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Diário Liberdade
Terça, 10 Outubro 2017 23:50 Última modificação em Sábado, 14 Outubro 2017 14:14

O Cunho épico de O Jovem Karl Marx

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/ Cultura/Música / Fonte: Esquerda Online

[Gabriel Vinicius, do Forum Popular de Cultura e CIA Boemia Literária (FPC), de Contagem, MG] O Jovem Karl Marx. Filme magnifico, o Raoul Peck não deixou a desejar. Como eu já esperava.

A pesquisa histórica, a construção do personagem, e a forma como as ideias de Marx são retratadas de maneira fidedignas e diretas da fonte, sem dedo das correntes e interpretações posteriores que chegam a vulgarizar a ideologia original, são elementos que sustentam o filme o tempo todo. Ainda que a passagem por algumas publicações seja um pouco rápida, e de um certo cunho romântico em alguns momentos, o que pode ser explicado pela humanização do personagem, as abordagens, mesmo que em síntese, não deixam a desejar.

O filme desconstrói a ideia pós-moderna que diz que existem Marxs antagônicos, antes e depois do Manifesto, e mostra a evolução do pensamento desta figura histórica, passando pelo jovem Hegeliano do início àquele que convive com o Phroudon e as divergências que levam aos rompimentos futuros, justamente pela construção de uma filosofia que buscava se embasar em uma contradição materialista.

O personagem de Karl Marx aparece durante todo o filme com um ar crítico que em algumas vezes esbanjava sarcasmos e sorrisos irônicos, sempre com arquétipos de gênio. A evolução do personagem é gradativa, e acompanha, corretamente, a evolução do pensamento e das publicações. Há pouco o que dizer nesse sentido, pois esse texto tem objetivo de analisar outro parâmetro, como por exemplo, qual será o super-objetivo de Raoul, ao criar a obra?

O filme usa elementos de cunho épico, no sentido de debater, obviamente, temas que vão além da vida privada, entretanto não usa muitos artifícios do teatro épico, ou seja, não leiam isso e esperem ir assistir a Glauber Rocha, pelo contrário. Se eu fosse comparar, usaria como objeto o filme “Eles não usam black tie”, no sentido que tange ao ato de tentar buscar na vida privada a discussão épica. Ainda assim, nem mesmo eu confio tanto nessa análise, pois a discussão do filme é voltada nas ideias de Marx, deixando a classe operária e outros temas épicos como subtexto.

Então, sim, o filme se volta para romances e nuances da vida privada da dupla mais badalada de todos os tempos, mas isto é feito com dois objetivos, um de humanizar os personagens com o intuito de desmistificá-los, e o outro é poder trazer uma sustentação de respiro e pausa, frente ao conteúdo fortemente historicizante e filosófico do filme.

Não há outra resposta, o resto do filme tem por objetivo discutir a obra de Marx e provocar através dela. Abrem-se diversos conflitos que não são fechados, como as dificuldades de Marx, a relação entre Engels e seu pai, e por aí vai. Diante de um crítico vulgar, o filme pode ser colocado como ruim por não encerrar esses conflitos de vida privada, ou oferecer uma resposta fácil como o fato de “Ser apenas um retrato pré-internacional”, mas isso seria uma leitura estúpida, pois esses elementos existem só para sustentar o objetivo épico do filme que é discutir, desmistificar e apresentar Karl Marx.

Ou seja, uma analogia interessante é a práxis, o filme quer apresentar um sujeito e um objeto, ou seja, Marx e sua obra. Qual é então a liga do filme, para discutir ambos os temas? Isso mesmo, meu amigo marxista, o TRABALHO, o foco no trabalho intelectual e incessante de Marx e Engels é que vai dar a liga para construção dos temas e evolução dos personagens, cumprindo muito bem esse Super Objetivo de apresentar uma obra e humanizar o sujeito criador dela.

Essa tarefa que ele cumpre muito bem, e é por isso que não foi comprado por nenhuma distribuidora no Brasil, porque cumpre seu papel político, desvia do objetivo do cinema burguês, de discutir apenas sujeitos, e mais do que tudo, esclarece as coisas. Não há nada que a indústria cultural tema mais do que uma obra que esclarece o pensamento.

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