Com mais de 80 anos, François Chesnais, professor de Economia da Universidade de Paris 13, é uma das vozes mais críticas do neoliberalismo e uma das principais referências no estudo do capital financeiro. No Brasil para divulgar sua nova obra, Finance Capital Today: Corporations and Banks in the Lasting Global Slump [Capital Financeiro na Atualidade: Corporações e Bancos na Crise Global Duradoura, sem edição em português], apresentou um diagnóstico dramático: “estamos caminhando para a barbárie”.
Chesnais, que também é membro do Novo Partido Anticapitalista francês, fez sua análise em palestra proferida na Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP nesta terça-feira (18). Nela, fundamentou sua leitura em uma hipótese: “o capitalismo pode estar encontrando seu limite histórico em uma nova forma, mais perigosa”.
O ponto de partida do economista é a crise financeira de 2007 e 2008. Para ele, as origens históricas da financeirização se encontram nas décadas de 1940 e 1950, se intensificando na década de 60. A prevalência sistêmica do capital financeiro, entretanto, se deu apenas na década de 80.
Crise financeira
Tal como Marx, Chesnais acredita que as crises financeiras são oriundas de aspectos relacionadas à produção: excesso de capital incapaz de ser reinvestido no setor produtivo. “Para Marx, crises na esfera do crédito e das finanças são 'parte integral' das crises de superprodução e superacumulação”, cita ele.
“Em um sistema de produção onde toda a interconexão do processo de reprodução se baseia no crédito, uma crise ocorre se o crédito é retirado repentinamente e somente o pagamento em dinheiro é aceito”, explica. Tais crises se dariam, portanto, pela tendência do capital fictício se descolar da realidade da produção.
Na história do pensamento econômico, não é a primeira vez que a perspectiva de que o capitalismo estaria próximo ao seu fim se apresenta no ramo do pensamento econômico crítico. Um desses momentos foi a crise de 1929, ocasionada pela quebra da bolsa de valores de Nova Iorque.
Novidade
Chesnais, entretanto, afirma que há diferenças importantes entre 2008 e 1929. “A crise atual foi muito diferente da crise de 1929, na qual houve uma destruição importante de capital fictício e produtivo, que se deu ao longo da Segunda Guerra”, indica. “A intervenção dos Bancos Centrais deteve parcialmente o curso da crise [de 2008], com uma destruição lenta, limitada e desigual da capacidade produtiva e uma destruição limitada e temporária do capital fictício”, complementa.
Nessa linha, o teórico segue as principais avaliações históricas de como o capitalismo supera crises estruturais: a expansão do mercado mundial, a destruição de grandes parcelas de meios de produção através de guerras mundiais e inovações tecnológicas que transformam profundamente a produção, como o caso do desenvolvimento da indústria automobilística a partir da década de 1950. Tais fatores permitem que o capital excedente seja investido em novas frentes produtivas.
Alternativa
O capitalismo, segundo Chesnais, não tem apresentado alternativas em nenhuma dessas frentes. “Desde o ingresso da China na OMC, em 2001, o mercado mundial foi finalmente alcançado. As superpotências não parecem estar se preparando para um nova guerra mundial. Esse recurso está excluído, ainda que de forma não definitiva. Por último, hoje, as novas tecnologias são voltadas para mudança de métodos em indústrias já existentes”.
Paradoxalmante, como aponta Chesnais, o poder econômico e político do capital financeiro tem aumentado. De outro lado, internacionalmente, o poder da classe trabalhadora vem sendo enfraquecido.
“Não houve alterações na relação entre capital e trabalho e entre capital e governos que apontem mudanças como as propostas por [Thomas] Piketty [economista que defende o aumento da tributação sobre riquezas] . É preciso reconhecer o momento histórico e achar meios precisos de combate para cada dimensão da crise”, finaliza o economista.
Edição: José Eduardo Bernardes