O trio de fanáticos que governa os EUA passa por cima de tudo, incluindo as instituições do seu país. O Senado norte-americano proibiu a venda de armas à Arábia Saudita e aos Emirados Árabes Unidos. Mas a administração Trump ignorou essa proibição. O lucrativo negócio dos armamentos e da guerra e a demente ambição de dominação global falam muito mais alto do que qualquer outro critério.
Com mais de 17.800 mortos e milhões de civis afetados, a guerra no Iêmen é o pior conflito do momento no mundo. Há quatro anos a Arábia Saudita e seus aliados vêm bombardeando diariamente o país com armas dos Estados Unidos e da Europa. Agora, o presidente Donald Trump aprovou o envio maciço de mais bombas ignorando o veto do Capitólio.
O envio maciço de armas dos EUA para a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos permitirá que esses dois países reforcem os bombardeios no Iêmen, que já causaram a morte de milhares de civis. A guerra, iniciada em 2015, trouxe outras consequências terríveis ao conjunto da população, como fomes e doenças, e nada indica que vá terminar a curto prazo.
Embora o Congresso e o Senado dos EUA tenham este ano aprovado uma resolução para suspender a assistência militar à Arábia Saudita, aos Emirados Árabes Unidos e aos demais aliados desses países, o presidente Donald Trump vetou de imediato essa resolução. O mal estar que existe no Capitólio é visível tanto nas fileiras republicanas como nas democratas, mas representantes e senadores não conseguiram deter a guerra.
Na sexta-feira, Trump fez apelo a uma “ameaça fundamental” do Irã para justificar a sua decisão de passar sobre o Capitólio enviando armas aos seus aliados no Oriente Médio. Os 8.100 milhões de dólares em bombas e outras armas permitirão que o príncipe Mohammad bin Salman possa prosseguir a sua dispendiosa experiência no Iêmen.
Não se pode esquecer que a “ameaça fundamental” a que Trump se refere tem a sua origem em Israel. De acordo com o Canal 13 da televisão hebraica, foi o Mossad que informou a CIA dessa ameaça iminente do Irã da qual nada mais é conhecido, mas que permitiu à administração Trump deslocar importantes reforços militares e 1.500 soldados adicionais para o Golfo Pérsico..
A equipe de assessores de Trump, encabeçada pelo Conselheiro de Segurança Nacional John Bolton, não para de tocar dia e noite os tambores de guerra. Embora se pretenda justificar as 22 remessas de armas que o presidente dos EUA vai enviar aos seus aliados como um passo para deter as inexistentes hostilidades de Teerã, na realidade elas serão usadas contra o Iêmen.
Curiosamente, no mesmo pacote vão armas para a Jordânia, outro país envolvido na iniciativa guerreira do Príncipe Bin Salman, mísseis de precisão no valor de 1 bilhão de dólares para os quais não é claro porque precisa deles a Jordânia, uma vez que este país não tem qualquer conflito com o Irã.
Ainda mais curioso é que Trump aprovou no mesmo pacote o envio de armas para o Reino Unido, França, Itália, Austrália e Espanha, sem que se saiba muito bem que tipo de ameaça representa o Irã para esses países. Parece que o Irã se converteu num grande negócio para a indústria armamentista dos EUA e da Europa, que estão vendendo armas em grande quantidade à Arábia Saudita e seus aliados, que depois as empregam no Iêmen.
O secretário de Estado, Mike Pompeo, que compete com Bolton na qualidade de amante das guerras e da desestabilização do Oriente Médio, notificou o Congresso de que o envio urgente de armas para a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos é justificado por uma “emergência” nacional. Em comunicado divulgado no mesmo dia, o Departamento de Estado falava cinicamente da “volatilidade na região”, algo que “preocupa os nossos principais aliados”.
Pompeo não ficou por aí, foi mais longe e denunciou que os Estados Unidos estão em perigo. O Irã não apenas “ameaça a estabilidade do Oriente Médio”, mas ameaça também a “segurança dos EUA” dentro e fora das fronteiras dos EUA. Naturalmente, congressistas e senadores protestaram contra a natureza dessas explicações.
O Irã tornou-se um grande negócio para a indústria de armas dos EUA e da Europa
Continuando na mesma linha, o Departamento de Estado disse que os Houthis iemenitas “causaram a morte de mais de 500 civis”. O Departamento de Estado não informou de onde tinha obtido esse número, nem se referiu aos milhares de civis mortos pelas bombas norte-americanas e europeias que os aviões da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos descarregam. Naturalmente, há vários senadores e congressistas que não veem as coisas como Pompeo. O senador Bob Menéndez acredita que a decisão de Trump de passar por cima do Capitólio é “um ataque contra as nossas responsabilidades constitucionais”.
Outros senadores e congressistas referiram que é ainda recente o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi no consulado saudita em Istambul, ocorrido no outono. Na verdade, o Senado aprovou uma resolução condenando o príncipe Bin Salman que, no entanto, está alcançando todos os seus objetivos graças aos seus poderosos aliados em Washington.
Embora os contínuos abusos dos direitos humanos naquele país, incluindo execuções em massa, tenham suscitado infindáveis receios no Capitólio, Bin Salman continua a comportar-se como se o Capitólio não existisse, graças ao apoio incondicional da Casa Branca e de Israel.
Um dos muitos senadores que se manifestaram contra o gigantesco envio de armas para a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos foi o democrata Chris Murphy, que assinalou que Trump sabe muito bem que não há qualquer situação de “emergência” que justifique “a venda de armas” aos sauditas para que sejam lançadas sobre o Iêmen, e que “fazer isso perpetua a crise humanitária” naquele país.