O presidente francês Emmanuel Macron, chegou na segunda-feira a Washington, para converter-se no primeiro líder homenageado por Donald Trump, com uma visita de Estado, uma ocasião que promete múltiplos gestos amigáveis, mas que também está marcada por tensões em torno do comércio e do acordo nuclear com o Irã.
Macron busca com essa viagem aparecer como um líder nacional de peso, para projetar essa imagem frente ao interior da França, em um momento em que enfrenta um forte movimento de protestos contra suas políticas de ataque às empresas estatais de ferrovias e energia, aos estudantes e aos aposentados.
Porém é difícil que Macron possa conseguir acordos da parte de Trump que vão alem dos gestos de amizade entre ambos os presidentes e da pomposa gala com que o magnata nova-iorquino e Melania Trump receberam o presidente francês.
Macron aterrissou nos Estados Unidos na primeira hora da tarde de segunda-feira, acompanhado de sua esposa Brigitte, e ambos passearam pelo centro de Washington antes de se reunirem com Trump e Melania para um jantar de “boas vindas”.
“É uma grande honra e uma visita de Estado muito importante, dado o contexto atual”, disse Macron aos jornalistas logo que chegou à base aérea de Andrews, nos arredores de Washington.
É a primeira vez que Trump usou o tapete vermelho para receber um aliado estrangeiro desde que está no poder, há 15 meses: é o único presidente estadunidense em décadas que não aceitou nenhuma visita de estado em seu primeiro ano de governo.
Este dado poderia terminar sendo, tristemente para Macron, o mais relevante de uma visita que até agora esteve marcada pro gestos mútuos entre os presidentes e que terá seu ponto agudo no luxuoso jantar desta terça-feira, apos a reunião central entre Trump e Macron na Casa Branca e a conferência de imprensa conjunta.
O luxo e a pompa estiveram atravessados, porém, pelas profundas diferenças que ambos os presidentes carregam sobre diversos temas: o pacto nuclear com o Irã, a presença dos Estados Unidos na Síria, e a guerra comercial dos EUA com vários de seus sócios europeus, entre outros.
Quanto ao pacto nuclear com o Irã, Trump não só vem ameaçando abandonar-lo, mas também deu um ultimato para alguns dos países que firmam o acordo (entre eles estão França, Alemanha e o Reino Unido) para que negociem com ele um pacto paralelo que “corrija os defeitos do acordo original” antes do próximo 12 de maio, se não querem que os EUA se retire do mesmo.
Mas Trump foi mais além e antes de se reunir com Macron declarou publicamente que o acordo com o Irã é “terrível e ridículo”. Nada mais nada menos que uma chacoalhada no presidente francês em plena visita oficial e desacreditando por antecipação qualquer posição que não esteja alinhada com seu ultimato.
Para não deixar Macron tão no ridículo, Trump assegurou que de todas as maneiras tentaram resolver suas diferenças sobre o Irã, ainda que não tenha dado qualquer sinal claro se cumprirá ou não sua ameaça de abandonar o acordo nuclear.
Na coletiva de imprensa Macron buscou mostrar que havia discutido “um novo acordo que fortalecerá o pacto de 2015” de acordo com as linhas que quer o republicano, como as que se referem à expansão iraniana no Oriente Media e seu programa de mísseis balísticos. Isso, porém, só coloca Macron à seguir os desejos de Trump mas não significa nenhum acordo real, seja pela posição do resto das potencias que intervém no conflito, ou pelo curto prazo em que os EUA deve decidir se mantém-se ou não no acordo.
Outro tema que preocupa Macron é o iminente fim – no 1º de maio expira – da isenção que Trump concedeu a União Européia (UE) para livrá-la temporariamente das suas tarifas sobre o aço e o alumínio.
“Espero que não implemente as tarifas que decida impor uma extensão (permanente) para a União Européia. Não pode travar uma guerra comercial com seu aliado”, defendeu Macron na entrevista.
O resultado dessas negociações ainda são uma incógnita e, de fato, a visita de Macro seguirá por alguns dias depois de a chanceler alemã, Ângela Merkel, para discutir esse, entre outros temas que vem deixando a relação entre ambos os países no freezer. As tarifas sobre a importação de aço e alumínio é a ultima de uma série de disputas com Merkel que tem como centro o enorme déficit comercial que os EUA tem com a Alemanha, e além dos questionamentos de Trump sobre os escassos aportes que a Alemanha, e outros países da Europa, fazem aos organismos multilaterais. O presidente francês não conseguiu também obter de Trump um acordo duradouro para que mantenha sua presença na Síria. Sobre este assunto só conseguiu o compromisso de que as tropas não se retirariam de imediato, ainda que para seu desgosto, Trump declarou: “Queremos voltar para casa. Voltaremos para casa.”
A somente uma semana da operação militar sobre a Síria, que os EUA lançou junto a França e Reino Unido, alguns analistas haviam especulado a possibilidade de que Macron se torne uma ponte na relação entre EUA e Europa frente ao congelamento das relações com a Alemanha, e a difícil situação de Theresa May no Reino Unido atravessado pelas negociações do Brexit. Porém, apesar do perfil de “homem do Estado” e líder internacional que quer projetar Macron, a realidade do pragmatismo do “America First” (“America Primeiro”) de Trump, o deixa poucas margens de manobra para “fazer reais seus sonhos”.
Como assinala a publicação Foreign Affairs “nos dias prévios a viagem, os diplomatas franceses foram prudentes ao rebaixar as expectativas e a qualificaram como uma mera ‘celebração de sua amizade’. O melhor que Macron pode esperar é que Trump permita a prolongação do atual status quo imperfeito: continuar os esforços conjuntos antiterroristas na Síria, a ausência de decisão sobre o acordo nuclear do Irã, e um acordo para discordar educadamente na maioria dos outros assuntos
Com poucas possibilidades de hajam maiores acordos sobre os assuntos iranianos, sírios e russos na agenda, o que sobre para Macron é a oportunidade de encenar a “forte amizade” entre os dois presidentes, e celebrar o ataque imperialista comum à Síria, que acabaram de levar a cabo. Porém quando se acabar a festa e a pompa, Macron deve voltar ao seu país e lidar com o movimento de resistência aos seus ataques que, apesar da repressão e desgaste, se mantém de pé.
Tradução: Rafael Barros