De acordo com o site Politico, os principais assessores do presidente Trump estariam reunidos nos bastidores da Casa Branca em um esforço para lançar uma série de medidas econômicas destinadas a punir a China. Há uma gama de opções sobre a mesa, inclusive restrições comerciais. Durante a sua campanha na corrida presidencial, Trump se queixou várias vezes sobre as “práticas comerciais desleais” da China.
Em abril, logo depois do encontro diplomático entre o presidente chines Xi Jinping e sua esposa com Trump na Mansão de Mar-a-Lago a linguagem havia mudado. Agora, o criticismo retornou. Os lançamentos de mísseis da Coreia do Norte colocaram lenha na fogueira.
Na aparência, o presidente Trump não tem uma política definida em relação à China. Ele muda de promessas de se aproximar de Taiwan, desafiando Pequim, para conversações amigáveis em Mar-a-Lago e depois para planos de introduzir medidas punitivas.
Punitivas no sentido de que poderiam ter como alvo as importações chinesas de aço que seriam tarifadas, quotadas, ou uma mistura das duas medidas. Na teoria, as transações chinesas nos EUA poderiam ser congeladas e programas econômicos conjuntos restringidos. No início de 2016, Trump chegou a ameaçar aumentar as tarifas sobre bens importados da China em 45%, além de fechar o mercado (norte)americano para bens chineses.
A China pode golpear de volta restringindo importações (norte)americanas e pressionar os bens (norte)americanos no mercado asiático. Se começar uma guerra comercial, a China pode se aproveitar do fato de que foram os EUA que a iniciaram para começar a dizer aos seus parceiros do projeto One Belt, One Road (Nova Rota da Seda) que não é possível confiar nos Estados Unidos e sua política de dar prioridade a ameaças ao invés de negociações. Não há dúvidas de que a China se utilizará de ferramentas proporcionadas aos membros da Organização Mundial de Comércio para proteger seus interesses. Atualmente, Pequim tem em seu poder mais de um trilhão de dólares (U$1.000.000.000.000) em títulos do Tesouro (norte)Americano (5,5% do total dos T-Bonds no mundo). Pode vendê-los todos.
A China tem suas próprias preocupações. A última coisa que quer é o colapso do regime na Coreia do Norte, seguido por um dilúvio de refugiados e a presença de militares dos Estados Unidos e da Coreia do Sul nas fronteiras chinesas.
A instalação do sistema THAAD de mísseis de defesa na Coreia do Sul é na realidade o primeiro passo neste sentido. A China se opôs veementemente a esse movimento encetado pelos EUA sob o pretexto da ameaça dos mísseis norte coreanos. A instalação é apoiada pelo Japão. Acrescente-se que a Coreia do Sul anunciou planos para modernizar o sistema de mísseis de defesa Patriot, construído nos Estados Unidos, que já estão em solo sul coreano.
Com o comércio bilateral entre China e EUA alcançando somas de U$ 519 bilhões de dólares em 2016, os dois países são o segundo maior parceiro econômico um do outro atualmente. Uma guerra comercial entre os dois gigantes econômicos pode afetar o mundo inteiro.
Não se trata apenas da China. O presidente acaba de assinar um nova pacote de sanções contra a Rússia, Irã e Coreia do Norte, informou o vice presidente Mike Pence durante uma visita à Georgia. Assim, A Rússia e a China parecem estar dentro do mesmo barco alvejado pelas medidas punitivas (norte)americanas. Some-se a estas aquelas impostas contra a Venezuela do Presidente Maduro e percebemos que a introdução de sanções Parece se tornar a ferramenta mais frequente Para a implementação dos objetivos de política externa dos EUA.
A partir de 2017, o Gabinete para o Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC – Office for Foreign Assets Control) administra 26 programas de sanções ativas. A guerra econômica contra a Rússia traz embutida o risco do crescimento de sérios protestos entre os aliados (norte)americanos na Europa. Muitas companhias europeias estão estudando perspectivas de investimentos no Irã, apesar das sanções dos Estados Unidos. Uma guerra (comercial) contra a China não fará outros aliados ficarem contentes, especialmente na região Ásia/Pacífico.
Muitos países da região da Ásia/Pacífico ficaram muito frustrados algum tempo atrás pela rejeição da administração Trump da Parceria Trans-Pacífico (TPP Trans-Pacific Partnership), na qual depositavam tanta esperança. Agora, com o projeto chinês One Road One Belt a pleno vapor, os EUA não têm nada para lhe opor.
As sanções sempre se revelam um tiro pela culatra. As guerras econômicas consumem recursos da mesma forma que os conflitos armados. Mas agora os Estados Unidos parecem dispostos a desencadear guerras econômicas contra o mundo inteiro. Por exemplo, o presidente tem um plano para instituir tarifas de mais de 20% para importadores de aço como a China. Isso pode disparar uma guerra econômica global total. O Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou os líders no encontro do G20 em Hamburgo, Alemanha, que eles estavam colocando em risco a recuperação do crescimento global ao perseguir políticas nacionais à custa das regras acordadas de comércio internacional. “Porque as políticas nacionais inevitavelmente interagem em grande número de áreas vitais, criando efeitos indiretos através dos países, a economia mundial trabalha muito melhor quando os administradores se envolvem em diálogos regulares e trabalham dentro de mecanismos adrede acordados para resolver as divergências” diz o alerta.
Com as sanções sendo largamente usadas como instrumento de política externa, os Estados Unidos começam a ser amplamente considerados como parceiros comerciais pouco confiáveis, impondo sanções a seu bel prazer. Os países tendem a procurar por outros parceiros, mais dignos de confiança. Guerras comerciais, como outras guerras, não beneficiam ninguém e trazem problemas para todos. Haverá consequências globais perigosas, e ninguém vencerá. A administração Trump está dando o passo errado na sua tentativa de obter sucesso na política “America First” (Primeiro, os Estados Unidos - NT).