O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan endureceu a sua posição contra o US dólar ao declarar que os empréstimos internacionais deveriam ser efectuados em ouro ao invés da divisa americana. Ancara procura reduzir a sua dependência do sistema financeiro estado-unidense. O retorno para casa do ouro foi parcialmente impulsionado pelas ameaças dos EUA de impor sanções se a Turquia efectivasse o acordo assinado para comprar à Rússia sistemas de defesa mísseis S-400 .
Trata-se de um movimento dramático que reflecte uma tendência internacional. A Venezuela em 2012 repatriou dos EUA o seu ouro . Em 2014, a Holanda também recuperou suas 122,5 toneladas de ouro armazenadas em cofres estado-unidenses. A Alemanha em 2017 trouxe para casa 300 toneladas de ouro guardadas nos Estados Unidos. Levou quatro anos para que Berlim completasse as transferências. A Áustria e a Bélgica reexaminaram a possibilidade de tomarem medidas semelhantes.
Poucas pessoas acreditam nas garantias do US Treasury de que 261 milhões de onças-troy [1] (cerca de 8.100 toneladas) em reservas oficiais de ouro estejam armazenadas em Fort Knox e outros lugares estão plenamente auditadas. A Reserva Federal nunca passou por uma auditoria completa e independente . A pressão por uma auditoria completa e independente das reservas ouro dos EUA sempre foi recebida com relutância pelo governo e pelo Congresso. Ninguém sabe se o ouro realmente está ali. E se se descobrir que os cofres estão vazios ? É mais sábio trazer o seu ouro para casa enquanto pode, ao invés de continuar a supor que está lá.
As barras de ouro que os EUA afirmam possuir são de baixa pureza e não conformes aos padrões internacionais da indústria. Mesmo que os EUA tenham o montante de ouro que afirmam ter, a maior parte dele não seria aceitável para comercialização no mercado internacional. Enquanto outros país estão a retirar o seu ouro dos bancos do Federal Reserve System, a Rússia e a China estão a reforçar as suas reservas , criando divisas com lastro ouro para si próprias e, assim, afastando o mundo da dominância do US dólar.
O status do US dólar como a divisa de reserva global tem sido posto em causa. Ele enfrenta uma dura competição . As tarifas aprovadas pela administração dos EUA como instrumento de coerção contra outros países estão a enfraquecer a moeda verde, a qual em breve pode enfrentar ventos adversos. Uma guerra de divisas internacional surge como uma possibilidade . Isto leva investidores a examinarem outras opções . Na verdade, por que deveriam outros países confiarem num US dólar que não está lastreado por ouro ou qualquer outra coisa além da "boa fé e do crédito do trabalhador americano", quando a própria América não é confiável internacionalmente?
O yuan chinês, por exemplo, está a tornar-se forte . A Rússia, a Turquia e o Irão estão a considerar as perspectivas de efectuarem pagamentos nas suas divisas nacionais. O Irão recentemente anunciou que está a comutar do dólar para o euro como sua divisa oficial de apresentação [para fins estatísticos] (reporting currency). A Rússia e a China têm um acordo swap de divisa que evita liquidações em US dólar.
A ânsia para reduzir a dependência em relação ao dólar foi provocada pela utilização em curso de sanções como arma política, uma espécie de ferramenta favorita de política externa. Mesmos os aliados mais próximos dos EUA estão ameaçados por estas medidas restritivas. O ataque recente ao projecto de gás Nord Stream 2 é um bom exemplo. É simplesmente natural que outros países procurem meios para resistir à política de braço de ferro dos EUA. A utilização de divisas alternativas e trazer ouro de volta para casa são meios para isso.
Os EUA sempre se opuseram a tais esforços. Por todos os métodos. Muammar Gaddafi, o líder líbio, foi derrubado e morto depois sugerir a ideia de introduzir um golden dinar para ser utilizado como divisa internacional no Médio Oriente e na África. O Irão recentemente proibiu a utilização do US dólar no comércio. O país recusa-se a vender o seu petróleo pela divisa dos EUA. O presidente Trump provavelmente matará o acordo com o Irão no mês de Maio, o que provocará Teerão a ressuscitar seu programa nuclear.
Um conflito armado com o Irão pode estar muito mais próximo do que geralmente se acredita. O acordo nuclear tem sido honrado, para satisfação de todos mas desgosto de Washington. O Irão sem dúvida não tem uma capacidade militar que constitua ameaça para os EUA. Ele nunca foi responsável por quaisquer actos terroristas cometidos no exterior ou algo como isso. Mas ele fez algo imperdoável aos olhos dos EUA: Ameaçou o US dólar. É isso o que Washington não pode aceitar, porque se não apoiar o dólar haverá problemas quanto ao financiamento da enorme dívida federal do governo dos EUA. Uma guerra com o Irão eliminaria o maior exportador de petróleo não-US dólar. Uma coisa leva á outra. As repatriações de ouro são um precursor de uma guerra de divisas e conflitos armados. É a isso que conduz a política externa dos EUA.