A primeira ministra britânica, Theresa May, venceu nesta quarta a moção de confiança convocada pelo Partido Conservador para decidir sobre sua continuidade à frente da formação e do Governo.
May conseguiu 200 votos a favor e 117 contra, em uma votação secreta na qual estavam chamados todos os deputados do “Tory” (conservadores) na Câmara dos Comuns.
Porém a crise que foi gerada pelo pedido de voto de confiança por parte de seu próprio partido segue aberta. A negociação do Brexit parece difícil de se solucionar e torna impossível de reconciliar os interesses da União Europeia, a ala dura dos euroecéticos, e a discussão sobre a fronteira irlandesa, que ameaça com ser um ponto de desagregação de todo o Reino.
May fica em piores condições que antes. Deputados da ala eurocética da bancada Tory haviam apresentado nesta manhã uma moção à mandatária por estarem insatisfeitos com o acordo de May e da União Europeia sobre os termos do Brexit.
Por trás de outro dia de incerteza na política doméstica do Reino Unido, em uma votação secreta que aconteceu ontem entre as 19h e 21h (horário local de Brasília), se jogava o destino da primeira ministra e o futuro do Brexit. Às 22h o presidente do comitê parlamentar responsável pela gestão de assuntos eleitorais internos do Tory, Air Graham Brady, anunciou que May ganhou o voto de confiança ao seu mandato. A continuação precisou as contas: 200 deputados conservadores votaram pelo “TENHO confiança em May” enquanto 117 “NÃO TENHO confiança em May”.
Se por um lado o resultado foi melhor do que se esperava para May, a crise do governo não se encerra. A divisão de seu próprio partido vai mais além dos pontos precisos do acordo de saída da União Europeia (UE) – o tema da afiliação à UE é doloroso no partido conservador há décadas. As feridas voltaram a se abrir durante o mandato do ex-presidente David Cameron, que tentou resolver o debate chamando o referendum de 2016, e teve de renunciar quando o resultado foi o catastrófico Brexit. Não há nada que indique que a UE faça concessões ao acordo de saída do Reino Unido permitindo a May apaziguar as vozes mais eurocéticas.
Antes de ser realizada a votação, May reuniu o conjunto de sua bancada e anunciou que não se apresentará como candidata nas próximas eleições previstas para 2022 e, com o seu característico pragmatismo, indicou que iria terminar o trabalho que ela havia começado. Mas a realidade é menos generosa; com uma parcela importante de deputados contrários a ela, May sai ainda mais debilitada para firmar um acordo que já não se fecharia. Um resultado catastrófico para May e para o Partido Conservador, que tem como líder um problema do qual não conseguirão se livrar por mais um ano (durante o tempo em que não podem voltar a pedir uma moção de confiança).
Por outro lado, uma porta-voz do Partido Trabalhista na oposição declarou que apesar de haver ganho a moção de confiança ao seu mandato, Theresa May já havia perdido “a confiança” do parlamento. E continuou lembrando que o voto de confiança não mudava o acordo de saída do Reino Unido da UE e que”este acordo não ia ser aceito no parlamento”.
Com uma sensação de “déjà vu" que muitos jornais começaram a fazer comparações com o voto de confiança que Margaret Thatcher enfrentou em 1990. Naquela ocasião a Dama de Ferro renunciou ao receber o apoio de só 204 deputados. No lugar, May saiu na porta de 10 Downing Street (residência oficial da primeira ministra) meia hora após conhecido o resultado para agradecer a todos aqueles que a apoiaram apesar de haver recebido 200 fotos favoráveis. Numa mensagem breve disse que estava disposta a unir o país e que ia escutar os colegas que votaram contra ela.
Uma diferença de 83 votos não a deixa em uma posição muito cômoda. O voto de confiança representa um duro golpe contra sua autoridade e a deixa debilitada para negociar. A fronteira norirlandesa segue sendo a armadilha mais importante da ata de separação com a UE. Uma das figuras mais conhecidas da ala eurocética, o deputado Jacob Rees-Mogg, expressou que poderiam aceitar todos os pontos do acordo com exceção da “salvaguarda” para a fronteira entre a República da Irlanda e a Irlanda do Norte.
A primeira ministra tem uma árdua tarefa pela frente para negociar o Brexit em meio às críticas vindas tanto de suas próprias fileiras quanto da oposição.