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Diário Liberdade
Sexta, 08 Setembro 2017 08:48 Última modificação em Terça, 12 Setembro 2017 23:47

Porque a Arábia Saudita utiliza o terrorismo “jihadista” na Europa?

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País: Arábia Saudita / Direitos nacionais e imperialismo / Fonte: Blog de Nazanin Armanian

[Nazanin Armanian, traduçom do Diário Liberdade] Numha cena do Grande Chefom (1972), o realizador de cinema que se tinha negado a dar um papel a um membro da família de Don Corleone rende-se depois de ter recebido umha contundente “mensagem”:

A cabeça decepada do seu cavalo amado Khartom na sua cama. Assim resolvem as suas desavinças as “famílias” que nos governam em meio mundo: Segundo The Guardian de 15 de fevereiro de 2008, Bandar Bin Sultan, chefe da inteligência saudita, tinha ameaçado o governo de Tony Blair com sofrer “outro 7/7”, se nom se parava a investigaçom sobre a corrupçom nos seus acordos de armas, nos quais o saudita tinha recebido uns 1.000 milhons de libras em pagamentos secretos de BAE Systems, umha das maiores contratadoras militares do mundo. Em junho passado, a Premier Theresa May impediu a publicaçom do relatório da inteligência británica sobre o financiamento da extrema-direita sunita pola Arábia Saudita. O que vale mais para o poder que a vida dos cidadaos?

Bandar também ameaçou Vladimir Putin em 2013 com lançar ataques terroristas na Rússia, utilizando os chechenos, para destruir os Jogos Olímpicos de Sochi de fevereiro de 2014, se Moscovo continuava a apoiar Bashar al Assad na Síria, o aliado do Irám. Putin negou-se e umha bomba matou 15 pessoas na estaçom de comboios de Volgogrado em dezembro de 2013.

Algum dia saberemos quem eram os autores intelectuais dos atentados do Estado espanhol ou França e o que pretendiam, além de provocar ódio entre os nativos e imigrantes, militarizar a sociedade, ou arrebatar os direitos e liberdades conseguidas durante séculos de luita.

A verdade, a primeira vítima da guerra

A guerra global contra o terror foi umha criminosa farsa geopolítica organizada por estados que utilizam o terror e fam de bombeiros pirómanos: Porque, após 15 anos, a CIA afirma que foi o governo da Arábia Saudita o responsável polos atentados do 11S e nom o grupúsculo de Bin Laden? A NATO nom se enganou de país: um ano antes tinha preparada a ocupaçom do Afeganistám, o país mais estratégico do mundo. E o que havia por trás do atentado de 2015 de Paris, o de Boston, ou o que deu pretexto à agressom israelita a Gaza em 2014?

“Pretendem destruir a nossa civilizaçom” é a frase que repetem os líderes ocidentais perante os atentados de bandeira islámica nos seus países. Frase oca que revela a hipocrisia desses estados –pois matam a maior quantidade de civis inocentes “doutras civilizaçons” num só bombardeio na Líbia, Iraque, Afeganistám, Líbia, Iémen, Mali ou Síria–, e também pom em evidência a sua fingida ignoráncia a respeito da natureza deste fenómeno. Palavras de ordem como “nom tenho medo”, coreada depois dos atentados na Catalunha, minimizam a extrema gravidade da situaçom a que desafia com esta ingenuidade, e que pretendem neutralizar com “a volta à normalidade”. Pois há que ter medo, esse mecanismo imprescindível nos seres vivos para continuarem a viver.

Nom estamos diante de lobos solitários ou de quadrilhas de desagradecidos fanáticos, niilistas e inadaptados, nem de jovens que assim se vingam por sofrerem a exclusom social. Estamos diante de umha organizaçom militar privada, ao estilo de “Camisas Pardas” e de natureza fascista, protegida por poderosos estados e que há quatro décadas está a desmontar estados inteiros, destroçando dezenas de milhons de vidas e avança sem parar.

E entretanto, Barak Obama vetou a lei que permitia às famílias de cerca de 3.000 cidadaos do seu país assassinados em 11S denunciarem os carrascos.

