Em agosto desse ano para setembro o numero de migrantes caiu 85%. Somente 2.729 deles chegaram à costa italiana, comparados com os mais de 18 mil no ano anterior, de acordo com a agência de refugiados da ONU. As chegadas de migrantes vindos da Líbia caíram 50% em julho e caiu também o número de mortes no mar—11 em agosto, em comparação com as 42 no mesmo período em 2016. (fonte)
A abrupta queda do numero de refugiados na Europa suscitou uma serie de questionamentos acerca de qual método a UE adotou para conter as milicias que ficam na fronteira e fazem a travessia de refugiados. A Itália tem um histórico de como trata da imigração, durante o governo Muammar Kadafi, a Itália financiou em bilhões de dólares o ditador líbio em troca de conter a migração entre outras medidas estratégicas para o governo Italiano(fonte). Porque seria diferente agora?
O arranjo se desfez quando Kadafi foi derrubado em 2011 durante a primavera árabe e a mudança de governo mudou a postura da Itália, que agora segundo Mattia Toaldo, um especialista em Líbia no Conselho Europeu de Relações Exteriores ao NY Times sobre a nova politica italiana na Líbia: "Isso é basicamente o que a Itália fez com Kadafi, mas em uma escala muito maior, porque em vez de um único ditador, você precisa pagar dez chefes de milícia".
A nova postura italiana após anos seguindo a cartilha da UE mudou após que ela decidiu "agir por si só", as aspas estão aí pois boa parte do trabalho de financiamento das milicias é feito pela própria ONU. O líder da principal milícia, Ahmed Dabbashi, falou ao "The Times" de Londres que o governo de unidade apoiado pela ONU em Trípoli havia lhe prometido veículos, barcos e salários em troca de cooperação.
Há poucos dias diversas denuncias e até um vídeo divulgado pela CNN apontaram para a existência de um consolidado mercado de escravos na Líbia. No vídeo é possível ver vários homens sendo leiloados por 900, 1000, ou 1100 dinares, o equivalente a 800 dólares. Um dos refugiados vendido como escravo foi identificado pela CNN como de origem nigeriana, e foi introduzido no leilão como parte de um “grupo de homens fortes para trabalho agrícola”. A repórter da CNN, Nima Elbagir, foi a um desses leilões e divulgou imagens. Ele ocorreu próximo a Tripoli, capital da Líbia.
A imbricada relação entre governo italiano e as milicias nos leva a questionar se esses mesmos grupos, aliados ao governo italiano não teriam desviado seus ganhos com o tráfico de pessoas intercontinental para o tráfico de pessoas escravizadas. Mesmo que a hipótese não se confirme é evidente a participação da Itália em promover grupos milicianos e incentivar suas práticas, das mais nefastas possíveis em troca de manter seus privilégios de país europeu enquanto os imigrantes sofrem em seus países de origem com um caos social e politico.
Na entrevista acima da CNN, ainda sem tradução, com Victory, de 21 anos, da Nigeria conta que tentou escapar para a Europa e gastou todo seu dinheiro na empreitada para pagar o "resgate" aos traficantes, quando foi vendido no mercado de escravos na Líbia. Agora foi deportado de volta para seu país de origem.
Esse relato é ainda mais contundente de como os mesmos traficantes que o tiraram da Nigéria o transformaram em escravo na Líbia, levantando a suspeita de que o Governo Italiano tenha financiado uma rede de escravos internacional com sua politica de "contenção de imigrantes".
A assistência italiana, financeira e de outros tipos, é enviada através do governo de unidade apoiado pela ONU em Trípoli, que por sua vez é financiado pela Itália. Por telefone ao NY Times, vários representantes do governo de unidade disseram que Roma aumentou os pagamentos e os fornecimentos de equipamentos para milícias em Sabratha, Zuwarah e outros pontos de contrabando costeiros. "Nós nos encontramos com os italianos hoje, e esperamos receber 200 milhões de euros (R$ 746 milhões), que distribuiremos de acordo com nossas necessidades", disse ao Times Tarek Shanbour, diretor do departamento de segurança costeira em Trípoli.
Giro, o ministro italiano das Relações Exteriores, reconheceu que alguns ex-traficantes haviam recebido medicamentos, verba para hospitais e outras formas de assistência. Entretanto instituiu que nenhum dinheiro foi repassado para as milicias, o que é um tanto difícil de acreditar. Mohamed Eljarh, um analista do Atlantic Council ao Times se pronunciou: "Não acho que eles abririam mão de grandes quantias de dinheiro assim", ele disse. "Sem dinheiro, esses grupos não têm poder em suas áreas".
"Nós conhecemos a ganância desses grupos", disse Mohamed Dayri, ministro das Relações Exteriores para um dos três governos rivais da Líbia, que descreveu a política italiana como um desastre. "Eles vão usar o dinheiro para comprar mais armas", ele disse.
Fonte da Foto: Opinião e Notícia