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Diário Liberdade
Domingo, 10 Junho 2018 16:58 Última modificação em Sexta, 15 Junho 2018 00:55

Pressão de EUA-sauditas sobre Jordânia abre caminho para o Irã

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País: Jordânia / Resenhas / Fonte: Moon of Alabama

[Tradução do Coletivo Vila Vudu] O Reino Hachemita (ou Haxemita, ar. هاشمي, Hāšimī) da Jordânia tem-se mantido tradicionalmente no campo 'ocidental'. É politicamente ligado ao Reino Unido e aos EUA, tanto quanto à Arábia Saudita e a outros estados do Golfo de maioria sunita. O rei da Jordânia Abdullah II foi, no passado, hostil ao Irã. Foi o primeiro a falar publicamente do medo de um 'crescente xiita'. Mas os novos planos sauditas e dos EUA para 'paz' com Israel são ameaça à Jordânia e à legitimidade pessoal do rei Abdullah. Precisa mudar de posição. Desde que receba incentivos adequados, a Jordânia pode, eventualmente, unir-se ao lado da 'resistência', com Irã, Síria e o Hizbullah.

O país governado pelo rei Abdullah tem quase 10 milhões de habitantes, mas é relativamente pobre. Tem poucos recursos naturais. A população, de modo geral bem educada, atraiu alguns investimentos externos na indústria jordaniana. Muitos jordanianos trabalham fora do país e enviam dinheiro para a família. Mas não basta. O país carece de subsídios externos para manter o próprio padrão de vida.

O rei da Arábia Saudita extrai legitimidade do título de "Guardião das Duas Mesquitas Santificadas" em Meca e Medina. O rei da Jordânia é descendente da grande dinastia Hachemita, de mil anos. Preside a Fundação [Waqf] Islâmica Jerusalém e é o guardião dos locais sagrados do islamismo em Jerusalém, da mesquita Al-Aqsa e do Domo da Rocha. Essa é a única função de destaque que restou à família Hachemita. É a fonte da legitimidade do rei Abdullah.

As mudanças na política da Arábia Saudita para Israel e o 'plano de paz' dos sionistas que o governo Trump está desenvolvendo criam uma situação nova para a Jordânia – e o país enfrenta furiosa pressão econômica para aceitar aqueles planos.

A Jordânia participou na guerra contra a Síria. Ao tempo em que a Turquia garantia apoio aos "rebeldes" que atacavam a Síria pelo norte, a Jordânia cumpria papel semelhante pelo sul. Armas e munição fornecidas por Arábia Saudita e Qatar foram embarcadas pela Jordânia e contrabandeadas para dentro da Síria. O país acolheu como bem-vindas as famílias dos 'rebeldes', consideradas refugiadas de guerra e lhes garantiu assistência médica. A "sala de operação no sul", dos 'rebeldes', comandada pela CIA, estava instalada em Amã, capital da Jordânia.

A guerra interrompeu a importante e lucrativa linha de transporte da Turquia atravessando Síria e Jordânia até os países do Golfo. Os refugiados foram um peso. O outrora florescente negócio do turismo decaiu. Como muitos outros países, a Jordânia esperava que uma guerra curta logo levaria, ao cabo de poucos meses, à mudança de regime na Síria. Hoje, sete anos adiante, a guerra contra a Síria é grave problema para a Jordânia. O milhão de refugiados sírios provocou aumento no custo da moradia, enquanto os salários desabavam. 20% da força de trabalho está desempregada. Para a Jordânia, é imperativo pôr fim à guerra contra a Síria.

A Jordânia recebe cerca de $1,2 bilhão por ano dos EUA, como ajuda militar e econômica. Em anos anteriores, também recebeu entre $1 e 2 bilhões da Arábia Saudita e de outros Estados do Golfo. Mas não foi suficiente para compensar o que a guerra custava à Jordânia. Desde 2011, a dívida pública da Jordânia aumentou de 70% para 95% do PIB nacional. O déficit em orçamento esse ano superará, muito provavelmente, $1 bilhão.

Esse ano, a Arábia Saudita nada pagou à Jordânia. Com Trump governando em Washington, os pagamentos dos EUA são duvidosos. A Jordânia tomou um empréstimo, do FMI, de $723 milhões, mas ligado a várias exigências. Desde o início do ano em curso, os impostos sobre itens básicos de alimentação aumentaram entre 50 e 100%. Houve cinco aumentos no preço dos combustíveis. Os preços de eletricidade e água também subiram. Não foi suficiente. Desde o ano passado, o primeiro-ministro da Jordânia trabalha num projeto de novo imposto sobre rendas que pode duplicar o número das pessoas obrigadas a pagar. E serão criadas penas duríssimas para punir a evasão fiscal.

Desde 30 de maio, a Jordânia vive protestos diários, motivados, ao que parece, pela carestia e pela nova lei do imposto sobre as rendas. Os protestos foram organizados por 33 sindicatos de trabalhadores, que convocaram greve geral. A greve mobilizou grande número de pessoas, e os protestos passaram a atrair multidões imensas. Exigiam a renúncia do primeiro-ministro e o fim dos planos para aumentar impostos. Protestos desse tipo nada têm de especialmente extraordinários, como, tampouco, a solução.