Os objetivos da Arábia Saudita

A Casa Saud recorreu ao terrorismo religioso polos seguintes motivos:

1. Contribuir para os projetos dos EUA no quadro da luita contra o comunismo. Foi aí que Washington transladou o modelo dos esquadrons da morte, os Batalhons de Reaçom Imediata e a Contra nicaraguana da América Latina para as fronteiras da Uniom Soviética: Em 1978-79, Jimmy Carter apostou na extrema-direita religiosa em quatro cenários: no Afeganistám criou o “jihadismo”, com o dinheiro saudita, para derrocar o governo marxista do Afeganistám e desestabilizar a URSS; no Irám, facilitou (em colaboraçom com o presidente francês Giscard d’Estaing que acolheu Khomeini) a instalaçom de umha teocracia xiita anticomunista; na Polónia socialista, apadrinhou o ultra-católico Lech Walesa e no Vaticano elevou o cardeal eslavo Karol Wojtyla, para desestabilizar os países “cristaos” do espaço soviético e dar cabo da Teologia Cristá da Libertaçom.

Desde a fundaçom da URSS em 1917 e o aparecimento dos partidos comunistas nos países mussulmanos, a elite clerical xiita e sunita, temerosa a perder o seu poder político-social e propriedades, já cooperava com o “imperialismo cristao” contra os ateus marxistas. O Afeganistám foi o segundo país “mussulmano” governado polos comunistas; o primeiro instaurou-se em 1967 na mesmíssima Península Arábiga: a República Popular do Iémen. Depois, em 1991, a Arábia participou com os seus milhares de “jihadistas” na desintegraçom da Jugoslávia. O atual rei da Arábia e o entom presidente da cámara municipal de Riad, Salman bin Abdulaziz enviava-os através do Alto Comité Saudita para o Auxílio da Bósnia e Herzegóvina (SHCR), introduzindo o wahabismo nos Balcáns. SHCR construiu mesquitas e escolas e ajudou só as famílias mussulmanas. Depois de finalizar a guerra, EUA converteu o Kosovo numha grande base militar (Camp Bondsteel) com um mini Guantánamo incluído. Kosovo “por acaso” é outro viveiro do Estado Islámico: Blerim Heta, o kosovar que a 24 de março de 2014 matou num atentado 52 xiitas, trabalhou nesta base.

2. Conter o Irám: Richard Dearlove, ex diretor do MI6, lembra que, antes do 11S, o seu homólogo saudita, Bandar bin Sultan, lhe tinha dito: “nom falta muito para que no Médio Oriente os xiitas tenham que pedir ajuda a Deus. Mais de mil milhons de sunitas estám fartos deles”. Apesar de que os xiitas som só 15% dos mussulmanos do mundo, o impacto da queda do Xá no Irám e a instalaçom da República Islámica sobre a Arábia Saudita foi múltipla, e muito preocupante para os xeques, porque:

- A revoluçom iraniana tinha derrocado umha das monarquias mais poderosas e antigas do mundo, implantando umha república. Antes do Irám, o Afeganistám (1973), Líbia (1969), Iémen (1962), Iraque (1958) e Egipto (1952) tinham acabado com a monarquia e a Casa Saud temia o “efeito borboleta” da república iraniana, e isso apesar de que foi um califado disfarçado de república, e a perda do seu status: já tinha alternativa a umha teocracia monárquica. Que no Irám existissem eleiçons, mulheres universitárias, um bom cinema, etc, fortalecia esta ideia, embora poucos soubessem que: no Irám há um poderoso movimento feminista desde 1920, que conseguiu em 1935 ser o primeiro país do mundo a proibir o véu; e tinha em 1964 mulheres parlamentares e umha ministra, ou que os comunistas, muito poderosos, tinham um ministro em 1923. Ao ser umha sociedade avançada, os seus fundamentalistas também som menos fanáticos que os da Arábia. Por todo isso, será mais difícil para os Saud luitarem contra o xiismo iraniano do que contra o nacionalismo árabe ou o socialismo.

