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Diário Liberdade
Domingo, 02 Dezembro 2018 16:20 Última modificação em Domingo, 09 Dezembro 2018 14:13

Animes: Um relato sobre os grandes nomes do cinema de animação japonês e as suas obras

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País: Japão / Cultura/Música / Fonte: Democracia e Sustentabilidade

[Sandro Ari Andrade de Miranda] Não existe um mapa histórico definitivo sobre o início da indústria de animação no Japão. O certo é que em 1917 temos o registro do primeiro fotograma de animação nos cinemas da “Terra do Sol Nascente”. Mas foi somente no pós-guerra que tivemos a explosão deste segmento, interligado com o mercado editorial dos mangás e das ligth-novels e, posteriormente, dos games. Na década de 1980, empurrados pelo sucesso do Stúdio Ghibli (hoje incorporado pela Disney), os animes invadiram o mundo ocidental com extraordinário sucesso, criando uma faixa própria de consumidores, especialmente em razão das séries e da sua associação com os mangás.

Antigamente os traços no estilo de animação dos animes apresentavam uma certa padronização, uma espécie de metáfora visual onde os personagens possuem olhos grandes, traço simplificado e forte expressividade emocional. Isto pode ser observados em séries clássicas como Evangelion ou Cavaleiros do Zodíaco. Mas não é mais uma regra, pois muitos trabalhos, atualmente, beiram a perfeição em termos de movimentos e qualidade de animação.

Outra marca da animação japonesa é o sucesso dos dubladores ou seiyus, os quais possuem uma legião de fãs e, de fato, algumas interpretações são impressionantes (sugiro, sempre, acompanhar o trabalho de Koky Uchiyama em “Charlotte” e de Tomokazu Sugita, o ótimo Kyon, em “O Desaparecimento de Hurahi Suzumiya”).

Embora o carro-chefe das animações japonesas sejam as séries, muitos filmes hoje são conhecidos no mundo inteiro. Além da animação em si, destaca-se a excelência dos roteiros. Mesmo que o país tenha ganhado apenas 1 Óscar de animação, com Sen To Chihiro No Kamikashi (ou A Viagem de Chihiro), o trabalho dos animadores possui enorme reconhecimento e valorização no próprio país, ao ponto de Kimi No Na Wa (2015) apresentar o maior público da história dos cinemas japoneses. Existe uma grande expectativa com relação à Kimi no Suizou Wo Tabetai, um verdadeiro espetáculo visual que, infelizmente, ainda não chegou no Brasil.

Aqui vamos destacar os trabalhos dos três grandes diretores do cinema de animação japonesa: Hayao Miyazaki, Makoto Shinkai e Satoshi Kon. Todos fundamentais e imperdíveis para quem gosta de cinema de qualidade.

1 – Satoshi Kon

Morte em 2010, com apenas 46 anos, talvez seja o menos badalado pelo mercado do cinema, mas o seu trabalho é impecável e reconhecido por vários gênios do cinema. A sua obra inclui desde dramas intensos, como Millenium Actress (2001), a filmes de mistério e ação, como Perfect Blue.

Uma das marcas do trabalho de Kon é o perfil mais adulto dos roteiros, com estilos como drama, sci-fi, thriler e slice-of.

Perfect Blue (1997) é o maior exemplo deste perfil, narrando a vida da personagem principal que tenta mudar de profissão, deixando o mundo da música para virar atriz, o que acaba promovendo a perseguição por pessoas descontentes. É muito difícil, ao longo da animação, definir o que é verdadeiro ou apenas ilusão na mente da protagonista. Segundo Darren Aronofsky, o filme também influenciou muitas das suas obras, especialmente as oscarizadas Cisne Negro e Réquiem para um Sonho.

Mas Aranofsky não foi o único cineasta americano influenciado por Satoshi Kon. Christopher Nolan também é fã do trabalho de japonês e se inspirou em Paprika (2006) para a produção do roteiro de duas das suas principais obras: Memento e Inception.

