. Não há dúvida de que há certas diferenças entre as potências imperialistas quanto à forma desse processo, mas não quanto ao conteúdo.
O Comitê Central acredita que dentro da feroz campanha colonial contra nossa nação, a principal tarefa é lutar contra os ocupantes e gangues terroristas que reforçam suas ações agressoras. E que todas as forças nacionais precisam lutar rapidamente:
- Para defender a independência nacional;
- Para defender total soberania nacional;
- Pela unidade de toda a Síria.
O Comitê Central considera que a situação difícil no país requer uma transformação radical na política socioeconômica que fortalece a imunidade do país e atende os interesses básicos do povo sírio, o principal defensor da pátria e símbolo de nossa estabilidade.
O interesse da estabilidade nacional requer um rompimento completo com as correntes socioeconômicas de natureza liberal, inclusive a revisão de leis que mina o setor público, como o Direito Corporativo. Encorajar investimento estrangeiro em todas as áreas, como proposto pelas regulações, significa que o Estado perderá seu lugar chave na economia. Socialmente, essa participação vai enfraquecer a classe trabalhadora, que está concentrada em empresas estatais e portanto enfraquece o apoio público às políticas nacionais.
Precisa haver uma revisão radical sobre como garantir recursos orçamentários, e isso deve acontecer não pelo aumento de taxas e cobranças indiretas, que afetam principalmente os trabalhadores, mas também por ações diretas contra os interesses do grande capitalismo, especialmente os grupos não produtivos e parasitários, fazendo com que paguem impostos compatíveis com seus lucros ou fechando as exportações de lucros parasitárias. Assim, é preciso encorajar a produção e criar importantes fontes de recurso pelas mãos do Estado.
Na questão da agricultura, grandes aumentos nos processos de entrada na produção, especialmente combustível e fertilizantes, devem ser revertidos e uma política favorável de preços para a compra de campos de colheita deve ser adotada.
A política nacional vai encontrar apoio econômico e social por meio da aplicação de políticas que reduzam os custos de vida dos trabalhadores e por meio de ações a favor dos produtores. O Comitê Central considera que a alternativa para a adoção de uma política econômica liberal é adotar uma política de capitalismo de estado de natureza social, o que significa:
- apoio efetivo para a produção industrial e manufatureira;
- aumento do papel de intervenção do estado, especialmente no campo do comércio interno;
- aumento de salários e ganhos compatíveis com a inflação. Fazer do mecanismo de compatibilidade entre salários e preços um processo permanente;
- expansão do apoio social para a população sistematicamente, em detrimento de campanhas emergenciais.
O Comitê Central enfatiza que o fronte socioeconômico tem um papel excepcional nessa batalha de nosso povo. Também enfatiza a necessidade de dedicação à luta das massas por todas as comissões do Partido e que devemos adotar toda forma de luta, inclusive as mais simples.
O estágio crucial para o qual o país está passando confirma e fortalece a validade da palavra de ordem apresentada pelo líder histórico de nosso Partido, Khaled Bagdash: “Defender a pátria e defender o pão do povo!”
O Comitê Central também discutiu as publicações do Partido, enfatizando sua importância como atividade vital para todos os camaradas. Discutiu alguns assuntos organizativos relacionados à situação do Partido e tomou as decisões apropriadas.
O Comitê Central também revisou a campanha de atividades tocada pelas organizações do Partido e a Juventude Khaled Bagdash em homenagem aos eventos internacionais e nacionais e as elogia muito.
Assim se encerraram os trabalhos da reunião do Comitê Central.
Damasco, 17 de maio de 2017
O Comitê Central do Partido Comunista Sírio.
Traduzido por Gabriel Lazzari
Texto original: https://www.facebook.com/
Página do partido: www.syriancp.org