Centenas de apoiantes do Celtic Football Club, muitos dos quais organizados na Green Brigade [Brigada Verde], fizeram questão de mostrar a sua solidariedade com a Palestina e denunciar o apartheid israelita, durante o jogo que esta quarta-feira opôs, em Celtic Park (Glasgow), a equipa local ao clube israelita Hapoel Beer Sheva.
A mobilização para a acção solidária com a luta do povo palestiniano, demonstrativa da exigência do reconhecimento do Estado palestiniano e do repúdio pela opressão diária, o apartheid, o colonialismo que sofrem às mãos dos israelitas, foi organizada antecipadamente nas redes sociais, sob o lema «Fly the flag for Palestine, for Celtic, for Justice» [«Mostra uma bandeira pela Palestina, pelo Celtic, pela Justiça»], informam o Brasil de Fato e o 5Pillars.
No dia do jogo, antes do pontapé de saída, activistas do grupo Palestinian Alliance [Aliança Palestiniana] distribuíram bandeiras e panfletos informativos sobre a Nakba [Catástrofe], em 1948, que marcou o início da «limpeza étnica e da expulsão de milhões de palestinianos das suas terras», para dar lugar à criação do Estado sionista.
Os apoiantes do Celtic tinham sido avisados pelas autoridades escocesas que, se exibissem bandeiras da Palestina dentro do estádio, podiam ser detidos. Mas a solidariedade com o povo palestiniano falou mais alto e, tal como noutras ocasiões, os adeptos deste clube escocês, fundado por imigrantes irlandeses e com uma identidade muito ligada à luta de libertação do povo irlandês, mantiveram-se firmes perante as ameaças.
O Celtic poderá agora enfrentar um processo disciplinar por parte da UEFA e ser multado. A verificar-se, não é a primeira vez que o Celtic é sancionado pelo facto de os seus apoiantes se mostrarem solidários com a Palestina. Em 2014, enquanto Israel massacrava os palestinianos em Gaza – mais de 2000, na operação «Margem Protectora» –, os adeptos do Celtic mostraram bandeiras da Palestina no jogo contra o KR Reykjavik. O clube foi multado em 16 mil libras.
A política da UEFA
A UEFA proíbe a exibição de «mensagens políticas» nos seus jogos e recorre com frequência ao Art. 16 (2e) do Regulamento Disciplinar para punir os clubes pela exibição de bandeiras ou faixas. A bandeira da Palestina entra na categoria de «mensagem política» e vale punições pesadas – como de resto e a título de exemplo, também tem valido a da Catalunha.
No entanto, os critérios da UEFA têm os seus «quês». Basta lembrar que, quando os adeptos do Ajax exibiram uma grande bandeira de Israel – e já o fizeram mais que uma vez –, o artigo referido do regulamento disciplinar não foi aplicado ao clube de Amesterdão.
Questionado sobre estes «pesos e medidas», Mick Napier, da Campanha Escocesa de Solidariedade com a Palestina, disse ao 5Pillars que é «difícil entender as questões do lobbying», mas que «o posicionamento da UEFA se enquadra num contexto mais vasto de tentativas de criminalização do apoio aos palestinianos e ao movimento BDS [Boicote, Desinvestimento e Sanções]».