Basta ver como, uma vez mais, a recente bárbara agressão da tropa sionista contra uma manifestação pacífica do povo da Gaza foi tratada. Mas a UE, por exemplo, atribui vultuosos apoios dos seus programas científicos a empresas israelitas cuja investigação se dirige no fundamental numa só direcção: tornar mais eficazes e mais letais o seu armamento e os seus meios de repressão.
A propaganda nem sempres se desenrola como previsto. O exército israelita optou no início do mês por retirar de Facebook um vídeo que o apresentava como uma organização feminista. Alguns sionistas menos liberais tinham ficado contrariados face à mensagem implícita do vídeo segundo o qual as mulheres soldados são tão capazes de matar Palestinos como os seus colegas masculinos. Israel tem a sorte de os seus principais parceiros serem indiferentes a este género de argoladas embaraçosas.
Emanuele Giaufret, a embaixadora da UE em Tel Aviv, faz parte destes parceiros. Tem muito com que se ocupar com o apoio aos israelitas que beneficiam dos apoios científicos da UE. Numa recepção recente, Giaufret elogiou as empresas e instituições israelitas pelas suas «incríveis ideias». Promoveu também uma curta-metragem sobre os «projectos de colaboração» entre a UE e Israel. O filme mostra um representante da Israel Aerospace Industries (IAI – uma empresa israelita de construção aeronáutica). O que não é dito aos espectadores é que a IAI é igualmente fabricante de armas. Em vez disso, são informados de que este empresa está em vias de desenvolver o avião do futuro.
Israel Aerospace Industries – empresa propriedade do Estado – fabricou o drone Heron, o mesmo que foi utilizado nas agressões contra Gaza. A empresa parece considerar isso como um argumento que favorece as vendas. Os folhetos sobre o Heron apresentam-no como «tendo prestado provas em combate».
Aterrador
Os burocratas não ficaram perturbados por este horrível eufemismo. Deram o seu acordo à participação da IAI no Horizon 2020, o mais recente programa de investigação da UE. Pelo menos uma das subvenções que a empresa recebeu graças a este programa é destinada a trabalhos sobre a tecnologia dos drones. Outras subvenções são associadas é pesquiza sobre motores e a fabricação de aviões e helicópteros ligeiros. É suposto que as actividades científicas da UE sejam de carácter civil. Todavia, os representantes da UE já admitiram anteriormente que nada impedia que os frutos da investigação que supervisionam fossem utilizados para outros fins.
Isto indica que a UE auxilia Israel a fabricar armas ainda mais mortíferas do que aquelas que já possui.
A Israel Aerospace Industries não é uma pequena empresa familiar que necessite de ser impulsionada pelos contribuintes da UE. No final do ano passado a sua carteira de encomendas ultrapassava os 11 milhões de dólares. Uma das divisões mais rentáveis da AIA chama-se Elta Systems. Esta empresa foi recentemente seleccionada pela administração Trump para construir um protótipo para o muro previsto para ser construído ao longo da fronteira dos EUA com o México.
Os sistemas de radar desenvolvidos pela Elta conheceram aquilo que os negociantes de armamento designam como a sua estreia operacional na altura da agressão de 2014 contra Gaza. Aparentemente estes radares permitem identificar simultaneamente diversos alvos. Como a agressão de 2014 causou mortes e destruições massivas sobre civis e infra-estruturas civis, isto significa que a Elta deu um importante contributo para os crimes contra a humanidade cometidos por Israel. E isso não impediu a UE de conceder à Elta um certo números de subvenções científicas.
Uma cruel cumplicidade
Israel é perito em obter fundos da UE. Só do Horizon 2020 já recolheu 530 milhões de dólares. Como este programa de sete anos decorre até ao final da década, o montante final que Israel virá a receber será inevitavelmente muito mais elevado. Os diplomatas da UE esquivaram-se a algumas questões vitais: a «incríveis ideias» que tanto excitam Emanuele Giaufret são frequentemente elaboradas ou influenciadas pelas forças armadas israelitas.
Mellanox, por exemplo, é um lucrativo negócio que se consagra à aceleração da transferência de dados via Internet. O seu director-geral, Eyal Waldman, gabou-se de ter prestado serviço na Brigada de «elite» Golani – uma unidade das tropas israelitas. A sua formação nessa brigada permitiu à sua empresa «matar com uma só bala, em lugar das cinco ou das cem dos nossos concorrentes», disse. O facto de se exprimir metaforicamente não altera em nada o modo como Israel tornou a sua ocupação da Cisjordânia e da faixa de Gaza – uma ocupação em que a Brigada Golani desempenhou um papel de primeiro plano – num factor de vantagem nessa competição.
Foi criado um florescente sector tecnológico devido, em grande parte, ao facto de a ocupação oferecer numerosas oportunidades para testar inovações. Distribuindo subvenções a empresas como Mellanox, a UE encoraja o militarismo israelita. Pelo enviesamento dos seus programas de investigação a UE atribui também milhões a Elbit Systems, uma das mais importantes fábricas de armamento de Israel, que fabrica bombas de fragmentação proibidas à escala internacional.
Outros participantes em Horizon 2020 têm o exército israelita na sua lista de clientes. Nomeadamente Isra Team, um gabinete-conselho implicado no projecto, financiado pela UE, para a investigação sobre o «terrorismo» e o crime organizado. Israel serve-se da palavra «terrorismo» como um termo que designa em geral a resistência ao seu comportamento opressor. E ao fazê-lo disfarça eficazmente as suas grotescas violações dos direitos humanos, nomeadamente o recurso corrente à tortura.
Os fornecedores de armas e serviços ao exército israelita conduzem cruéis experiências contra os Palestinos. Convidar estes fornecedores a participar nos seus programa científicos é um importante meio que a UE utiliza, cruelmente e de forma cúmplice.
David Cronin é redactor em chefe adjunto de The Electronic Intifada. O seu livro mais recente é: L’ombre de Balfour : un siècle de soutien britannique au sionisme et à Israël (Pluto, 2017).
Fonte : The Electronic Intifada