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Diário Liberdade
Domingo, 29 Janeiro 2017 22:31 Última modificação em Segunda, 30 Janeiro 2017 18:42

Trump e a frustração da estrutura de poder no Brasil

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Roberto Bitencourt da Silva

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O desespero de parte da estrutura de poder no Brasil com a ascensão do neofascista Donald Trump, à presidência dos Estados Unidos, está beirando o cômico.


Fazendeirões, como Ronaldo Caiado, multinacionais – sob as capas da Fiesp e da Firjan –, conglomerados de mídia e bancos, todos os principais pilares da dominação do grande capital no Brasil apoiaram a ilegítima destituição da presidente Dilma Rousseff (PT).

O grosso das oligarquias políticas, igualmente. Todos manipulando preconceitos e estigmas reacionários e pretensamente moralistas, entre as frações mais altas dos trabalhadores e, sobretudo, entre segmentos da pequena burguesia. Um golpismo galopante e, até há pouco, bastante exitoso.

Todo esse conjunto de lambe botas dos gringos deu o golpe na Constituição e no voto popular. Com o espúrio Michel Temer (PMDB) à frente do novo governo, contribuiu para submeter, desavergonhadamente, a política externa brasileira aos EUA.​

Com isso, os agentes golpistas no governo e na sociedade civil esculhambaram meio mundo. Particularmente países do Sul global e, mais ainda, de nuestra América Latina. Comprometeram-se em entregar as riquezas naturais e energéticas para os gringos. Tudo em sintonia com o neoliberalismo “simpático” dos democratas de Barack Obama.

Contudo, o inusitado aconteceu. Trump ganhou a eleição, assumiu como presidente, prometendo medidas protecionistas, que inibem diretamente as exportações brasileiras para os EUA.

Agora, fica a pergunta: esses vende pátria fantasiados com a camisa da CBF vão vender o seu farelo de soja, a sua laranja, o seu açúcar, o seu café, para quem?!

Nesse domingo, li em O Globo matéria abordando interesse do governo golpista em fazer negócios com Cuba (1). Não surpreende. Produtor exclusivo de bens primários, o principal mercado externo para o sistema produtivo do país é o 3o mundo. Especialmente em eventual cenário de restrições impostas para o acesso ao mercado estadunidense.

A estrutura de poder brasileira sabe muito bem disso. Por isso apostou em Hillary. Não é gratuito o desespero manifestado pelas Organizações Globo. São recorrentes as críticas feitas por elas a Trump. Ingênuos seríamos acreditar que se tratam de preocupações de sabor humanista, com a condição dos imigrantes nos Estados Unidos.

Quem criminaliza a pobreza e incentiva uma atuação policial repressiva e abertamente desumanizante e violadora dos direitos humanos no Brasil, em especial nas comunidades faveladas, nenhuma credibilidade possui para reverberar preocupações com os direitos humanos em outras praças nacionais.

O que norteia a Globo, como um dos intelectuais orgânicos e propagandistas das classes dominantes no Brasil, são os negócios. E com Trump a coisa tende a ficar difícil para os exportadores brasileiros; anunciantes da Globo. Reitero: vão escoar a produção para onde?

As frações colonizadas, teleguiadas e analfabetas políticas da pequena burguesia e dos estratos altos dos trabalhadores é que não sabem o país em que vivem. As vicissitudes e o perfil subalterno de inserção do Brasil na divisão internacional do trabalho. Talvez aprendam agora. Na marra. Oxalá contribuíssem para mudar tal perfil.

Roberto Bitencourt da Silva – historiador e cientista político.

(1) O Globo, “Governo Temer ensaia aproximação com Cuba”, 29/01/2017. Disponível em: http://oglobo.globo.com/economia/governo-temer-ensaia-aproximacao-com-cuba-20840280?utm_source=Facebook&utm_medium=Social&utm_campaign=O+Globo 

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