Ao invés de liderar como presidente constitucionalmente mandatado, Donald Trump sob muitos aspectos emulou o imperador romano Claudius.
O título deste artigo a parafraseia o romance Eu, Claudius , de Robert Graves, publicado em 1934. Tal como Trump, Claudius entrou na política numa época tardia da vida – embora, no caso de Claudius, se tornasse o co-consul do seu irmão, o tirânico imperador Calígula, aos 46 anos. Trump entrou na política presidencial dos EUA vindo do mundo do imobiliário, dos casinos e do entretenimento, no fim de 60 anos de vida. Claudius, tal como Trump, passou a maior parte do tempo da sua vida pré-política atolado em jogos de azar e de caça a mulheres. Claudius teve quatro esposas, Trump três. Claudius, como Trump, era fã ávido de desportos violentos. Claudius gostava de duelos até à morte de gladiadores e de corridas de bigas, Trump de lutas livre e de box "profissional".
Trump, tal como Claudius, não possui um intelecto agudo. Contudo, ambos aceitam perigosas aventuras militares. Claudius invadiu e anexou a Grã-Bretanha no século I DC. Embora inicialmente triunfante, a extensão do domínio romano às ilhas britânicas acabou finalmente por estender excessivamente o império, o que acabaria por levar ao seu colapso. Trump, apesar de pretender evitar os conflitos de "mudança de regime" encorajados pelos seus dois antecessores imediatos – George W. Bush e Barack Obama – abraçou-os de todo o coração depois de sucumbir à influência de conselheiros políticos neo-conservadores.
Claudius finalmente caiu vítima dos desígnios políticos da sua quarta esposa, Agripina, a qual se acredita ter engendrado uma trama para envenenar o imperador. Após a morte de Claudius, Agripina teve êxito em colocar no trono o seu filho, Nero. Na morte de Claudius acabam-se as semelhanças com Trump, apesar de as guerras intestinas da Casa Branca de Trump equivalerem a qualquer outra intriga palaciana ao longo da história.
Trump segue o conselho de uma cabala perigosa que estabeleceu em torno de si próprio. Sobre questões do Médio Oriente e das relações com nações muçulmanas, a cabala de Trump possui uma toxicidade nunca vista anteriormente numa administração dos EUA. Esta cabala gira em torno da troika de Jared Kushner, genro de Trump com muitas responsabilidades; Jason Greenblatt, antigo chefe dos conselheiros legais da Trump Organization e agora Assistente do Presidente e Representante Especial para Negociações Internacionais; e David Friedman, antes do escritório de advogados de Trump, Kasowitz, Benson, Torres & Friedman e agora embaixador dos EUA em Israel. Eles, juntamente com Trump, conseguiram reverter 70 anos de política estado-unidense para o Médio Oriente ao assegurar o reconhecimento pelos EUA de Jerusalém como capital de Israel. A decisão quanto a Jerusalém também implicará a mudança da embaixada dos Estados Unidos de Tel Aviv para uma propriedade em Jerusalém originalmente tomada pelos israelenses aos seus proprietários palestinos.
A decisão sobre Jerusalém envia uma drástica advertência a muçulmanos de todo o mundo, que encaram a cidade como a terceira mais santa do Islão, depois de Meca e Medina. Ela também lança um desafio às igrejas Católica Romana, Ortodoxas Orientais e Copta, assim como ao protestantismo, todos os quais encaram Jerusalém não só como a mais respeitada cidade da cristandade como também uma zona internacional que deve ficar sob controle conjunto israelense-palestino ou sob um regime como o das passadas cidades-estado internacional, Tanger, Dantizg e Triste por exemplo. Ao premiar Israel com o reconhecimento dos EUA, a acção de Trump deu uma bofetada na cara dos cristãos de Jerusalém que foram forçados a enfrentar centenas de odiosos ataques judeu a cristãos, tais como as palavras garatujadas em hebreu, "Morte aos gentios cristãos, os inimigos de Israel" e "Cristãos para o inferno", pintadas no Mosteiro Beneditino na Cidade Velha de Jerusalém, o sítio reverenciado da Última Ceia de Jesus. O governo israelense não tomou medidas para descobrir e punir os perpetradores destes ataques anti-gentios por judeus traficantes de ódio.
Trump também deixou de lado as promessas de campanha de evitar mergulhar os Estados Unidos nos derrubes de "mudança de regime" no exterior da era George W. Bush e Barack Obama. Tão logo estalaram protestos económicos no Irão, Trump adoptou a barragens da propaganda israelense tuitando o seu apoio ao fim do "regime brutal" daquele país. Isto aconteceu depois de ele ter dito que queria sucatear acordo nuclear P5+1 com o Irão, algo a que era instado pelo primeiro-ministro de Israel Benjamim Netanyahu. É quase certo que o director da CIA de Trump, Mike Pompeo, um cristão sionista do mesmo molde de oráculos evangélicos como John Hagee, Pat Robertson, Paula White, Robert Jeffress e Jerry Falwell Jr, tenha ordenado a activos da CIA no Irão e na sua periferia para entrarem em acção contra o governo iraniano ao primeiro sinal de descontentamento popular quanto ao estado da economia iraniana.
