Publicidade

Diário Liberdade
Quarta, 01 Fevereiro 2017 15:37

O duplo padrão das manifestações nos Estados Unidos

Avalie este item
(1 Voto)
Ilka Oliva Corado

Clica na imagem para ver o perfil e outros textos do autor ou autora

Temos visto como multidões nos Estados Unidos têm tomado as ruas desde que Trump tomou posse como presidente do país, e isso é excelente. No entanto, não podemos ser ingênuos e acreditar que tudo aquilo é dignidade e inconformismo com as políticas de Trump e que a sociedade de um dia para outro despertou e se conscientizou dos valores humanos. Porque nos Estados Unidos seguem existindo cidadãos de quinta categoria ainda para os manifestantes que clamam por justiça social, equidade e humanidade.


Este caos teria sido evitado se pelo menos nos últimos 20 anos a sociedade estadunidense tivesse resistido a Bill Clinton, Bush e Obama. Porque são tão Tump como Hillary Clinton, a diferença é que Trump é narcisista e lhe fascina ostentar seu poder caucasiano desde o machismo patriarcal. Não há nada de novo em sua política, a única coisa é que ele fala em voz alta.

Surge uma pergunta: por que essas multidões que têm tomado os aeroportos do país, defendendo os direitos dos imigrantes e refugiados muçulmanos dos sete países vetados por Trump não saíram a manifestar da mesma forma quando Obama os bombardeou? Por acaso as vidas de quem hoje é refugiado e imigrante não valiam o mesmo quando estavam em seu país de origem?

Qual é a diferença agora? Por que ficaram em silêncio quando Bush invadiu o Iraque? Por que ficam em silêncio agora com a invasão da Síria? Todas aquelas pessoas feministas que foram à Marcha das Mulheres, por que não saíram a manifestar pelas invasões que implementava Obama, quando soldados estadunidenses violavam crianças, adolescentes e mulheres? De que se trata esse feminismo? Por acaso é territorial e de moral dupla?

Por que as massas mundiais que saíram a manifestar na Marcha das Mulheres não o fizeram quando Obama assinou o Decreto contra a Venezuela? Porque esse decreto deixa muito claro que os Estados Unidos podem bombardear a Venezuela a qualquer momento se considera o país um perigo para os EUA. Quando assassinou Gaddafi e invadiu a Líbia buscando terminar com a Primavera Árabe? Soldados estadunidenses violaram mais de 100 meninas colombianas – saíram as feministas para se manifestar? Obama buscou exterminar a Somália (onde estavam as massas mundiais se manifestando?). Esses sete países muçulmanos invadidos, saqueados e fulminados por Obama... Onde estavam as massas mundiais se manifestando?

E, falando propriamente de imigrantes e refugiados, Obama deportou mais de dois milhões e meio de indocumentados latino-americanos. Onde estavam as massas que tomaram os aeroportos nos últimos dias, se manifestando para exigir um cessamento nas deportações, assim como estão fazendo agora com os imigrantes e refugiados muçulmanos?

Obama criou o Plano Aliança para a Prosperidade e o Maya-Chortí, que autoriza a polícia e o exército dos países envolvidos a abusar, desaparecer e assassinar os imigrantes latino-americanos em trânsito. O que dizem as massas estadunidenses sobre isso, as mesmas massas que clamam pelo fim do veto de Trump contra os imigrantes dos países muçulmanos?

Obama prendeu diariamente 1.600 imigrantes indocumentados para serem deportados imediatamente para a América Latina, onde estavam as massas se manifestando? Trump acaba de assinar uma Órdem Executiva que dá continuidade às políticas anti-imigrantes latino-americanos que tinha Obama e se soma à criminalização de quem entrou de forma indocumentada. Onde estão as massas protestando pelo fim dessa Ação Executiva, assim como clamam pelo fim da dirigida contra os muçulmanos? Não somos por acaso todos iguais como seres humanos, acaso não temos todos os mesmos direitos? Ou virá a dupla moral com aquele papo de “é que eles entraram sem documentos”? Onde estão as massas pedindo que Trump derrogue essa Ação Executiva?

