A possibilidade de que Donald Trump tenha fim semelhante está agitando a cidade. Contudo, se se comparam os casos 'Russiagate' e Watergate, é pouco provável que a história se repita.
Primeiro, que o crime em Watergate – invasão e instalação de microfones clandestinos em escritórios do Comitê Nacional Democrata – foi rapidamente e comprovadamente rastreado em 48 horas até o Comitê para a Reeleição de Nixon.
No caso de 'Russiagate', o suposto crime – uma suposta "colusão" da campanha de Trump com o Kremlin para hackear emails do Comitê Nacional Democrata – nunca foi comprovado, nem depois de 18 meses de investigações.
O administrador da campanha Paul Manafort foi acusado, mas por crimes financeiros cometidos muito antes de começar a trabalhar para Trump.
O general Michael Flynn declarou-se culpado por mentir sobre telefonemas que fez para o embaixador russo Sergey Kislyak, mas que foram feitos depois de Trump já estar eleito e Flynn já ter sido nomeado conselheiro de Segurança Nacional.
Flynn pediu a Kislyak ajuda para bloquear ou adiar uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que denunciaria Israel, e para dizer a Vladimir Putin que não se excedesse na fúria contra a expulsão, pelo presidente Obama, de 35 diplomatas russos.
É o que se deseja que conselheiros de segurança façam.
Por que Flynn deixou-se enredar numa armadilha em que poderia ser acusado de perjúrio, quando tinha de saber que suas conversas estavam sendo gravadas, é mistério impenetrável.
Segundo, diz-se que Trump teria obstruído a justiça ao demitir o Diretor James Comey do FBI por se ter recusado a 'aliviar' para Flynn.
Mas até o próprio Comey admite que Trump agiu dentro dos limites da própria autoridade e competências.
E Comey usurpou a autoridade dos procuradores do Departamento de Defesa quando anunciou, em julho de 2016 que Hillary Clinton não poderia ser processada por ter sido "extremamente desleixada" ao transmitir segredos de segurança nacional pelo próprio servidor privado deemails.
Hoje já sabemos que o primeiro rascunho da declaração de Comey apresentava Clinton como "gravemente desleixada" – a exata definição que a lei exige para que a acusação seja acolhida e a investigação tenha de prosseguir.
Hoje também já sabemos que, ajudando Comey a editar seu primeiro rascunho da conclusão e a suavizar o impacto e as consequências, o vice-diretor do FBI Andrew McCabe. A esposa dele, Jill McCabe, candidata ao Senado pelo estado da Virginia, recebeu $467 mil dólares em contribuições de campanha do coordenador do Comitê de Arrecadação de Clinton, Terry McAuliffe.
Comey também já admitiu ter vazado para o The New York Times detalhes de um ataque direto contra Trump para iniciar a nomeação de um conselheiro especial – para processar Trump. Desse contato surgiu o nome do predecessor, amigo e confidente de Comey, Robert Mueller.
Mueller rapidamente contratou meia dúzia de procuradores bulldogs que haviam contribuído para a campanha de Clinton, e Andrew Weissmann, ativo odiador de Trump, que se congratulara com a advogada-geral interina Sally Yates por recusar-se a executar a proibição de viagens de Trump.
Peter Strzok, funcionário do FBI, teve de ser removido do gabinete de Mueller por ódio contra Trump manifesto em mensagens para sua namorada dentro do FBI.
Strzok também trabalhara na investigação do servidor de e-mails de Clinton e consta que teria sido quem persuadiu Comey a suavizar a própria linguagem sobre o que Hillary fizera, o que permitiu que Hillary se safasse ilesa.
No mandato de Mueller, nada se encontrara que ligasse Trump ao hacking do Comitê Nacional Democrata. Mas foi descoberta e firmemente comprovada uma conexão entre a campanha de Hillary e espiões russos – para encontrar qualquer sujeira que pudesse ser usada para destruir Trump e sua campanha.
Em junho de 2016, a campanha de Clinton e o Comitê Nacional Democrata começaram a fazer chover milhões de dólares nos cofres do escritório de advocacia Perkins Coie, que contratara a empresa de pesquisa Fusion GPS, para se aprofundar na campanha suja contra Trump.
Fusion fez contato com o ex-espião do MI6 britânico Christopher Steele, que tinha contatos com ex-agentes de inteligência da KGB e FSB na Rússia. Aqueles agentes começaram a abastecer Steele, que abastecia a Fusion, que abastecia a mídia-empresa anti-Trump nos EUA com supostas imundícies e crimes que Trump teria cometido em hotéis em Moscou.
Apesar de a veracidade daquele dossiê sujo jamais ter sido comprovada, o FBI de Comey agarrou-se como fera faminta sobre aqueles 'conteúdos'.
Há acusações bastante confiáveis de que o FBI de Comey tentou contratar Steele e usar o dossiê sujo que ele organizara para ampliar a investigação contra Trump – e de que aqueles conteúdos foram também usados para justificar mandatos da FISA contra Trump e seu pessoal.
Essa semana descobriu-se que Bruce Ohr do Departamento de Justiça teve contatos com a empresa Fusion durante a campanha, e que sua esposa realmente trabalhou na Fusion na investigação contra Trump. Agora, a coisa toda já começa a feder.
Será que a investigação contra Trump é o fruto podre de árvore envenenada?
Será que a equipe "Detone Trump" de Mueller está até hoje investigando a campanha errada?
Há outras razões para crer que Trump talvez sobreviva à conspiração de empresas de mídia plus estado-profundo para destruir sua presidência, pôr fim ao seu mandato e reinstalar em Washington o mesmo velho establishment desacreditado.
Trump tem a seu favor a Fox News e alguns congressistas combativos, e a mídia-empresa dominante está profundamente desacreditada, além de ser amplamente detestada em todo o país. E não há Câmara de Deputados Democrata para aprovar algum impeachment nem Senado Democrata que o condene.
Mais importante de tudo, Trump não é Nixon, o qual, como Charles I, aceitou com dignidade o próprio destino e deixou que a espada do carrasco caísse sobre ele.
Se Trump sair, pode-se conjecturar, não sairá em silêncio.
Nas palavras do grande Jerry Lee Lewis, ainda vai haver "muito agito p'rá lá e p'rá cá nessa treta" [ing. "whole lotta shakin’ goin’ on."