Vem a rememoração a propósito das visitas de Obama no final do mês passado à Arábia Saudita, ao Reino Unido e à Alemanha. A sua deslocação ao Oriente Médio resumiu-se à participação na Cimeira do Conselho de Cooperação do Golfo, a estrutura de coordenação das petro-monarquias da região envolvidas no apoio ao terrorismo, desestabilização e guerras de agressão na região e a uma reunião com o príncipe herdeiro do emirado Abu Dhabi e segundo comandante do exército dos Emirados Árabes Unidos para discutir o Iêmen, a Líbia e o Iraque.
A visita ao Reino Unido e à Alemanha foi particularmente elucidativa daquelas que são algumas das suas prioridades. A visita foi precedida de um pedido ao Congresso de uma dotação orçamental suplementar para reforçar a presença militar da Otan no Leste europeu e báltico. Mais 3,4 bilhões de dólares que quadruplicam o orçamento da Otan na frente Leste. Mas o Prêmio Nobel foi mais longe. Não basta o "esforço" dos EUA. Os "aliados" têm que deixar de ser "complacentes com a sua própria defesa", aumentar os seus gastos militares e colaborar nas diversas frentes de guerra, no enfrentamento com a Federação Russa, no "combate ao jihadismo". Síria, Líbia, Iraque, Afeganistão, Rússia, ciber-segurança, migrações, escudo antimíssil foram algumas das frentes em que Obama quer ver mais ação dos "parceiros europeus". Pelo meio elogiou o acordo UE-Turquia e a ação militar da Otan no Mar Egeu contra os refugiados. Seria difícil um discurso mais militarista, um prenúncio do que será a próxima vinda de Obama à Europa para participar na Cimeira da Otan em Varsóvia.
Mas nem só de guerra veio Obama falar. Os elementos de desagregação da União Europeia preocupam a grande potência do eixo transatlântico. Obama não deixou margem para dúvidas sobre como vê e para que serve a União Europeia. Os EUA "precisam de uma Europa forte, unida e próspera" (...) "uma Europa unida, liberal, pluralista e de livre mercado" que "não pode duvidar de si própria". A mensagem tinha destinatário: Reino Unido. Aí interferiu direta e grosseiramente na campanha do referendo britânico. Juntou-se ao coro de chantagens do FMI, da OCDE e da União Europeia. Desenhou, como outros, o cenário de catástrofe caso o povo britânico se decida pela saída e, sem qualquer pudor, afirmou que os EUA "precisam que a vossa [do Reino Unido] grande influência continue – incluindo dentro da Europa". Caso contrário "vão para o fim da fila" em termos de acordos comerciais com os EUA.
E de fato os EUA precisam da UE do grande capital. Nomeadamente para negociar o TTIP, o ponto forte da agenda de Obama na visita à Alemanha da sua "grande amiga" Merkel. Um acordo que, como as recentes revelações vêm comprovar, representa um mega atentado a direitos laborais e sociais, à saúde publica e alimentar e aos aparelhos produtivos e soberania dos estados. Um atentado e uma imposição do "grande irmão" que o "democrático" e "progressista" Obama defende com unhas e dentes, chantageando inclusive os seus "amigos" europeus.
Se há coisa que fica clara nestas visitas, uma é que Obama é, passados dois mandatos, um presidente norte-americano igual na essência aos seus antecessores; a outra é que a União Europeia é um processo de natureza imperialista. E é por isso que Obama veio à Europa defendê-lo com todas as suas forças.