O novo normal é baixo crescimento econômico e alta injustiça redistributiva” escreve José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE, em artigo publicado por EcoDebate, 10-11-2017.
Eis o artigo.
“Renda anual de vinte libras, despesa de dezenove libras, dezenove xelins e seis pence, resultado: felicidade. Renda anual de vinte libras, despesa anual de vinte libras e seis pence, resultado: desespero” Charles Dickens.
A desigualdade de renda nos Estados Unidos (EUA) está piorando nas últimas décadas, mostrando que a Curva de Kuznets não explica as tendências atuais. O gráfico acima (Leonhardt, 07/08/2017), publicado no NYT, mostra que, em 1980, os percentis de renda mais baixa tinham as maiores taxas de crescimento e que, em 2014, estas tendências se inverteram, com as parcelas da população de baixa ficando com a renda estagnada e todos os ganhos ficando concentrados nas parcelas de alta renda.
A mensagem é clara. Apenas algumas décadas atrás, a classe média e os pobres não só estavam recebendo aumentos saudáveis, como a renda estava aumentando mais rapidamente, em termos percentuais, do que a renda dos ricos.
Na última década, em contraste, apenas as famílias muito afluentes – 1% mais ricos – receberam grandes aumentos. A classe média alta melhorou mais do que a classe média ou a pobre, mas os grandes ganhos ocorreram entre os super-ricos. As famílias mais pobres, depois da Segunda Guerra, costumavam receber uma parcela justa do crescimento econômico. Agora não recebem mais.
O gráfico abaixo mostra que, em 1980, o crescimento médio da renda nos EUA foi de 2%, sendo que as parcelas mais pobres da população (40% mais pobres) tinham ganhos acima de 2% e as parcelas mais ricas (20% mais ricos) tinham ganhos abaixo de 2%. A distribuição de renda estava melhorando.
Porém, em 2014, o crescimento da renda média dos EUA caiu para 1,4% e os 5% mais pobres não tiveram qualquer ganho. Enquanto 90% da população teve ganhos abaixo de 1,4%, os super-ricos (1% do topo da pirâmide) concentraram a maior parte do aumento da renda. O que mostra que os EUA estão ficando cada vez mais desiguais. A despeito dos avanços tecnológicos da Revolução 4.0, a maior parte das famílias americanas está com a renda estagnada.
Artigo da Bloomberg (13/09/2017) mostra que embora a renda tenha crescido em 2016 nos EUA, a desigualdade persiste. Enquanto os rendimentos médios das famílias negras e hispânicas cresceram em mais do dobro da taxa de famílias brancas, os níveis de renda revelam uma divisão desencorajadora: os brancos não hispânicos ganharam US$ 65.041, enquanto os negros ganharam US$ 39.490. No topo dos rendimentos estão as famílias asiáticas, nos EUA, com renda superior a US$ 80 mil.
Os Estados Unidos estão ficando um país mais desigual e com graves problemas de coesão social. O novo normal é baixo crescimento econômico e alta injustiça redistributiva. Para agravar o quadro, as políticas do presidente Donald Trump – como os cortes tributários e o subsídio para os ricos – estão piorando os indicadores de desigualdades sociais e reforçando a tendência de brasileirização da sociedade americana.
Referências:
1. David Leonhardt. Our Broken Economy, in One Simple Chart, NYT, 07/08/2017
2. Jordan Yadoo e Sho Chandra. Inequality Persists in U.S. Despite Record Income Gains, Bloomberg, 13/09/2017