Isso demonstra com clareza que os imigrantes latino-americanos indocumentados, que são refugiados também, porque saem fugindo de seus países de origem pela violência institucionalizada, pela fome e a miséria e pela falta de oportunidades, são cidadãos de quinta categoria inclusive para o mais humano dos que se vestem de dignidade nas manifestações dos últimos dias nos aeroportos.

Não ganham nem o salário mínimo e não têm direitos trabalhistas nem de saúde e educação – onde estão as massas se manifestando? Seguirão as deportações massivas de indocumentados? Onde estão os notórios “sonhadores” se manifestando? Ou será por que já têm permissão de trabalho que se esquecem de onde vêm e quem são os seus?

Os Estados Unidos têm mais de 36 bases militares instaladas na América Latina. Onde estão as massas exigindo o fim da ingerência de seu país nos outros povos?

Onde estão as massas, que agora se vestem de dignidade, pedindo um fim ao bloqueio que os Estados Unidos impõem a Cuba? Onde estão exigindo que devolvam Guantánamo?

Em 2016 morreram 170 negros nas mãos da polícia estadunidense (saíram as massas para se manifestar?). Nos centros de detenção da fronteira, agentes da Patrulha Fronteiriça têm abusado sexualmente de meninos, meninas, adolescentes e mulheres (quais massas saíram para se manifestar?). Na fronteira, grupos de civis anti-imigrantes saem para a caçada a disparar contra indocumentados que estão buscando cruzar a fronteira (onde estão as massas se manifestando exigindo justiça diante de semelhante atrocidade?).

Trump autorizou a continuidade da construção do oleoduto em Dakota (como fez Obama). O governo também autorizou que a polícia atire contra nativos dos povos originários que estão se manifestando, defendendo suas terras e a água de seus rios. Onde estão as massas da Marcha das Mulheres, e os que tomaram os aeroportos, manifestando para que a polícia respeite os povos originários e suas terras e rios? Quanto vale a vida de um nativo para um cidadão comum, descendente de imigrantes, neste país, que agora se veste de dignidade e tira fotos nas manifestações para postar nas redes sociais?

É para analisar, e detalhadamente, esta situação das manifestações. Quem as organiza e as está financiando? De que valores e direitos falam? O que é a equidade, a justiça social e igual para eles? Qual é a diferença entre um cidadão de primeira e de quinta categoria para eles? O que converte uns imigrantes em refugiados e outros em criminosos?

E como não se trata de atirar a pedra e esconder a mão, sabemos como está o sistema de imigração em nossos países de origem? Que tratamento damos aos imigrantes indocumentados? Estamos fazendo alguma coisa como cidadãos para que sua situação mude, ou somente somos bons para criticar os Estados Unidos e sua sociedade?

Tradução do Diário Liberdade

Diário Liberdade é um projeto sem fins lucrativos, mas cuja atividade gera uns gastos fixos importantes em hosting, domínios, manutençom e programaçom. Com a tua ajuda, poderemos manter o projeto livre e fazê-lo crescer em conteúdos e funcionalidades.

Doaçom de valor livre:

Microdoaçom de 3 euro:

Adicionar comentário

Diário Liberdade defende a discussom política livre, aberta e fraterna entre as pessoas e as correntes que fam parte da esquerda revolucionária. Porém, nestas páginas nom tenhem cabimento o ataque às entidades ou às pessoas nem o insulto como alegados argumentos. Os comentários serám geridos e, no seu caso, eliminados, consoante esses critérios.
Aviso sobre Dados Pessoais: De conformidade com o estabelecido na Lei Orgánica 15/1999 de Proteçom de Dados de Caráter Pessoal, enviando o teu email estás conforme com a inclusom dos teus dados num arquivo da titularidade da AC Diário Liberdade. O fim desse arquivo é possibilitar a adequada gestom dos comentários. Possues os direitos de acesso, cancelamento, retificaçom e oposiçom desses dados, e podes exercé-los escrevendo para diarioliberdade@gmail.com, indicando no assunto do email "LOPD - Comentários".

Código de segurança
Atualizar

Quem somos | Info legal | Publicidade | Copyleft © 2010 Diário Liberdade.

Contacto: diarioliberdade [arroba] gmail.com | Telf: (+34) 717714759

O Diário Liberdade utiliza cookies para o melhor funcionamento do portal.

O uso deste site implica a aceitaçom do uso das ditas cookies. Podes obter mais informaçom aqui

Aceitar