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Diário Liberdade
Quarta, 23 Novembro 2016 14:31 Última modificação em Sábado, 26 Novembro 2016 14:19

O fascismo: um movimento para aniquilar as organizações operárias

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/ Antifascismo e anti-racismo / Fonte: Causa Operária

Após o golpe, e, necessariamente, antes deste, o fascismo e os movimentos de extrema-direita crescem no Brasil e no mundo. A gigantesca confusão que é gerada por esses movimentos coloca a pergunta: o que é e o que não é fascismo?

Nesta série de três artigos, serão discutidos o mesmo número de temas: primeiro, o que é o movimento fascista e suas raízes sociais; um segundo dirá qual é a ideologia do movimento fascista e o que é a organização fascista; e, finalmente, um artigo sobre o fascismo nos dias de hoje. Sem mais delongas, ao assunto.

O fascismo surgiu pela primeira vez na Itália. O movimento fascista surge em meio à Primeira Guerra Mundial, a partir de um racha do Partido Socialista Italiano (PSI), um partido reformista, que abandonou a ideologia marxista por uma política de “reformar” o capitalismo. Benito Mussolini, recém-saído do PSI, fundou os fasci di combattimento, o embrião do Partido Nacional Fascista.

A situação política e econômica na Itália era instável, para dizer o mínimo. A participação da Itália na Primeira Guerra Mundial levou o país à beira da falência, além de matar e mutilar centenas de milhares. As contradições eram imensas. A burguesia organizou uma guerra por territórios e mercados, e quem foi lutar foram os trabalhadores, que nada tinham a ganhar. Para justificar o enorme esforço de guerra, uma forte campanha nacionalista, por parte das burguesias, surgiu em todos os países envolvidos. Os fascistas saíram como os principais defensores do nacionalismo e da guerra, e o movimento se mostrou uma alternativa para a burguesia.

Após a guerra, a crise social apenas aumentou. Em 1917, aconteceu a Revolução de Outubro, que levou o proletariado ao poder pela primeira vez, mudando o cenário político. A guerra mundial, a fome e a destruição colocaram o movimento operário na defensiva, mas a república dos sovietes deu força ao proletariado mundial.

Na Itália, o movimento operário começou a ganhar força novamente. Surge o Partido Comunista, e a tensão é sucedida por grandes greves. Na Alemanha, a Liga Espartaquista, predecessora do Partido Comunista Alemão, começa uma revolução que é derrotada, onde morrem Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht.

A situação era volátil. Na Itália, a classe trabalhadora também se preparava para uma tomada do poder. O movimento operário ganhava força e o fascismo também crescia, mas em velocidades muito diferentes. Em 1920 começou uma onda de greves com ocupações de fábrica, um levante de caráter revolucionário, e as forças de repressão já não conseguiam mais parar as greves e nem o fascismo. Mas a força maior naquele movimento era o PSI, que coloca um freio às mobilizações. Lentamente o movimento começa a refluir, uma derrota estava sendo imposta pelas direções do movimento operário.

A burguesia, vendo a derrota do movimento, começa a considerar uma contrarrevolução, a tomada do poder pelo fascismo. De 1920 a 1922, a história italiana é marcada por um crescimento vertiginoso do fascismo, crescimento tradicional de movimentos apoiados pela grande burguesia. As esquadras fascistas estavam sendo usadas para atacar o movimento operário, e a esquerda cedia mais espaço ao fascismo, não achava possível que este chegasse ao poder, muito como no golpe que ocorreu no Brasil em 2016.

Finalmente, o fascismo chegou ao poder em 1922. Terminamos, assim, uma brevíssima história do fascismo italiano, para ilustrar a análise que faremos a seguir. Uma análise sobre o governo fascista será feita no próximo texto da série.

O fascismo é um movimento de massas contrarrevolucionário. Mas no que implica essa afirmação?

Em seus primórdios, é necessário dizer que, diferentemente da direita tradicional, o fascismo criou uma militância e uma organização de massas para atacar o movimento operário. Que setores compõem o fascismo? A burguesia naturalmente domina o movimento, mas ela não tem número para um movimento de massas, então o fascismo cresce entre a pequena-burguesia, as classes médias. Dentro do Partido Fascista de Mussolini havia muitos estudantes, funcionários do estado, advogados, médicos, membros do judiciário e, principalmente, funcionários da repressão e das forças armadas. Mas a pequena-burguesia não é a única que simpatiza com o fascismo. Por causa da intensa demagogia social do fascismo, ele atrai para dentro do movimento um setor da classe trabalhadora desesperado e desmoralizado, o chamado lumpemproletariado. Esses são os desempregados e, com eles, os criminosos e foras-da-lei de todo o tipo, um setor atrasado ligado à classe operária, que vê no fascista uma saída para a sua situação desesperada. Mas isso não dá um caráter “lumpemproletário” ao fascismo. Ele, em primeiro lugar e em muito maior número, organiza a pequena-burguesia. O fascismo é, sem dúvida, um movimento burguês.

Quando surge o fascismo?

O fascismo já existe na sociedade, existem grupos fascistas de vários tipos e tamanhos (o último texto explicará mais sobre esses grupos), mas as maneiras como ele se desenvolve são muito importantes. O fascismo surgiu de um acirramento da luta entre as classes, foi se desenvolvendo e se enfrentando com a classe operária. Ele cresce com a crise social, mas, ao contrário do que pensam, não cresce para sufocar um levante revolucionário. O fascismo chegou ao poder depois de os trabalhadores da Itália terem sido derrotados, então, nesse sentido, o fascismo foi uma arma solidificar uma vitória sobre o povo. O principal alvo do fascismo são os partidos da democracia burguesa, e não os da revolução. Por isso que ele surge e se desenvolve na luta dos partidos de direita contra partidos democráticos burgueses como o PT, tal como vemos hoje.

O que fazem os fascistas? E por que fascistas e não militares?

O fascismo organiza milícias de capangas para mandar atacar os sindicatos, espancar trabalhadores, quebrar greves na força. Os fascistas começam uma campanha de terror contra a esquerda, invadem sindicatos, centros acadêmicos, numa tentativa de expulsar os movimentos políticos do cenário político. Então por que não usar o exército? O exército, em situações em que a burguesia está cogitando o fascismo, entra em cena dividido, não há coesão dentro das forças armadas para realizar o golpe sozinho. O fascismo reúne uma milícia coesa ideologicamente, que não teme represálias do Estado para atacar os movimentos operários. Na Itália, os fascistas reuniram-se com pedaços de madeira, facas e armas para atacar o movimento operário, tudo isso fundamentado num movimento de massas gigantesco: o Partido Fascista chegou a ter 6 milhões de filiados. A milícia fascista, por questões de coesão política e ideológica, tem mais condições de enfrentar o movimento operário.

Fascismo é um movimento de massas construído pela burguesia, com o objetivo de acabar com a democracia operária, suprimir não só os sindicatos, mas as organizações de caráter popular também. Portanto, é necessário haver uma organização e uma ideologia que justifiquem essa barbárie (tema do nosso próximo texto).

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