Para já, é preciso fazer alguns esclarecimentos:
.Os mussulmanos podem ser praticantes em diferentes graus, laicos ou ateus. O deus do dinheiro e o individualismo do capitalismo ganhárom espaço à espiritualidade, à toleráncia e à solidariedade.
.O islám compartilha posiçom com o judaísmo e o cristianismo sobre o local da criaçom para servirem à “quietude do homem” (Alcorám, 30:21), ou para “Adám nom ficar só” (Génese II: 18 e 22).
.O islamismo é um movimento político da extrema-direita sunita e xiita do islám, -tal como o nacional-catolicismo e o sionismo-, e utiliza os conceitos de família, mulher e comunidade para levar adiante umha agenda política ao serviço das classes privilegiadas.
.O véu -peça que cobre o cabelo, a cabeça e o pescoço da mulher-, é a bandeira política dessa força, independente da consciência de quem a veste.
.O tecido que levam sobre a cabeça milhons de mulheres, como as curdas, tajikas, paquistanesas ou senegalesas, complementa a sua indumentária: som um sinal de identidade étnica (como o sari ou o tul das ghashghaei) ou um sinal exterior da subordinaçom da mulher ao homem (Bíblia-Coríntios 11:1-10).
.O Alcorám (24, 59), desvincula o véu da fé e reza: “As mulheres que chegárom à menopausa nom cometem falta ao nom vestirem o véu sendo já adultas...”
.Pôr o véu às crianças a partir de sete ou oito anos significa que já podem casar, que já som mulheres. Isso quanto às obrigaçons, que nom aos direitos: por natureza, “padecem” doenças mentais incuráveis e, embora sejam doutoras em física nuclear, som tratadas por lei como menores de por vida, precisam a tutela e a permissom de um varom para trabalhar, estudar, viajar, dar entrada num hospital, casar, etc. Inclusive nom tenhem direito a serem tutoras dos seus próprios filhos. Todavia, os códigos penais religiosos som-lhes aplicados legalmente como pessoas adultas. A criança com o véu terá que deixar de jogar, pular, escalar, dançar ou largar umha gargalhada em público. Para os fundamentalistas, se umha garota tirasse o tule, convertia-se “numha qualquer”, “numha mulher pública”.
.Seria Sadiq Khan presidente da cámara de Londres se os mussulmanos estivessem obrigados a levar o véu?
.Umha vez que os integristas destruírom as conquistas feministas lá onde governárom, as mulheres reagírom e introduzírom mudanças no véu integral para nom perderem o espaço público. Por exemplo, acrescentárom-lhe mangas para poderem trabalhar, conduzir, estudar, etc. O burkini é umha inovaçom no enquadramento da segregaçom que rompe a proibiçom de se banhar mostrando a carne. Esta roupa está mais perto do bikini do que do burka, pois as mulheres e os homens recatados devem levar roupa larga para didsimular as suas curvas.
.O facto de que a mulher com burkini da praia de Nice, depois de ser assediada pola polícia, decidisse tirar a peça e mostrar os braços “nus” em troca de ficar na praia, manifesta a paranoia das autoridades do país. Desconhecem, além disso, o significado dos factos religiosos e sociais deste grupo de cidadaos. Iria atrever-se a polícia a arrancar o thobe ao xeque qatari Hamad Al Thani, dono da Al Jazeera (o canal porta-voz de Bin Laden e agora do Estado Islámico), e de várias instituiçons desportivas e bancos?
.O burkini continua a vincular o atuendo com a sexualizaçom do corpo da mulher. A força do alinhamento que refletem as palavras de sua inventora, Aheda Zanetti, assim o mostram: “Gosto de caminhar e ir atrás do meu marido, porque eu sou o motor e elegi ser. Quero que ele leve todos os méritos porque eu sou umha triunfadora silenciosa.” Eis as palavras de umha libanesa que vive na Austrália.
.O hábito das freiras é o farda de umha peculiar tropa espiritual -nom de todas as mulheres cristás- do império religioso dirigido polo Papa. Milhons de crianças e mulheres mussulmanas som forçadas polas autoridades do Estado ou da família a levarem o véu como mostra da sua obediência às normas em cuja redaçom nunca lhes foi permitido participarem.
O abraço de urso das forças progressistas
.O principal e o erro mais grave do veterano movimento feminista iraniano em 1979 foi justamente pensar que o tema da imposiçom do véu carecia de importáncia, enquanto a batalha teria que se centrar em defender a pátria de umha agressom militar dos EUA. Os defensores ocidentais* do véu (que nom vestem como suas avós e avôs vestiam) deveriam ler a história do feminismo de Oriente Próximo e deixar de falar da inexistente mulher mussulmana fora do espaço e do tempo. Sabem que o Irám, um país mussulmano, tinha em 1923 um ministro comunista e ativas organizaçons feministas? Sabem que em 1968 a doutora Farrojru Parsa dirigia a pasta de Ensino e Educaçom? Ou, entom, será que sabem que em 1974 houvo um Ministério para os Assuntos da Mulher, décadas antes do que no Estado espanhol?
.O “forte abraço do urso” dos islamólogos-laicos-progressistas-europeus às mussulmanas que, desde a sua esquizofrenia ideológica, o desconhecimento ou o afam de manterem os seus postos de especialistas nos centros de poder, identificam centenas de milhons de cidadaos dos países mussulmanos com esta temível minoria de direita extrema, fanática e obscurantista.
.A liberdade de eleiçom nom tem em conta os complexos mecanismos de domínio e coaçom, refletidos no livro Meu marido bate-me, o normal. As mulheres que nom podem ser casadas sem a assinatura do seu tutor varom, que liberdade de eleiçom podem ter? Algumas feministas defendem o burka, peça de roupa obscena, perigosa e humilhante que converte a mulher num vulto sem identidade, além de lhe provocar numerosas doenças capilares e de visom, já que a peça “dissimula as atividades proibidas das ativistas”.
.“O tamanho 34 asfixia como o véu” afirmam, querendo denunciar a tirania da moda, como se nos países mussulmanos nom existisse a moda, ou o que é pior, a cirurgia estética plástica. Em nengumha parte do planeta se tem flagelado, multado ou encarcerado nengumha mulher por nom levar o tamanho 34, mas sim aquela que se negou a cobrir com o véu. A sudanesa Lubna foi condenada a 40 chicotadas, nom por vestir bikini, mas por levar calças.
.Dizem: “Obrigar as mulheres a tirarem o véu é o mesmo que as obrigar a o levarem”. Em nengum país do mundo acontece o primeiro.
.Despolitiza-se a ausência de muitos direitos das mulheres mussulmanas, vinculando-a com estéreis debates sobre sua cultura e religião.
.Os estados intervenhem no modo de vestir dos cidadaos. Em Barcelona som multados os homens que andam com o dorso nu e na Alemanha quem veste determinadas fardas.
.Proibi-lo? Paralelo a outras medidas económicas, sociais e educativas, teriam que se proibir atos como a pedofilia, que inclui casar e violar a crianças-esposas de dez ou onze anos; o maltrato às pessoas e animais; ou que uns pais podam deixar morrer a um filho porque “a transfusom de sangue é um pecado”.
.O véu deveria ser proibido nos colégios primários e autorizado nos institutos, sempre que acompanhado por debates abertos dirigidos polo pessoal instruído.
Nesta tremenda guerra sobre o corpo da mulher, nom serve nengum tipo de oportunismo.
*“espanhóis” no original, dirigido ao público desse Estado.