No princípio de 2018 Trump não perdeu tempo em entrar numa tempestade de tweets contra o Irão assim como em criticar o Paquistão, a única nação muçulmana armada com o nuclear. Trump ordenou que os US$255 milhões da assistência estado-unidense ao Paquistão fossem suspensos, acusando do país de proporcionar abrigo seguro a terroristas islâmicos activos no Afeganistão. Não é coincidência que Trump tenha atacado verbalmente os dois maiores países muçulmanos, Irão e Paquistão, depois de ter assegurado a destruição do quadro estabelecido dos dois estados palestino-israelense, com o seu reconhecimento do controle israelense permanente sobre Jerusalém.
A denúncia de Trump do Paquistão ilustra a influência da sua embaixadora nas Nações Unidas, Nikki Halley, uma híbrida cristã-sikh, cujos país procedem da Índia, sobre a política externa de Trump a favor da-Índia e contra Paquistão. O posicionamento neo-conservador de Halley também garantiu que Trump aprovasse o envio de equipamento militar letal para a Ucrânia, em contravenção à actual plataforma de política externa do Partido Republicano, defendida pela campanha de Trump durante a convenção republicana de 2016 em Cleveland, que se opunha a isso.
O ministro dos Estrangeiros do Paquistão, Khawaja Asif, respondeu ao ataque de raiva tuitado por Trump declarando que "Ele [Trump] tuitou contra nós [Paquistão] e Irão para o seu consumo interno". Mas não foi simplesmente para o consumo interno genérico de Trump. A retórica anti-Irão/Paquistão de Trump, vindo longo após a sua decisão sobre Jerusalén, destinava-se a agradar sionistas como o magnata dos casinos Sheldon Adelson, bem como ao seu trio de conselheiros ultra-sionistas – Kushner, Greenblatt e Friedman. Também foi um ataque covarde aos conspiracionistas de extrema-direita, constituídos principalmente por Steve Bannon, Alex Jones e Mike Cernovich, para aplacar a sua xenofobia anti-muçulmana. Não ocorreu a estes conspiradores, acólitos à margem de Trump, que tal como George W. Bush e Barack Obama, Trumpo adoptara as mesmas políticas de mudança de regime preparadas pelo guru dos protestos da CIA, Gene Sharp, e pelo mentor de revoluções George Soros. Jones, por exemplo, outrora opôs-se a Soros e às suas revoluções. Mas agora, Jones e outros da sua laia aplaudem loucamente movimentos de Trump para derrubar governos utilizando as tácticas de Sharp e Soros.
Estas operações não estão a ser executadas só no Irão, mas também nas Honduras, onde a administração Trump apoiou o corrupto contrabandista de drogas e fascista presidente em exercício, Juan Orlando Hernandez, também conhecido como "JOH", contra o candidato da oposição salvadorenha Salvador Nasralla na eleição de 26 de Novembro de 2017. A Organização dos Estados Americanos, normalmente um carimbo para os Estados Unidos, criticou a vitória reclamada por Hernandez como resultando de fraude maciça. O antigo presidente Manuel Zelaya, derrubado em 2009 num golpe da CIA aprovado por Obama e pela secretária de Estado Hillary Clinton, anunciou que 2018 será o ano em que JOH será apeado do poder e a democracia restaurada. Contudo, Zelaya, Nasralla e outros líderes da oposição enfrentarão a bota da "não mudança de regime" da política externa de Trump de interferência aberta nos assuntos de outros países.
Inversamente, a administração Trump declarou guerra económica e política total à Venezuela, sujeitando seus líderes e cidadãos a proibições de vistos dos EUA e sanções económicas desgastantes. Trata-se das mesmas tácticas empregues pelos neocons das administrações Bush e Obama contra o governo socialista chavista na Venezuela.
Ao contrário de Claudius, Trump não tem uma forte Guarda Pretoriana para assegurar a sua sobrevivência final. Trump criou mais inimigos do que amigos dentro do establishment do Partido Republicano, sem mencionar no Federal Bureau of Investigation, na CIA e nos serviços militares. Neste momento, candidatos presidenciais republicanos já estão a planear desafiar Trump na nomeação presidencial em 2020. Estes esforços ganharão pleno vapor após a eleição intercalar de 2018 que poderia ver o Congresso voltar ao controle do Partido Democrata.
No final das contas, tal como Claudius, Trump sofre de desordens neuro-psiquiátricas que o levam a empenhar-se em obsessões e compulsões socialmente inadequadas. Quando as políticas neocon de Trump alcançarem os seus desejados resultados, os neocons descartarão Trump como um velho cavalo estúpido e promoverão alguma nova ferramenta insípida para executarem suas políticas. Entre Nikki Haley, o vice-presidente Mike Pence e o senador republicano de Arkansas Tom Cotton.