Além destas, é inegável a qualidade de Tokyo Godfathers (2003), também considerado um verdadeiro “soco no preconceito”, em roteiro que narra a estória de três sem-teto, um dos quais travesti, quando estes encontram uma criança abandonada nas ruas da capital japonese, na véspera do Natal. Preocupadas com a sobrevivência do menor, partem numa jornada em busca dos verdadeiros pais.

2 – Hayao Miyazaki 

Aos 77 anos e se autodefinindo como aposentado, Miyazaki é considerado como o grande mestre da animação japonese, único vencedor do Óscar, de vários outros prêmios e influenciador de toda uma geração de animadores.

Em 1979 ele dirigiu “O Castelo de Cagliostro”, um trabalho impressionante para a época em que foi produzido e, em 1984, Kaze No Tani No Naushika (Nausicãa: o Vale do Vento), tido como um divisor de águas para o seu futuro trabalho nos Studios Ghibli, por ele fundado em conjunto com Isao Takahata. Esta obra também é um marco por levantar a temática ambiental no cinema de animação, muito antes do tema entrar na agenda política internacional de forma efetiva.

O seu filme mais famoso é o oscarizado “A Viagem de Chihiro” (2001). Contudo também merecem destaque Tonari No Totoro (1988), Mononoke Hime (1997), Hauru No Ugoku Shiro ou O Castelo Animado (2004) e Kaze Tachino(Vidas ao Vento, 2013), todos classificados entre as 50 maiores animações de todos os tempos pelo IMDB e os dois últimos também indicados ao Óscar de Animação.

Embora possamos classificar A Viagem de Chihiro como uma metáfora sobre a transição da infância para a maturidade e Vidas ao Vento como um slice-of adulto, uma das marcas do cinema dos Studios Ghibli é a fantasia e um corte mais juvenil nos roteiros, especialmente se fizermos um comparativo com o material produzido por Satoshi Kon.

3 – Makoto Shinkai

É considerado o maior cineasta de animação do Japão em atividade, embora tenha apenas 45 anos. Também é chamado de novo Miyazaki, pois busca a perfeição nas suas obras, mas existem diferenças substanciais no trabalho de ambos.

Makoto Shinkai é o diretor de Kimi No Na Wa (2015), maior público da história do cinema japonês, filme que consegue transformar o clichê da troca de corpos em algo profundo, que balança as emoções de quem assiste.

Aliás, dois traços do trabalho de Shinkai são a profundidade emocional dos roteiros e a beleza artística da animação. Além do filme já citado, outros dois grandes exemplos 5 Centimeters Per Second (2007) e Kotohoha No Niwa (2013). Ambos são dramas-romance com personagens realistas, que sofrem e passam pela transição de fases na vida, outra marca do trabalho de Shinkai, inclusive em Kimi No na Wa que, diferente dos outros filmes, também é uma obra de ficção científica.

Drama e romance, com ficção científica, também é o perfil de Kumo No Muko, Yakusoko No Basho (2004), a primeira obra de destaque do cineasta. Ao contrário de Miyazaki, que privilegiava o trabalho artístico manual, é possível perceber uma presença maior de tecnologia nos filmes de Shinkai, mais como um elemento que amplia a fluidez da animação, o que permite um realismo impressionante em todos os filmes.

4 – Extra: Naoko Yamada

Naoko Yamada é uma diretora tradicionalmente ligada a Kyoto Animations, sendo a responsável pelo sucesso de público e crítica K-ON. Embora tenha apenas um trabalho no cinema, é o impecável Koe No Katashi (2014). O filme narra uma estória de amor e redenção envolvendo uma menina surda e um rapaz que apresentava um comportamento nada adequado, na infância, inclusive perseguindo a protagonista. Com a chegada da maturidade, ambos trabalham para exorcizar os seus fantasmas, o que acaba nos proporcionando uma das melhores obras do gênero, motivo pelo qual referenciá-la é algo obrigatório.

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