Depois de uns poucos dias de protestos, o rei Abdullah demitiu o primeiro-ministro Hani Mulki, que insistia na tal nova lei de impostos. Em casos simples, teria bastado para acalmar as ruas. As pessoas voltariam para casa, a lei seria modificada ou abolida, e o governo daria a crise por superada.

Mas não dessa vez. As manifestações de rua continuaram. Passaram a incluir cantos contra a monarquia. Nada de corriqueiro. Muito, muito estranho.

A situação econômica e a nova lei de impostos podem não ser a única explicação para a agitação das ruas. Há boatos de que os sauditas, ou a CIA, estão ativos por ali.

Dia 18 de maio, a Organização para Cooperação Islâmica (OCI) reuniu-se em conferência extraordinária na Turquia, para protestar contra as atrocidades que os israelenses estão cometendo na Palestina e os planos de Trump para Jerusalém. Muitos chefes de estado lá estiveram incluindo o presidente do Irã e o emir do Qatar. Arábia Saudita e o Emirado seu aliado só enviaram delegações de baixo nível. O rei da Jordânia recebeu solicitação (aqui em trad. automática) para que não comparecesse à conferência. Mas foi, mesmo assim:

O rei Abdullah da Jordânia disse na Conferência em Istanbul, que se opôs a todas as tentativas de mudar o status quo de Jerusalém e seus sítios sagrados.


As palavras de Abdullah são declaração também de direta oposição à decisão dos EUA de transferir sua embaixada para Jerusalém. E de oposição também ao 'plano de paz' de sauditas-EUA que implica entregar Jerusalém aos sionistas. Mas essa imagem é ainda mais importante, de um ponto de vista saudita.

O rei Abdullah não só trocou apertos de mão com o presidente Rohani do Irã, como, além disso, Rohani e Abdullah tiveram ali asprimeiras conversações em nível de chefes de estado entre Jordânia e Irã, em 15 anos:


Os chefes de Estado de Irã e Jordânia tiveram uma rápida reunião à margem de uma reunião extraordinária da cúpula da Organização de Cooperação Islâmica (OCI) na Turquia

....

O rei Abdullah II é monarca pró-ocidente, mas os laços de Amã com EUA e Arábia Saudita foram severamente abalados recentemente, como efeito dos ataques israelenses à Palestina.

A noticiada aproximação entre Riad e Israel preocupou a Jordânia, que tem a missão de zelar pela Mesquita al-Aqsa, no maior complexo de monumentos muçulmanos sagrados do Monte do Templo.

O governo Trump e o Clown Prince ['príncipe palhaço', trocadilho com Crown Prince, príncipe coroado (NTs)] Muhammad bin Salman querem que a Jordânia aceite o 'plano de paz' com Israel que a dupla concebeu. Os lugares santos dos islâmicos em Jerusalém passariam ao controle de Israel e ficariam ameaçados. Judeus fanáticos têm planos de construir um 'terceiro tempo judeu' por cima da mesquita Al-Aqsa (mesmo que não haja qualquer prova histórica ou arqueológica de que tenha algum dia existido qualquer primeiro ou segundo templo naquele local). O 'acerto' que está sendo construído entre EUA, Arábia Saudita e Israel ameaça os fundamentos da legitimidade do rei Hachemita.

A falta do apoio financeiro que vinha da Arábia Saudita e as suspeitíssimas demonstrações de rua na Jordânia lá estão para pressionar o rei Abdullah. Sauditas e EUA querem que a Jordânia se submeta ao negócio sujo que estão construindo com os sionistas. Se Abdullah não se render à chantagem de EUA/Sauditas, será derrubado. Se se render fica, mas perde toda a legitimidade.

Resta uma alternativa: o rei Abdullah pode mudar de lado. Pode buscar ajuda financeira no Irã (ou no Qatar? Ou, mesmo, na Rússia?). Uns poucos bilhões bastarão. Podem vir na forma de investimentos industriais. Em troca por esse apoio econômico, a Jordânia terá de se alinhar com o lado da 'resistência'. Terá de pôr fim à ajuda que dá aos inimigos da Síria. Terá de reduzir o nível de suas relações com a Arábia Saudita. E terá de assumir posição mais forte contra Israel.

Mas a Arábia Saudita continua a ser vizinha da Jordânia e muito rica. Muitos jordanianos trabalham lá. Os EUA protegem a Jordânia de ser atacada por Israel. É pouco provável que Abdullah venha a dar passo tão grande na direção do Irã. Mas há meios e modos, provavelmente, que permitam movimento menos dramático e mais lento, para posição um pouco mais próxima da neutralidade.

O Irã venceu todas as guerras e conflitos que EUA e Arábia Saudita iniciaram – no Iraque, no Líbano, no Qatar, no Iêmen e na Síria. A pressão dos sauditas sobre a Jordânia pode ter efeito similar.

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