- Os Saud perdem o seu monopólio da liderança sobre a «a comunidade mussulmana», incluída a sunnita, já que os aiatolás apresentavam o seu invento como umha república “islámica”, nom só “xiita”, e riscavam os sauditas de “infiéis”, “peons de Israel e dos EUA”, “corruptos e criminosos”. Khomeini converteu-se, para milhons de “mussulmanos sunitas” (palestinianos e libaneses sobretodo) no seu herói. Que a teocracia xiita nascesse (de forma antinatural) de umha grande revoluçom popular anti norte-americana outorgava maior legitimidade às posturas anti-sauditas de Teerám.

- A carga “social” da revoluçom iraniana, recolhida por Khomeini, quem em princípio prometera justiça aos “deserdados”, também sunitas, rompendo com a ideia da “comunidade mussulmana” que oculta a luita de classes, juntando o banqueiro e o despejado. Se bem afinal nom houvo umha teologia xiita de libertaçom, os milionários xeques começárom a tremer.

- Polo que Riad e Teerám, enquanto evitam um confronto direto, patrocinam, na medida das suas possibilidades, a grupos político-militares que atuarám em terceiros países (guerra proxy).

A iranofobia de Riad, que é apoiada por outros regimes árabes, Israel e EUA, tentou conter o Irám de mil e umha maneiras: financiar a invasom do Iraque ao Irám (1980-1988); fundar o Conselho de Cooperaçom do Golfo em 1981, como sistema de segurança; e agora tenciona criar umha “NATO sunita”; baixa o preço do petróleo, para danificar a sua economia e exportar ao mundo o wahabismo-takfiri (que considera os xiitas apóstatas). No Iraque, tenta corrigir o “erro” de Bush, quem depois de derrocar Saddam Husein nom só instalou em Bagdá umha republica islámica-xiita, como também criou esquadrons de morte xiitas para liquidar os basistas e as tribos sunitas rebeldes. Junto a Israel e Turquia, a Arábia nom permitirá a estabilizaçom do Iraque até que os xiitas abandonem o poder.

Riad, que nom perdoa aos EUA (de Obama) o fim das sançons contra o Irám em 2015, nem a sua negativa a derrocar Bashar al Assad e a sua decisom de transferir parte das suas tropas do Médio Oriente para a fronteira da China, decidiu apostar mais forte no exército de “jihadistas” na Síria e Iraque contra o Irám. Paralelamente, está a desenvolver o seu próprio programa nuclear no Paquistám e, graças à sua impunidade, é possível que a Arábia venha a dispor de armas nucleares antes do Irám.

Os reis sauditas, que temem ser sacrificados por Washington (como Mubarak e Bin Ali) e serem “lenços descartáveis”, elaboram a sua própria agenda: enviárom tropas ao Bahrein, de populaçom xiita, para esmagar a sua primavera, e arrastárom os EUA à sua criminosa guerra contra a milícia xiita Huthies do Iémen, provocando a maior crise humanitária do mundo, matando a sua populaçom com balas e mísseis, com fame, sede e cólera.

3. Enviar ao estrangeiro os jovens excluídos sauditas como terroristas noutros países, e assim se livrarem de umha bomba-relógio na casa; paralelamente, implantar o
wahabismo em Ocidente, ao serviço dessas açons, detendo aliás a crescente simpatia polo xiismo (e polo Irám), nom entre os imigrantes sunnitas, mas si entre os
nativos, como acontece no Estado espanhol.

Jihadismo: o Frankenstein

O alcunhado “O Cordobês de Daesh” que reclama a al-Andalus, ameaçando 46 milhons de habitantes do Estado espanhol, nom di nada sobre a Palestina ocupada por só 5 milhons de israelitas. Efraim Inbar, o analista estratégico israelita, afirma que é um “erro” e umha “loucura” acabar com o Estado Islámico, umha vez que serve “aos nossos interesses estratégicos” e à sua guerra contra o Irám, que é o “grande inimigo” de Ocidente, afirma. A equipa de Trump acha o mesmo. Para os padrinhos do “jihadismo” –a CIA, Mossad, MI6, a GID saudita e a MIT turca–, milhares de mulheres, homes e crianças assassinadas por este Frankenstein nom som mais que “danos colaterais” diante dos seus macabros interesses.

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