A era da dominação monopólica de um punhado de capitalistas das grandes potências. Que busca exportar seu capital, e para isso submete todas as nações dependentes e semicoloniais, e interfere por diversos mecanismos, incluindo a força, na política das nações que submetem. Essas são algumas definições usadas por Lênin para definir o que era imperialismo, em sua obra escrita em 1916.
Passados cem anos essas definições continuam mais atuais que nunca. E agora se revelam à luz de um novo escândalo internacional, dessa vez envolvendo o Facebook. A rede social de Mark Zukkerberg está sendo alvo de uma investigação por conta da venda de dados de 50 milhões de usuários para Cambridge Analytica, uma consultoria que atuou nas eleições norte-americanas para favorecer ninguém menos que Donald Trump. Em base aos dados foram criados um programa pensado milimetricamente para influenciá-los, considerando seus perfis e preferências, de modo a “apontar seus demônios internos”, para usar as mesmas palavras do criador do programa.
O comitê de ação política montado pelo Cambridge Analytica fora chefiado por ninguém menos que John Bolton, que trabalhou no governo George W. Bush e para a campanha de Donald Trump. O lema “localizamos seu eleitorado e o fazemos agir” utilizado pela empresa manda um recado claro de que tudo, agora preferências pessoais, interações nas redes sociais, etc, passa a ser mercadoria e matéria-prima para que os políticos capitalistas obtenham seus objetivos.
A Cambridge Analytica procurou o Centro de Psicometria da Universidade de Cambridge solicitando a utilização de seus modelos para o mapeamento de perfis psicológicos. Mas o centro negou. A empresa então recorreu a Aleksandr Kogan, um professor de psicologia da Universidade de Cambridge familiarizado com o trabalho do centro. Ele desenvolveu um teste de personalidade para um aplicativo do Facebook, que foi usado para recolher os dados dos 50 milhões através dos perfis da rede social. Mas os usuários jamais consentiram na utilização desses dados. No entanto, isso não impediu que a Cambridge Analytica vendesse serviços em base à análise desses dados para clientes políticos e comerciais, como a Mastercard, o clube de beisebol New York Yankees e o Estado-Maior Conjunto das forças armadas norte-americanas.
Os efeitos sobre o Facebook não tardaram. Suas ações despencaram, e é provável que tenham que pagar uma multa de proporções gigantescas. A tentativa de passar a ideia de que o Facebook não foi parte, mas vítima, da venda dos dados não se sustentou por nenhum instante. Ficou claro que o Facebook transformou os dados que deveriam ser sigilosos de seus usuários em mercadoria, e não apenas lucrou com isso, como também foi um instrumento de intervenção na política.
Agora veio à tona que a intenção do Cambridge Analytics para o Brasil era atuar no processo eleitoral de 2018. O que obrigou Mark Zuckerberg a dizer que estaria “comprometido com a integridade das eleições no Brasil”. Uma frase que não vale muita coisa. Somado ao presente escândalo o Facebook vem levando adiante uma política de derrubar ou restringir o conteúdo de páginas que consideram ser “de baixa qualidade”.
Mas enquanto isso fake news como as infames mentiras propagadas contra Marielle Franco, vereadora do PSOL assassinada há pouco mais de uma semana, se multiplicam com velocidade avassaladora pela rede sem nenhuma reprimenda da empresa. Os trolls da direita atuam disseminando suas absurdidades sem fim, que de tanto serem repetidos se transformam em verdade para alguns setores, enquanto há censura de conteúdos progressistas. Num país onde a dominação imperialista só se aprofundou desde o golpe de 2016, não seria uma surpresa constatar mais essa via de interferência na política nacional para garantir os interesses dos grandes capitalistas imperialistas, e à burguesia nacional a ela submetida, utilizando-se mais uma vez do Facebook. Como disse Snowden “o Facebook não é vítima, é cúmplice”.